quarta-feira, maio 04, 2011

Coisas que devem abster-se de fazer: dar comprimidos a gatas

AVISO: este post contém descrições eventualmente nojentas, horríveis e chocantes.

*
**

Uma das nossas gatinhas apanhou uma inflamação numa pata, e como consequência foi levada ao veterinário. Portou-se muito bem, ela que é uma paz de alma e um amor de gatinha, como de resto já noticiei anteriormente, só que nestas histórias há sempre um depois. E o depois é que são elas!

Tudo porque o veterinário aconselhou-nos, durante um período de tempo, a dar todos os dias comprimidos anti-inflamatórios à felina. E aqui é que a porca, ou melhor, a gata, torce o rabo. O rabo é como quem diz, porque ela na verdade torce-se é toda. Tentar enfiar um comprimido pela goela daquela gata é tarefa que nem os navy seals que metralharam o Bin Laden seriam capazes de levar a bom porto. Sim, é verdade, e mais adiante demonstrá-lo-ei através da reprodução de uma conversa que tive com o Obama. Sim, o Bin Laden estava num complexo altamente complexo, e fortificado, e tinha guardas, e mulheres, e era um terrorista islâmico, e tinha barba, e turbante, não se esqueçam do turbante, sabe-se lá o que ali se escondia, mas não se compara em pertinácia àquela miniatura de leoa. Quando ela não quer tomar o comprimido, não toma mesmo o comprimido!

E nós já tentámos várias técnicas. A mais normal, e que chegou a resultar por um ou dois dias, foi eu agarrar na bichinha e pô-la de barriga para o ar, enquanto a minha gaja, rápida como um relâmpago, chegava-se junto dela, abria-lhe as mandíbulas e zás, enfiava-lhe o comprimido, ocasião em que eu lhe apertava a boca de modo a não ser capaz de cuspir o medicamento, algo que ocorria sempre que eu e a gaja nos mostrávamos menos coordenados.

O problema é que isto já não funciona. A gata desenvolveu uma técnica magistral que consiste em dobrar a língua e esconder o comprimido algures por entre aquele tecido rosado. Assim que eu relaxo os apertos, ela abre a boquinha e pronto, cospe o comprimido, o qual eu e a gaja já pensávamos estar a dirigir-se para o estômago felídio. E já nem falo nas patadas e unhadas que este que vos escreve sofre... nem nos puns mal-cheirosos que ela por vezes manda nestas situações, deve estar a pensar que é uma doninha, deve deve...

Tentámos já dar o comprimido da forma descrita mas com uma pequena variação: medicá-la somente quando estivesse a dormir. Pensámos nós, e bem, que quando ela estivesse molinha e ensonada, seria aí a melhor altura para lhe dar o comprimido, pois receberíamos menos resistência. E tivemos razão... mas só por um dia! Agora a gata já está avisada e não vai na conversa: se a acordamos, já não responde como um adolescente responderia numa manhã de segunda-feira antes de se levantar para ir às aulas. Fica sim desperta, completamente alerta, e reage no máximo das suas capacidades.

Outra medida infrutífera é esconder o comprimido no meio da comida. A gata pode ser uma comilona, mas não é parva, e consegue sempre comer a ração e deixar o comprimido na tigela. E nós, claro, a olhar para aquilo com ar de estúpidos.

Depois vem a técnica da, como eu lhe chamo, liquidez. Trata-se de desfazer o comprimido com um poucochinho de água e, através de uma seringa, enfiar o produto dentro da boca da gatinha. Experimentámos esta medida variadas vezes no passado e o seu sucesso foi animador... até perdermos a seringa algures, para nunca mais a encontrarmos. É claro que eu culpo a minha gaja por isso, afinal a minha gaja é - duh - uma gaja, e se há uma coisa que as gajas todas fazem é mudar o sítio às coisas, tanta e tanta vez que a dada altura acabam por não se lembrar onde é que as coisas estão. Enfim, gajas...

Falhando-os a seringa, voltámo-nos para a colher. Procedemos exactamente da mesma maneira, ou seja, liquefazemos o comprimido dentro de uma colher e depois enfiamo-la na boca da gata, com cuidado suficiente para não a magoarmos, mas com força, também suficiente, para o líquido não se escapar. Isto também funcionou por um ou dois dias, mas a gata aprende a safar-se de uma situação indesejável mais facilmente do que um cigano aprende a furar a fila numa repartição pública. Por artes que quase parecem mágicas, a gatinha consegue agora impedir que o líquido desça a garganta e, qual Linda Blair, quando menos esperamos cospe-nos o mesmo para cima, salpicando-nos com água, saliva de gato e, claro está, anti-inflamatório [eu avisei que o post continha imagens nojentas. Quê, não acham isto nojento?!?! Então experimentem levar com o conteúdo da boca de uma gata... é pelo menos tão mau quanto aquelas histórias de pais que calham levar com jactos escatológicos dos seus filhos].

Portanto, neste momento eu e a gaja estamos num impasse. Temos de dar o comprimido à gata, mas não conseguimos dar o comprimido à gata. Ela é mais engenhosa, esperta e fisicamente capaz. Dois seres humanos, um produto farmacêutico e tecnologia da mais avançada, como é uma colher, não são nada diante de quatro patas e vários bigodes. A situação é tão dramática que, há dias, cheguei até mesmo a pedir ajuda ao Obama, só que quando ele soube do conteúdo da missão, respondeu-me assim: "What?!? You want us to give a pill?!? To a small and cute pussycat?!?! Are you f*cking mad?! Are you drinking?!? Are you high on crack?!? That's impossible. We don't have the skills, man! It's easier to catch Osama!". Pouco tempo depois, ele comprovou-o apanhando mesmo o maluco do turbante. E a gatinha, essa, sobra sempre para nós...

2 comentários:

Ilda disse...

Pois, logo vi que eu tinha de ter culpa de alguma coisa... ruim!!! Vamos ver como nos safamos à noite, novo episódio da telenovela!

Rafeiro Perfumado disse...

E enrolar o comprimido num pedacinho de carne? Com o meu funciona, mas lá está, não é o Demo encarnado.