sexta-feira, novembro 11, 2005

Zen sardónico!

O meu grande problema face às filosofias orientais reside na circunstância de estas tornarem os indivíduos demasiado assépticos e amorfos, demasiado passivos e inactivos. Quando alguém está em relaxamento meditativo, não encontra em si - se é que nestes casos ainda se pode falar de um "si" - espaço para a crítica, para a maledicência, para a acção e reacção - aspectos tão caros a nós, ocidentais. Claro que isso, para mim, é um defeito. Um ser humano que não produz críticas construtivas, não diz mal do próximo e não se mexe para lado nenhum não é um ser humano, é um dirigente do Partido Popular Monárquico!
Creio, contudo, ter encontrado a solução perfeita para todos aqueles que, amando a exótica cultura oriental, não pretendem abdicar do seu lado ocidental. Por outras palavras, desenvolvi um método que permite a meditação zen em simultaneidade de operações com a mais severa ironia. E é muito simples, basta seguir estes passos:

1º - Coloque um CD de Pan Pipes ou outra treta qualquer, desde que seja instrumental e bastante chata.
2º - Ligue o seu televisor, sintonizando-o no canal ARTV.
3º - Se tiver sorte, os (poucos) políticos presentes no hemiciclo estarão a debater o Orçamento de Estado ou qualquer outra inutilidade. Isso é bom sinal (para o exercício que queremos levar a cabo, entenda-se).
4º - Retire o som ao televisor.
5º - Coloque-se na posição de lótus (ou na de spooning, se estiver acompanhado do respectivo conjuge) e inspire profundamente. Relaxe e deixe-se invadir pela música que soa pela casa. Mas não feche os olhos.
6º - Dirija o seu olhar para as imagens provenientes do televisor. São más, não é verdade? Aqueles políticos filhos-da-mãe estão novamente a brincar às custas do dinheiro que sai do seu bolso.
7º - Revolte-se, diga interiormente mal dos políticos e do país enquanto continua com os seus exercícios de meditação.
8º - Comece a construir piadas ou comentários cínicos acerca dos políticos que vê passar pela televisão (goze, por exemplo, com o penteado beto do João Almeida).
9º - Se tiver procedido correctamente, nesta fase dar-se-á o "zen sardónico". Este caracteriza-se por um sentimento de catarse, fruto da meditação associada à má-língua.
10º - Continue com o exercício até se fartar do CD ou das imagens.


Cá está! Os benefícios desta solução são óbvios: o indivíduo tem oportunidade de relaxar, mas sem se tornar num papalvo vegetal (não confundir com vegetariano, pois essa é uma questão diferente) e acrítico, tipo Dalai Lama. O zen sardónico estimula, pois, o nosso bem-estar individual e a nossa consciência social. É a única filosofia verdadeiramente equilibrada e virada para a humanidade tomada nas suas diversas tendências. Portanto, não mais filosofias prontas a tornarem-nos "bonzinhos". Não mais atitudes primárias de escárnio caras a um dirigente sindicalista! Não! O zen sardónico junta o melhor de dois mundos, é uma ética superior. Criticar sim, mas criticar com finesse! Relaxar sim, mas relaxar sem perder o contacto com a realidade em que vivemos! Budismo tibetano, o car....! Zen sardónico é que é!
Vale!

Eterno Entorno

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