quarta-feira, março 18, 2009

Eu era normal/Até o metal/Dar cabo de mim

Há certas vantagens em ser-se um despudorado apreciador de heavy metal e viver com uma pessoa que abomina, ingenuamente, tão notável estilo musical. A minha gaja não percebe por que é que eu gosto de heavy metal. A minha gaja não entende como é que sou capaz de gastar dinheiro a comprar cds que "são só barulho". A minha gaja não compreende o porquê de eu fazer mil e mil quilómetros só para ver a banda x ou y tocar. E é por a minha gaja não perceber, entender ou compreender que a situação se torna tão gira: ela vê a minha paixão pelo heavy metal como um ataque pessoal, como algo concorrente e substancialmente mais perigoso do que apanhar-me com a Cláudia Vieira, a Monica Bellucci e a Scarlett Johansson, nuas, numa piscina pública. Por outras palavras, a minha gaja tem ciúmes do heavy metal, ciúmes esses agravados quando lhe toca limpar o pó aos cerca de 700 cds que possuo desse género de música (fora os de outros estilos... É: limpar o pó lá em casa é uma autêntica odisseia!). Por isso, e sendo ela uma pessoa muito "senhora do seu nariz", vê-se obrigada a competir com algo tão abstracto quanto a música. E no rescaldo de tão inaudita competição, quem sai a ganhar, de uma maneira ou de outra, sou eu! Por isso é que disse, no início do post, haver vantagens em estar com alguém que detesta a metalada, e isso ficou comprovado ontem.

O dia de ontem, para os mais distraídos, era dia de concentração metaleira no Pavilhão Atlântico do Parque das Nações. Motivo: o concertozorro que reunia as instituições Testament, Megadeth e Judas Priest, tudo colectivos que o mais orgulhoso dos headbangers adora ou, pelo menos, respeita. Já há cerca de 6 meses que ansiava por este concerto, mas o destino trocou-me as voltas ao pregar-me com uma valente otite aqui há coisa de duas semanas. Ainda mantive a esperança sincera de recuperação, mas infelizmente, pesem algumas melhorias, continuo a padecer de dores no ouvido, dores essas que iriam certamente intensificar-se num contexto de exposição a violentos decibéis, de modos que tive de optar por ficar em casa. A custo...

Mas o próprio "ficar em casa" teve muito que se lhe dissesse, pois eu, de 5 em 5 minutos, suspirava bem fundo ("Aiai...") e lamentava não estar, naquele momento, no Pavilhão Atlântico ("Ah, aposto que os Megadeth vão tocar a Peace Sells, e eu não estou lá para ouvir... bu-uh!"). Face a isto, a minha gaja irava-se. A cada triste esgar meu, ela respondia com um duro franzir de sobrancelhas. Até que explodiu e resolveu confrontar-me: "Ouve lá, mas tu preferias estar no meio de gente vestida de cabedal a ouvir gajos a gritar que nem malucos em vez de ficares aqui comigo, no conforto do lar?!?!". Ainda procurei ser diplomata: "Amorzito, as duas situações não são comparáveis. Eu estou contigo todos os dias, e sei que posso estar contigo todos os dias, e gosto disso, mas quantas vezes tenho a oportunidade de assistir a um cartaz com três bandaças como o de hoje? Já viste a frustração que é não poder estar lá por causa de uma merda de uma otite?!". A verdade é que não fui lá muito convincente, e a minha gaja amuou. E quando a minha gaja amua, o universo inteiro sofre as consequências. Mas ontem não. Ontem as consequências foram benéficas. Para mim, em particular, e para o universo inteiro em geral. Toda ela raiva, exclamou: "'Tá mas é calado! Vais já despir-te todo e deitar-te na cama, vou mostrar-te o que é um concertozorro!"

E mostrou! E aquilo não foi um concerto: foi um autêntico recital! E nada distante do espírito heavy metal, pois também houve gritos e grunhidos à mistura! Saí de lá pior, ou seja, melhor, do que se estivesse andado no mosh durante 3 horas seguidas! Esqueci-me logo de, na mesma altura, estar a ocorrer uma coisa qualquer no Pavilhão Atlântico, ou lá onde era. Ao querer competir com a minha paixão pelo metal, a minha gaja serviu-me de bandeja outro tipo de paixão, tão hot as hell quanto o próprio heavy metal, com a vantagem de não me ter prejudicado o ouvido e, a bem dizer, qualquer outra parte do corpo, que agradeceu o evento.

Moral da história: agora ainda sou mais fã de heavy metal do que dantes. A minha paixão por este estilo musical continua a proporcionar-me horas e horas de prazer, e o ódio da minha gaja pela minha paixão por este estilo musical também me proporciona horas e horas de prazer. Hoje à noite, assim queira o meu corpo ainda ressacado do "concertozorro" de ontem, vou lamentar-me por não estar a assistir aos Evile em Dublin, a ver se tenho a mesma sorte... :)

6 comentários:

Ilda disse...

Não me vou pronunciar relativamente a isto, pq sou uma senhora!!! Só posso acrescentar é que continuo a não perceber o teu "des"gosto musical!!

Humberto Silva disse...

Heavy Metal is the law that keeps us all united free
A law that shatters earth and hell
Heavy Metal can't be beaten by any dynasty
We're all wizards fightin' with our spell

Quanto ao resto abstenho-me de comentar... A não ser Picts STFU ;-D

Rita disse...

Essa otite é "muita bem feita" e eu se fosse à tua "gaija" em vez do concertozorro tinha-te passado para a mão o panito do pó e tinha-te obrigada a limpar o pó aos CD's, seu heavy do catano...
Jokas

Unknown disse...

Hehe!
Afinal os ciumes do Heavy Metal compensam!
Vou tentar essa estratégia com as gajas :-)
Abraço,
Bruno

nada desta vida disse...

oh pah, muito bom! q risota. tu querias heavy metal e levaste com hard core. ah ah.

Peter of Pan disse...

Ahaahahahah, boa!!!! :)