sexta-feira, janeiro 04, 2008

Peter of Pan apresenta: REI ÉDIPO (adaptado à geração Morangos com Açúcar). Parte III

CENA 3

(Creonte, já sem os spikes, vem calmamente a mamar uma mini pela rua. Nisto, alvoroçado, surge Édipo, que agarra Creonte pelo braço direito. Este, assustado, deixa cair a garrafa ao chão, que se estilhaça)

CREONTE (surpreendido ao reconhecer Édipo): Édipo, então? Que é isto, pá?
ÉDIPO: Ouve lá, esta merda toda não é um plano teu para ficares a mandar aqui em Chelas?
CREONTE: O que é que estás para aí a dizer, caraças?
ÉDIPO: ‘Tou a falar desta cena, do Oráculo, do Tirésias, do Laio, do assassino pesticida e da puta que os pariu a todos!
CREONTE (irritado): Pá, não te admito! Puta é a tua mãe! E não é pesticida, é parricida!
ÉDIPO (irritadíssimo): Ó Creonte, mais uma boca dessas e eu vou-te aos cornos!!!
CREONTE: Tu e mais quantos? Tu mandas aqui, mas não tenho medo de ti, o que é que pensas?
ÉDIPO: Chavalo, ‘tou-me a passar com esta tanga toda! Põe-te manso ou vai haver festa!!
(Chega Jocasta, visivelmente perturbada pela discussão. Aproxima-se de Édipo e Creonte. Jocasta traz sapatos de salto alto, mini-saia preta e um apertadíssimo top vermelho. É uma quarentona podre de boa, tão boa que o guionista já está a babar-se!)
JOCASTA: Ouçam lá, porque é que andam para aqui aos gritos?
CREONTE: Ó mana, é aí o teu namorado, o bacano ‘tá doido da cabeça! Vê lá se lhe consegues enfiar um pouco de juizinho…
ÉDIPO: Não é nada disso! Ó ‘mor, o teu irmão aí é que ‘tá com umas cenas esquisitas. Acho que ele quer tomar o meu lugar!
JOCASTA (diplomaticamente): Vá, acalmem-se lá os dois. Creonte, pisga-te e deixa-me falar aqui com o Édipo.
(Creonte sai)
ÉDIPO (mais aliviado): ‘Mor, dá-me um chocho…
(Jocasta e Édipo beijam-se apaixonadamente)
JOCASTA (soltando-se): Então, que se passa?
ÉDIPO: É o teu irmão, anda aí com umas intrigas. Hoje de manhã, encontrámo-nos e deixou-me a mensagem do Oráculo: há um assassino em Chelas, que deu cabo de um tal Laio e…
JOCASTA (interrompendo-o): O Laio era o meu marido.
ÉDIPO (surpreendido): A sério? Não sabia… (pausa) Pá, mas prontos, não interessa. A cena é que depois veio o Tirésias, o cegueta, sabes?, e ele insinuou que o assassino sou eu! Eu, ‘tás a ver?! Eu nem sequer conhecia esse Laio… isto é tudo uma conspiração do Creonte, sabes bem que ele e o Tirésias são melhores amigos e nunca confiaram em mim desde que vim mandar aqui em Chelas!
JOCASTA: Deixa estar, queridinho, não te chateies. Isto começou tudo com o Oráculo, não foi? Olha, sabes o que disse o Oráculo aqui há muitos anos, ainda não devias sequer ter nascido? Estava eu mais o Laio aqui numa esplanada quando recebemos um postal, mandado pelo Oráculo, que dizia: “Laio, pá, tu vais morrer às mãos do teu próprio filho ali para os lados do Martim Moniz. E tu, Jocasta, sua boazona, irás deitar-te com esse mesmo filho!” Estúpido, não é? Sim, o Laio foi encontrado morto no Martim Moniz, mas nunca poderia ter sido o nosso filho a matá-lo, pois nós vendemo-lo, quando ainda era bebé, a um casal de pretos.
ÉDIPO (mostra um ar assustado): Ai, ai, ai, ai, ai… mau, mau, esta cena está a ficar esquisita como o caraças…
JOCASTA: Hã?
ÉDIPO: Disseste que o Laio morreu no Martim Moniz?
JOCASTA: Sim, foi isso. Porquê?
ÉDIPO: Há quanto tempo foi isso?
JOCASTA: Hum, deixa cá ver, querido… (pausa) Bom, mais ou menos uns dois meses antes de vires para cá e te tornares o boss.
ÉDIPO (cada vez mais assustado. Começa a tremer das mãos): Isto ‘tá a ficar bonito, ‘ta… Ó Jocasta, ‘mor, esta história já é muita areia para a minha camioneta!
JOCASTA: Explica-te.
ÉDIPO: Uns dois meses antes de vir para Chelas, andei à porrada no Martim Moniz com um bacano, tudo por causa da última chamuça que um monhé tinha lá para vender. Enfiei-lhe bués murros nas trombas até ele andar de lado, só que depois escorregou numa perna de frango com caril, caiu, bateu com os cornos no chão e morreu!
JOCASTA (agora também um pouco assustada): Que dizes, Édipo? Amorzinho?
ÉDIPO: Sim, foi o que se passou, garina. E mandaste aí a boca de um casal de blacks… bem, os meus pais não são blacks e sim brasucas, Seu Jaílson e Dona Neuza. Só que, isto é estranho, lembro-me de, quando fiz 16 anos, ter ido para o Bairro Alto com uns bacanos, e o Cajó, esse cabrão agarrado, disse-me, antes de eu lhe partir uma caneca de cerveja na testa, que eu era adoptado. No dia seguinte, fui consultar o Oráculo, para saber coisas, e o Oráculo disse-me que um dia eu iria matar o meu pai e pinocar com a minha mãe. Como não curti nada a cena, então mandei um peido mesmo à frente do cabrão do Oráculo!
JOCASTA (cada vez mais preocupada): Édipo, querido, não estou a gostar nada da conversa. É melhor ficares caladinho… Está a doer-me a cabeça, acho que vou para casa.
(Jocasta retira-se. Entra o Coro)
CORO JUST GIRLS:
Yeah, Yeah, Yeah
Desvenda-se o mistério
Que coisa tão esquisita
Laio, Édipo, Jocasta
Que confusão, já basta!
Vamos ficar à espera.
Que mais irá acontecer
Além do que ‘tamos a ver?
Yeah, Yeah, Yeah
ÉDIPO: Ó pá, calem-se lá! Fosga-se!!!
(O Coro sai. Fim da Cena 3)

[Segunda-feira, mais um episódio! Aguardem!!!]


Eterno Entorno

3 comentários:

Ilda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ilda disse...

Pá eu por causa de uma chamuça também era capaz de dar um murro a alguém, ou estalo, vá...

Peter of Pan disse...

As chamuças estão presentemente a ser discutidas na Assembleia-Geral das Nações Unidas, tal é o volume de violência que geram...