segunda-feira, maio 16, 2011

Das gordas: recordações de outros tempos.

[Atenção: este post é enorme e dramático. Vão demorar muito a lê-lo e vai despertar-vos lágrimas. Eu avisei]

Não consigo fazer um comentário mais cáustico ou jocoso acerca dos concorrentes do Peso Pesado da SIC sem que a gaja se arme em paladina da banha e venha a correr em defesa dos bisontes. “Lá estás tu a gozar com as pessoas”, diz ela, assumindo que sacas de gordura com pernas são pessoas. Eu defendo-me daquela vil acusação alegando, na verdade, nada ter contra os gordos, apenas gozo com toda a gente independentemente da tonelagem, eu sou mesmo assim, politicamente incorrecto, prontos, mas nada, a gaja não se convence das minhas puras intenções. E vá de puxar pelos seus galões éticos: “Tu gozas com os gordos porque não és gordo. Queria ver-te, se fosses gordo”. Tive de explicar que, se eu fosse um texugo obeso, era um texugo obeso, não estou a ver qual é o problema. Tenho vários defeitos físicos, como por exemplo um órgão viril de 25 centímetros, e isso nunca me incomodou, aprendi a viver comigo tal como sou. Se alguém passar por mim na rua e disser “Ah, vai ali o Peter of Pan, vocês sabem que ele tem um coiso que mede, da base à pontinha, 25 centímetros, parece que aquilo provoca imenso prazer sexual na sua parceira, ahahaha, que anormal!”, não vou ficar minimamente melindrado, tal como não ficaria se fosse gordo e mo apontassem à cara. “Mas as outras pessoas têm sentimentos”, insistia a gaja. “Tu gostarias de uma gorda?!? Tu olharias para mim se eu fosse gorda?!?”

Ao atirar-me isto à cara, a gaja, sem saber, desenterrou lembranças de um passado horrível. São memórias que doem quase tanto como assistir a um espectáculo de dança contemporânea. “Não me respondes?!”, pedia ela. Desviei o olhar. Respirei fundo, acalmei-me, e comecei a contar-lhe uma história.

Era uma vez um menino chamado Peter of Pan. O Peter of Pan era um menino diferente dos outros meninos. Jogava futebol espectacularmente bem, mas não tinha sorte com as meninas porque, infelizmente, o Peter of Pan era feio. Muito feio. Tão feio que as meninas bonitas de quem o Peter of Pan gostava não queriam nada com ele. Se o Peter of Pan queria dar um beijinho à Aninhas, a Aninhas mandava-o dar uma volta. Se o Peter of Pan queria dar um abraço à Sarita, a Sarita soltava os dobermans que tinha no quintal. Se o Peter of Pan queria apalpar a Sónia, que se deixava apalpar por todos os miúdos do bairro, a Sónia chamava o irmão mais velho, bombeiro por vocação e profissão e senhor de mais de dois metros de altura.

O Peter of Pan vivia assim triste, excepto quando jogava à bola, porque ele era tão bom que dava cabo dos outros miúdos todos. Mas não arranjava namorada. Foi então que o Peter of Pan, que era feio mas até era inteligente, além de saber jogar futebol à brava, não sei se já tinha contado, se lembrou de uma coisa: “Pá, se as miúdas giras nada querem comigo, porque sou feio, que tal se eu me atracar àquelas que ninguém quer?! Talvez consiga alguma coisa! É isso: a partir de agora, só vou gostar de gordalhufas!”. A lógica do Peter of Pan parecia irrepreensível, pois, recorde-se, ele era inteligente… e jogava mesmo bem à bola, o malandreco!

Todavia, a realidade nem sempre obedece às leis da lógica, como todos nós estamos fartinhos de saber. A estratégia do Peter of Pan parecia perfeita na teoria, mas na prática revelou-se nula. A primeira vez que o Peter of Pan quis aplicar este princípio foi com a Marta. A Marta era uma rapariga de 13 anos com um físico que a faria confundir-se com a paisagem caso essa paisagem fosse dominada por uma manada de elefantes. Era gorda, mesmo gorda, e nenhum miúdo queria nada com ela. O Peter of Pan, então, fez-se, literalmente, ao bife e, tal como um arpoeiro procura caçar uma baleia, tentou fisgar a Marta. Mas a Marta desprezou o Peter of Pan que, coitado, embora inteligente e com um talento natural para o futebol, era feio. A Marta não aceitou as suas propostas e quando, já em desespero, o Peter of Pan quis arrancar-lhe um beijinho, ela levou a mão direita atrás, uma mão que devia ter uns 10 quilos, e pregou-lhe um estalo tal que fez o nosso Peter of Pan dar três voltas no ar e cair estatelado no chão.

