segunda-feira, março 02, 2009

Em cada um de nós (e por "cada um de nós" refiro-me, naturalmente, a mim...) há o potencial para o bem e para o mal!

Cena 1: saio de casa para apanhar o comboio que me conduzirá ao local de trabalho. Perto da estação, deparo com uma esforçada velhinha que luta para arrastar uma pesada sacola. Chego-me ao pé da respeitável anciã: "Minha senhora, vai apanhar o comboio? Precisa de ajuda para levar o saco?" A vetusta dama levanta a cabeça para mim, e nem precisa dizer uma palavra sequer: aqueles olhos, quase ao ponto da lágrima, exprimem tudo. Pego na sacola, coloco-a às minhas costas e caminho na direcção do comboio. Ao meu lado, a cota vai soltando frases como "obrigada, meu jovem", ou "você é um anjo", ou ainda "se não fosse o menino, não sei o que seria das minhas costas". Uma senhora com um rapazinho ao colo observa todo este episódio junto das bilheteiras, e exclama para o petiz: "Vês aquele senhor? É bom! Quando cresceres, vais ser bonzinho como ele!"

Cena 2: preparo-me para atravessar uma passadeira numa rua secundária de Lisboa. Mal meto o pé no alcatrão, vruuummm, passa um carro, sem parar. Automaticamente, debito os inevitáveis impropérios: "Cabrão, filho da puta, palhaço do caralho". Ao redor, os restantes transeuntes fazem expressões de desagrado ofendido. Uma mãe moralista tapa os ouvidos à criança. Uma freira, que passava pela rua, benze-se e olha-me de lado. E o paneleiro do condutor trava, rispidamente, cerca de 20 metros adiante. Sai da viatura, encara-me com ar de poucos amigos e, resolvido a não levar um desaforo daqueles para casa, dirige-se para mim. E eu, pior do que estragado, decido correr para ele, pronto para lhe aplicar um pontapé certeiro naquelas fuças, ao mesmo tempo que continuo as ofensas: "Anda cá, meu rabeta, vou-te foder a boca toda, hás-de aprender a parar nas passadeiras, otário de merda, esfolo-te já os colhões", e etc. e etc. e etc. O sujeito percebe que não tem estofo para encarar a situação, mete-se a toda a brida no veículo e zás, toca de zarpar dali, para imensa fúria minha, que já estava a escassos metros do carro. Ainda lhe mando um "Hás-de morrer enrabado por um elefante", que causa asco aos ouvintes (meia Lisboa, considerando o volume elevadíssimo em que gritei esta porcaria). Frustrado, conto até 10 e volto atrás, isto enquanto os lisboetas olham para mim como se fosse Lúcifer incarnado...

Enfim, ser humano é isto...

4 comentários:

Ninja! disse...

Hahaha! E com toda a razão, olha que paspalhão, hein? xD

Ilda disse...

Ahahahaha! Eu ainda sou do tempo em que no metro (lembras-te)te ouvi mandar toda a gente "levar no pacote"!!! Nesse dia estavas mais soft!!!

de Marte disse...

Até a ser mau és bom!!! muito bom!

NUNIX disse...

Eu tb sou assim pró cabron qndo nos picam temos de o ser, pelo menos por cá vai sendo habitual, sei que em Lx deve ficar a tal meia Lisboa escandalizada, enquanto a outra meia fica com dores de barriga de tanto rir! :p