Chegado ao consultório, retirei a senha com a minha vez, e esperei. Não esperei muito, porque uma das enfermeiras chegou-se junto de mim para me informar, algo antipaticamente, disto: "ó artolas, tem de colocar o boletim, a senha e o cartão dentro desse plástico e aguardar, seu estúpido!". Apeteceu-me mandá-la levar uma vacina no esfíncter, mas lá me calei e fiz o que a tipa disse. Cinco minutos depois, fui chamado a entrar num pequeno gabinete: estava lá a mesma enfermeira, uma outra com sotaque de leste e outra ainda que não deu para perceber de onde era nem o que ali fazia, pois limitou-se a ficar de pé a olhar para mim enquanto eu era atendido. Mandaram-me sentar numa periclitante cadeira, e quando o fiz a enfermeira de leste lançou-se quase de imediato ao meu braço esquerdo, mas defendi-me estoicamente! "Não, não e não", exclamei, e a tipa olhou para mim de lado, como quem pensasse "bem, atina-te ou chamo a máfia russa e eles dão-te a injecção noutro lado". Acrescentei que era canhoto, e portanto convinha que me dessem a pica no braço direito. Ao ouvir isto, a enfermeira antipática riu-se e respondeu-me "seu tolinho, a vacina será dada no ombro", o que sinceramente é uma resposta idiota e nada a ver, tipo as do Pedro Santana Lopes à comunicação social. Como me mostrava intransigente, a enfermeira de leste lá me picou o ombro direito, pôs-me um penso e ala que se faz tarde: levantei-me, peguei nas minhas coisas e desandei dali para fora.
Foi à saída que compreendi melhor o porquê de toda esta situação. As enfermeiras não me conheciam, eu não as conhecia, não havia entre nós uma relação interpessoal. Ora, quando se trata de cenas de espetanço, creio não estar em erro quando afirmo que a confiança entre quem espeta e quem é espetado é fundamental. Foi isso que falhou! Abri o meu boletim e confirmei: a rapariga que me administrara a vacina há 30 anos atrás era uma Maria, 10 anos depois era uma Carolina, 20 anos depois era uma Carla, e hoje tinha sido uma gaja cujo nome não consegui decifrar, mas como era de leste vou chamá-la Natascha. A Natascha não podia saber que sou esquerdino, tal como a Carla, 10 anos antes, não o sabia. E eu não as conhecia de lado nenhum, de modos que não podia ficar relaxado perante a imagem de uma mulher com uma seringa na mão, pronta a enfiar-se-me pelo corpo abaixo. Percebi então a quase hostilidade da enfermeira antipática, percebi também a desconfiança da enfermeira de leste, continuei sem perceber a presença da terceira enfermeira lá no gabinete, e percebi ainda os meus receios em levar esta estúpida vacina de 10 em 10 anos. Tudo se resume à falta de uma relação entre todos nós, e o ministério da Saúde deveria estar mais atento a este género de coisas. Deveria esforçar-se por promover um contacto prévio entre quem dá e quem leva, deveria tentar que as duas partes se conhecessem previamente. Se assim fosse, cenas dramáticas seriam evitadas, creio eu. E um gajo poderia ir para casa tranquilo, sem se chatear, confiante na protecção anti-bacteriana que acabava de levar. Mas, da maneira como as coisas estão, isso não é possível. Um tipo é achincalhado, é hostilizado, é agredido com uma seringa, fica à rasca do ombro, tem de ir para casa pôr gelo localizado e ainda por cima não pode ter fantasias à custa das enfermeiras, pois estas deixaram-lhe tão má impressão que nem o pensar naqueles uniformezinhos lhe dá tesão. Uma pena...
Tanis
P.S.: Au, o meu ombro!...
4 comentários:
É óbvio que a que se "limitou-se a ficar de pé a olhar para mim enquanto eu era atendido" estava ali para agarrar quem tentasse fugir!
Mas vá lá, pelo menos foi no ombro. Podia ter sido pior... :P
Eu ainda pensei que ela estivesse lá para servir de tradutora, mas nem isso...
Acho que tens razão!
Eu tb levei essa vacina ontem mas é obvio que tive mais sorte que tu! A enfermeira era bem mais simpática! E nem precisei do gelo! Precisava era de um, de um, sei lá um Nespresso talvez :), é que a seguir deu-me cá uma moleza!!!
Nespresso é o %&$%%#$$%&$inho!
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