A verdade é que os domingos são uma merda desde que eu era puto. Um garoto como eu, em crescimento durante os anos 80 do século XX, só possuía ao seu dispor, nos fins-de-semana, um único tipo de diversão: futebol. Exacto: dantes não existiam computadores, nem internets, nem playstations, nem i-pods, não havia nada. Se nos queríamos divertir, a actividade mais à mão, mais ao pé e mais capaz de nos proporcionar prazer era, sem dúvida, não a masturbação mas sim o pontapé na bola. Quando chegava o fim-de-semana, então, era o desvario: a malta tomava o pequeno-almoço, via meia hora de desenhos animados, ia para a rua jogar futebol até à hora do almoço, vinha a casa, almoçava, voltava para a rua e mandava mais uns pontapés, que se lixasse a digestão, aí pelas 4-5 horas fazia um intervalo para lanchar e depois regressava à rua de modo a completar mais um joguinho até escurecer.
Este era o “horário de trabalho” de um puto digno desse nome nos anos 80. Sábados e domingos eram, utopicamente, dias dedicados em exclusivo ao aperfeiçoamento da arte do gioco del calcio. Pelo menos, era isto o que dizia a teoria, pois havia um pequeníssimo senão: os domingos. Mais especificamente, as manhãs de domingo.
Ora, o que havia nessas manhãs para impedir 10, 15 ou mesmo 20 petizes de dar o seu contributo valioso em prol do desporto amador? Numa simples palavra de seis letras, isto: I-G-R-E-J-A! Pois é: as manhãs de domingo eram momentos reservados ao culto religioso, e todos os moços lá do bairro tinham de cumprir com o dever de acompanhar pais, irmãos, primos, vizinhos, professores e sei lá mais quem na ida à igreja, o que arruinava inevitavelmente não só essa altura do dia como, também, tornava o resto do domingo em algo para esquecer (sim, porque não era possível jogar futebol em condições depois de uma missa. Como é que se podia mandar uma cacetada no Cajó, que jogava na outra equipa, depois de ouvirmos o padre apelar ao amor ao próximo?!?!).
Assim, devido às idas à missa, os domingos eram para mim um autêntico suplício, eram sinónimo de tempo desperdiçado. Tratava-se de um verdadeiro atentado ao bem-estar dos jovens: primeiro, era-lhes dado um fim-de-semana que constava de dois dias, mas desses dois, retirava-se-lhes um. Bela treta, não?! Não admira, pois, que eu me tenha revoltado! Comecei por odiar os domingos e, aí por volta dos 12 anos, cometi a derradeira subversão: tornei-me ateu! Igreja aos domingos de manhã, uma ova! Eu não acreditaria num Deus, supostamente um Deus do amor, que me impedisse – a mim e ao resto do pessoal – de chutar prazenteiramente um esférico. Que se lixasse a salvação eterna, o paraíso, a eternidade junto dos acólitos do Senhor… eu queria era jogar à bola aos domingos, e não seriam dois mil anos de cristianismo que iriam impedir-me.
Por uns tempos, esta minha decisão deu os seus frutos. Consegui escapar ao jugo da religião e arrastei comigo muitos outros à custa do esquema seguinte:
(Domingo de manhã, em casa)
Pais do Tanis: Vá, veste-te, está na hora de irmos para a igreja.
Tanis: Não vou, sou ateu!
Pais do Tanis: O QUÊ?!?!?! Vê lá se queres apanhar!
Tanis: Vocês querem fazer de mim um mártir do ateísmo! Já disse que não vou à igreja!
Pais do Tanis: Ai é? Olha, tu é que sabes. Se depois fores parar ao inferno, não te queixes.
Tanis: Quero lá saber, vou é para a rua jogar à bola.
(Na rua)
Amigos do Tanis: Então, Tanis? O que estás aqui a fazer com uma bola? Não vais à missa?
Tanis: Eu não! Tornei-me ateu, agora posso ficar a jogar futebol durante o domingo todo!
Amigos do Tanis: Ihhhh, que fixe!!! Também queremos!!!
Durante uns anos, esta “doutrinação” resultou às mil maravilhas. A afluência de jovens entre os 11 e os 25 anos diminuiu consideravelmente lá no bairro, muito por minha culpa (certos padrecos até já viam em mim a figura do Anti-Cristo. São uns bajuladores, estes homens de batina…). O problema é que, infelizmente, a malta envelhece e, ao envelhecer, esquece as suas convicções de juventude, assim tipo a Zita Seabra ou o Pacheco Pereira, que nunca jogaram à bola na vida. Os meus companheiros de futebol cresceram, tal como eu, mas, ao contrário de mim, começaram a constituir família e a ter filhos… e isto levou a que readoptassem velhos hábitos, entre os quais o mais nefasto de todos:
(Domingo de manhã, no bairro. Tanis está na rua com uma bola debaixo do braço)
Tanis: Então, malta? ‘Bora jogar?
Amigos do Tanis: Porra, Tanis? Estás parvo? Sabes que dia é hoje? Hoje é domingo!
Tanis: Sim, e daí?
Amigos do Tanis: Daí que temos de levar a família à missa, caraças! Vê lá se cresces!!!
(Tanis, desiludido, volta para casa e vai navegar na internet em busca de sites porno)
E pronto, por causa disto, lá se foi o futebol outra vez! Odeio domingos, porra!!!!
Tanis
3 comentários:
Ah pois é! Bom, eu não sofria desse problema, nunca me obrigaram a essa cena de ir á missa! Qdo ia fazia-o por vontade pp (ou seja nunca)! Tb não jogava á bola portanto n compreendo a tua angustia!
Agora há aqui um pormenor que me parece chato: privar a familia para ir jogar á bola não me parece lá mt bem!!!! :))))
Há quem tivesse passado por outras "angústias"!!
Domingo de manhã: dia de lavar a casa de banho...Aquilo é que era curtir...era a melhor sessão terapêutica anti stress que se podia arranjar na altura. Na altura de esfregar a banheira, os gajos que não me ligavam peva, nem sabiam as arranhadelas que levavam...E a perícia de ter de detectar qual o detergente mais eficaz? O que para uma garota de 12 - 14 já constituia uma responsabilidade de mulherzinha. Fiquei-me pelo Cif, ao que ainda hoje sou fiel.
Quanto às tardes... já vi que o Peter não é rapaz para a altura do Bonança!!!Teria falado nisso seguramente. Podia-se lá perder o Bonança ??
Tenho de ir...noutra altura revelo as fantasias me que suscitava o Bonança e a sua prole...
mj
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Boas sugestões de Domingo
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