O Peter of Pan não se deixou, contudo, abater por este primeiro fracasso. Falhada a abordagem à Marta, e "abordagem" não está aqui por acaso, pois a Marta parecia um cargueiro, o Peter of Pan, confiante na sua estratégia, tentou a sorte junto da prima da Sónia, a Ticha. A Ticha era uma cachalota, não há outra maneira de dizê-lo, que ocupava, sozinha, um banco de dois lugares no autocarro para a escola. Era tão, mas tão gorda que podia passar por filha do Maniche. Foi com ela que o Peter of Pan quis curtir numa excursão, só que a Ticha, para variar, recusou-o, alegando estar à espera que um príncipe encantado viesse buscá-la. Como o Peter of Pan estava muito longe de corresponder à imagem do príncipe encantado, embora jogasse muito melhor à bola do que qualquer membro da realeza e, já agora, do clero e da nobreza, ficou a chuchar no dedo enquanto todos os seus amigos, mesmo os que não sabiam fazer um remate à baliza, tinham arranjado par para a curtição.

Mas nem assim o Peter of Pan desistiu. Falhadas a Marta e a Ticha, o Peter of Pan, consciente de que situações graves exigem respostas à altura, decidiu ir ter com a Amélia. A Amélia, bem, a Amélia era o maior trambolho que se possa imaginar. É preciso valer-me de analogias naturalistas para ilustrar a figura da Amélia. Era gorda que nem uma morsa e parecia que tinha roubado a dentição a uma moreia. Tinha um olho maior que o outro, coxeava e dos seus pés parecia vir um odor semelhante a couves cozidas. Com a Amélia as coisas teriam de dar certo, pensava o Peter of Pan, que era um futebolista de qualidade ímpar. Era com a Amélia que o Peter of Pan se faria um homem, porque se não fosse o Peter of Pan, a Amélia nunca se faria uma mulher, nem que fosse abandonada no meio de um grupo de orangotangos com o cio que já não acasalassem há mais de 5 anos. Parecia, desta vez, que as coisas não poderiam falhar, e que finalmente o Peter of Pan conseguiria desencalhar, ele cujo órgão já começava a demonstrar vir a possuir no futuro um tamanhão, era inteligente, e um génio da bola, mas nascera feio, ó tragédia. Assim, um belo dia, o Peter of Pan chegou-se todo pimpão junto da Amélia, cujos pés cheiravam especialmente a couves cozidas nessa ocasião, e sugeriu-lhe, na máxima inocência, que fossem os dois ver o tempo ali para trás de uma moita. Sucede que a Amélia lhe respondeu indignada, como se tivesse sido ofendida, reclamando que só teria sexo depois do casamento, e acrescentando logo a seguir que jamais se casaria com um menino feio, mesmo que ele soubesse jogar bué bem à bola.

Este fora o último tiro no coração do Peter of Pan. Depois de tanta derrota, de tanta nega e de tanto sofrimento, o Peter of Pan perguntava-se se ainda valia a pena ser do Sporting. E perguntava-se também se valia a pena continuar com o plano de conquista de uma gorda. Reflectindo bem, ele que embora feio era inteligente, e jogava mesmo bem futebol, pá, era fantástico o modo como ele se movia num campo e ultrapassava adversários atrás de adversários, mas contava eu, o Peter of Pan, após muito reflectir, chegou à conclusão que não valia a pena e se tinha de levar tampas, ao menos as levasse de raparigas que fossem alguma coisa de jeito, e não de espécies de ruminantes. Se fosse para perder, que perdesse com estilo, pensava o nosso ilustre Peter of Pan. Na realidade, passados vários anos, o Peter of Pan não só não perdeu como conseguiu mesmo ganhar o direito a estar com gajas giras, embora ele pense que essa felicidade se deva a uma circunstância da vida, que é a de as pessoas perderem, com a idade, capacidade de visão, o que as impede de contemplar toda a real feiúra do Peter of Pan, e simultaneamente, porque isto não traz só vantagens, de apreciar todas as suas qualidades futebolísticas.

Quando terminei de contar esta história, a gaja tinha os olhos marejados de lágrimas, o que até é bom, porque isso impede-a ainda mais de se aperceber como sou feio. “Que história tão trágica”, confessou-me ela. “Ainda bem que hoje estás com uma pessoa de quem gostas… e que se apaixonou por ti antes de ter sido operada à vista. Percebo agora porque não evitas gozar as pessoas gordas. É porque os gordos podem ser tão maus quanto os outros, não é?!?”.

Fiquei contente por ela ter percebido. A ver se agora posso continuar a gozar os concorrentes do Peso Pesado sem ter um grilo falante a melgar-me o juízo…

1 comentário:

Pulha Garcia disse...

Um love story na verdade. Devemos sempre desconfiar de pessoas de tonelagem diferente da nossa.