terça-feira, abril 15, 2008

Breve consideração sobre o onanismo dos espíritos

Dois acontecimentos têm perturbado os meus neurónios nos últimos dias: a derrota do Sporting na Taça Uefa frente aos escoceses do Glasgow Rangers e as declarações de Alberto João Jardim em defesa de Luís Filipe Menezes no último congresso do PSD-Madeira. Acerca do primeiro tema, não consigo ainda falar, tal foi o abalo que provocou na minha consciência, mas acerca do segundo - e após vários dias a matutar na coisa - já consigo proferir alguns comentários.
Para os que não acompanharam, aqui fica uma rápida contextualização: Alberto João Jardim (a quem gosto de chamar Alberto, o Inenarrável, não só porque é isso que ele é, mas também porque, na Madeira, ele é rei, e um rei merece um cognome à altura) estava no púlpito a discursar quando resolveu mandar mais uma das suas célebres atoardas: virando-se para o secretário-geral do seu partido, proferiu as seguintes palavras, que ainda ressoam fortes e feias no meu sistema cerebral

"Deixe lá os espíritos que se auto-masturbam"

Uma coisa destas parecia-me excessiva, até mesmo para Alberto, o Inenarrável. Até que me decidi a reflectir na frase. E reflecti, reflecti muito (algumas más línguas dirão que o que eu estava a fazer não era reflexão e sim onanismo intelectual, mas adiante...). E a reflexão conduziu-me a três conclusões, autênticos orgasmos do pensamento, e a considerar que a frase acima é todo um programa revolucionário da metafísica, da teologia e da política:

1ª conclusão: Alberto, o Inenarrável, é louco e tarado. Isso parece-me óbvio, e não seria preciso andar a pensar naquelas palavras durante dias a fio. Todavia, não nos devemos centrar apenas nas aparências: devemos investigar o conteúdo da frase o mais profundamente possível. Na verdade, isto é um pouco como interpretar a Bíblia: podemos fazê-lo literalmente, ou podemos fazê-lo alegoricamente. O que importa é saber ler, creio eu.

2ª conclusão: Alberto, o Inenarrável, sabe algo da vida dos espíritos que nem os mais famosos teólogos da História sabiam. Nem eu, tão-pouco. Eu sempre pensei que os espíritos fossem, bem... espíritos, quer dizer, substâncias imateriais, cujas preocupações fossem elevadas, e não carnais. Porém, Alberto, o Inenarrável, vem contestar esta opinião. Afinal, parece que os espíritos têm os mesmos interesses carnais dos corpos; se não fosse assim, que motivo os levaria à masturbação? O que Alberto, o Inenarrável, nos está a dizer é que há mais em comum entre corpos e espíritos do que pensávamos. E isto é aquilo que eu quero dizer com uma revolução metafísica e teológica. Alberto, o Inenarrável, abriu-nos os olhos... e provavelmente masturbou-se enquanto o fez.

3ª conclusão: Para Alberto, o Inenarrável, os espíritos simplesmente não se masturbam: eles auto-masturbam-se. À primeira vista, isto parece uma redundância, pois o enclítico "se" funciona como pronome reflexivo. Um linguista bradaria aos sete céus estarmos perante um erro de construção sintáctica; seria o mesmo que dizer "deixe lá os espíritos que se auto-vestem". Contudo, não é assim. O que Alberto, o Inenarrável, quis dizer - e eu penso estar a interpretá-lo correctamente - é que os espíritos, quando se masturbam, masturbam-se para si e consigo próprios. Passo a explicar: uma pessoa normal, isto é, um corpo, quando se masturba está normalmente a pensar noutra pessoa, tipo por exemplo a Cláudia Vieira. Ou seja, pensa num corpo diferente do seu. Já um espírito, segundo defende Alberto, o Inenarrável, quando se masturba está a pensar em si mesmo, uma vez que um espírito é igual a todos os outros espíritos (a diferença individual - explicam-nos os filósofos desde Aristóteles, dá-se com a matéria, ou seja, o corpo) daí que quando se masturbam, estão mesmo a auto-masturbar-se. E é por isso que os devemos deixar em paz e não lhes ligar nenhuma, pois eles são uns narcisistas do caraças. E é este o conselho que Alberto nos dá: não liguemos aos políticos narcisistas, pois eles não fazem mais nada do que auto-masturbar-se, tal como os espíritos.

Enfim, as coisas que podemos aprender com um discurso do Alberto João Jardim...

Tanis

1 comentário:

esquilinho disse...

Andei enganada todos estes anos. Afinal o Alberto é um génio do pensamento filosófico!