O problema que venho levantar é então o seguinte: por que carga de água os filósofos não nos dão conselhos práticos para a vida do dia-a-dia, em particular quando essa vida envolve uma relação eu-tu/tu-eu com outra pessoa? Passo a narrar uma situação real onde a filosofia ainda não tem, hélas, uma intervenção premente:
- Ó amor, desculpa lá, parti mais 7 copos e 13 pratos enquanto lavava a loiça.
- Outra vez?!? Que raios?!... Já é o 327º prato e o 59º copo que espatifas nos últimos três dias e meio. E olha que somos só dois a comer. Não sei como consegues isso, seu desajeitado do caraças!...
- Mas…
- “Mas”, uma pinóia! A tua mãe não te ensinou a lavar a loiça? Ou será que és demasiado burro para aprender? Se essas porcarias que andas sempre a ler não te ajudam, o melhor é deitá-las fora!
- NÃO! Não faças isso ao meu Hegel, ao meu Platão, ao meu Descartes!...
- Isso tudo não passa de desperdício de papel. Vai mas é aprender a lavar pratos como deve ser. Essa imbecilidade da metafísica só te faz é mal e não dá auxílio nenhum na lida da casa. E amocha, senão vou contar ao José Gil.
- …
Cá está! Por que não existe, nas obras filosóficas que infelizmente foram sendo escritas nos últimos dois milénios e meio, uma solução ou, pelo menos, um conselho que seja para casos afins? Quer dizer, os filósofos passaram a vida a dissertar acerca das Ideias, das Formas, da Moral, da Justiça e outras porcarias sem sentido, mas quando tocava a falar de coisas realmente importantes, como a loiça, o caixote do lixo ou a tampa da sanita, nicles: imperava neles uma espécie de silêncio cavaquista. Considero que isto tem uma razão social por detrás: quase todos os filósofos eram aristocratas ou ricos burgueses, o que lhes permitia não se sujeitarem a tarefas mundanas, as quais ficavam sempre a cargo de serventes e criados. E, muitas vezes, fossem burgueses ou aristocratas ou nem uma coisa nem outra, eram homossexuais, e isso evitava que passassem por diálogos asfixiantes como o acima descrito. Afinal, um homossexual que não saiba lavar a loiça não é um homossexual, é um mariquinhas, e não tem uma mulher/esposa/companheira/namorada impiedosa a melgar-lhe os ouvidos e sim outro paneleireco de estilo semelhante ao seu.
Deste modo, ficou aberta uma lacuna no pensamento filosófico desde os pré-socráticos até aos nossos dias, lacuna essa que o Peter of Pan quer, naturalmente, combater.
Daí o meu apelo inicial aos leitores homens. É em nós que reside a esperança de uma filosofia mais prática. Sim, em nós, que não somos nem burgueses, nem aristocratas, nem tão-pouco (falo por mim, pelo menos) gays. Comecem já a redigir sugestões, fico à espera enquanto desenvolvo o meu próprio pensamento nesta matéria.
Tanis.
5 comentários:
Se calhar não devia comentar este texto, não sendo simio ou a Odete Santos pertenço (acho)restante grupo e por isso...
No entanto também me é caracteristico como é normal das "gajas" ter que meter o bedelho onde não sou chamada por isso cá vai: sou suspeita em relação ao assunto filosofia mas que é verdade que qdo faço as limpeza lá por casa o Platão, o Descartes e outros não me ajudam isso é verdade! E acho mal... aplica-se célebre frase: Falam, falam; falam, falam, mas não os vejo a fazer nada!
Sintomático...
Sintómático? Humm, o que é que queres dizer com isso? Pretendes insinuar alguma coisa???
Eu? Euzinho?
Insinuar o quê, já agora?!?!?
:)
Tu percebeste! Esse teu sorriso que me parece amarelo denuncia-te!!!
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