segunda-feira, novembro 07, 2005

O espalhanço de Tales revisitado

Uma das anedotas contadas acerca de Tales, tido por muitos como o primeiro filósofo (o que não abona nada em seu favor, coitado...), é esta: o dito filósofo caminhava serenamente pelas ruas, divagando e observando o céu, quando de repente cai num poço, provocando risos incontroláveis a duas escravas que aí retiravam água. Esta anedota tem uma moral simples e óbvia: de nada serve andar em lucubrações celestes e elevadas quando se esquece o chão debaixo dos pés.
Conto este episódio porque hoje me sucedeu algo semelhante: vinha eu muito bem pela rua, pensando nas consequências a longo prazo do debate analíticos X continentais na filosofia angolana contemporânea, até que tropeço na borda do passeio e dou um espalhanço tão grande que parecia o João Pinto quando ainda jogava no Benfica. Ao contrário do pobre Tales, tive a felicidade de não ter ninguém por perto a assistir à cena, exceptuando um canídeo que também devaneava por ali. Desta forma, consegui evitar uma sessão de escárnio - o que, convenhamos, seria uma coisa extremamente desagradável para ter lugar numa segunda-feira. Noutros dias também, mas mais numa segunda-feira, não me perguntem porquê. Mesmo assim, a minha auto-estima ficou ferida e prometi a mim mesmo jamais pensar em coisas sublimes enquanto passeio pelas ruas deste país. A partir de agora, o meu cérebro só se ocupará dos discursos de José Veiga e das Eleições Presidenciais de 2006. Coisas imbecis e muito terra-a-terra, portanto.
É assim mesmo, caraças! Andar com grandes reflexões só provoca dores e infelicidade.

Eterno Entorno

1 comentário:

david disse...

Concordo plenamente!