sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Ser benfiquista (numa família disfuncional). Antecipação do Sporting-Benfica do próximo domingo.

(Na sala, encontra-se o Pai, sentado num cadeirão defronte do televisor. Sintonizado na SportTv, o aparelho debita feedbacks do jogo grande do dia: Sporting – Benfica. Na cozinha, está a Mãe, lavando diligentemente a loiça do jantar)

Pai (para si): Filhos da puta destes jogadores de merda… Ganham tanto dinheiro e é o que se vê… agora a perderem com os cabrões dos lagartos!!! (para a esposa): Ó Maria, quando acabares aí o serviço, traz-me mais um café!
Mãe (gritando da cozinha): ‘Tá bem!
Pai (continuando a falar para si): Mas que filhos da puta… quando o rapaz chegar, ‘tou bem f*dido, ‘tou.

(Mal profere estas palavras, ouve-se o abrir da porta de entrada. É Ricardo, o filho do casal)

Ricardo: Então, ó cota? Viste aquele baile? 3 a 0, na peida!!! Embrulhem, lampiões!
Pai: Olha, ‘tá mas é caladinho! Raio do miúdo, tanta merda que podia ser na vida, tinha logo de dar em sportinguista! Devia ter-te enfiado mais porrada nesse lombo quando eras pequeno…
Ricardo: ‘Tás chateado comigo, ‘tás?! Devias era mandar vir antes com os defesas do teu clube! Cambada de anjinhos, hahahah… não pescaram uma. Bem feito! (para a mãe): Ó mãe, ainda há cerveja no frigorífico?
Mãe (da cozinha): Há sim, queres que tire uma para fora?
Ricardo: Sim, já aí vou buscar. (para o pai): O teu clube ‘tá uma merda, ó cota! O Sporting agora domina e tu devias era sentir-te orgulhoso por teres um filho com tanto bom gosto clubístico.

(Ricardo dirige-se para a cozinha)

Pai (irritado como tudo, grita para o filho): Ah, cabrão do fedelho!... ‘Tás a fazer pouco de mim, ‘tás?!?! Só porque a merdinha do teu Sporting ganhou ao Glorioso? Pois ficas a saber: tenho mais orgulho da tua irmã, que é puta, e drogada, e não toma banho, do que de ti, porque ao menos ela é benfiquista, não é como tu, seu… seu… seu traidor! Preferia que desses também o cu, e que andasses metido na droga, e que não te lavasses, a seres adepto daquela imitação de clube. Se não fosses meu filho, dizia para te ires f*der, mas como és, mando-te só pró c*ralho!!!!

(Ricardo regressa à sala com uma lata de cerveja na mão)

Ricardo: Isso é que é um amor que me tens, hã?! Não faz mal, eu perdoo-te, afinal até compreendo a tua raiva. 3 a 0 na peida, toma!!!
Pai: Olha, cala-te! (para a esposa): Ó Maria, esse café?
Mãe (da cozinha): Sai já, está a fazer!
Ricardo (apontando para o televisor): Olha, vão dar outra vez os golos! (pausa) Ih, olha lá: já está, 1 a 0! Chupa!!! (ri-se) Toma, outro, hahahahah… aquilo não é uma dupla de centrais, é um passador… olha, olha, vem aí o terceiro… que jogada… o centro… e agora o rematezorro, pimba, GOLO!!!! Hahahahah, chupa, Benfica!!! (bebe um prolongado gole de cervja) Lindo…
Pai: Olha, uma gaita!

(A porta da entrada abre-se novamente. É Sara, a filha prostituta-agarrada (e anti-banho) do casal. Vem visivelmente cansada)

Sara: Boa noite.
Ricardo: Oi, mana.
Pai: Boa noite, filha. Então, como correu o teu dia?
Sara: Pfff… assim-assim. Vou só ali para o meu quarto dormir durante meia-hora, depois tenho de ir trabalhar para a esquina.
Pai: Então, hoje já não te dói o rabo?
Sara: Dói um bocado, mas a vida é mesmo assim, feita de sofrimentos. Enquanto cá andar, tenho de aguentar.
Pai (para Ricardo): ‘Tás a ver, meu parvalhão? Isto é que é uma mulher! Ali, de luta! É só fibra!
Sara: Pai, e como é que ficou o nosso Benfica?
Ricardo: Ahahahahahahahah!!!
Pai: Olha, perdemos. O clubezeco do degenerado do teu irmão espetou-nos com três secos.
Sara: Que treta. Eu não vi o jogo, andei a chutar para a veia e por isso não consegui acompanhar. (para Ricardo): Tu é que ‘tás todo contente, não é meu estúpido?
Ricardo: Então não? O Sporting fez ao Benfica aquilo que os teus clientes te fazem todas as noites (simula três movimentos de penetração) Toma, toma e toma!
Sara: Estúpido! Vai à merda!

(Sara retira-se para o quarto. À sala, chega a mãe, trazendo o café, e entrega-o ao esposo)

Pai: Obrigado! Eu devia era estar a mandar-te um tareão por causa da derrota do Benfica, mas sinto-me tão em baixo… vamos lá a ver se mais este café me faz bem. Logo se vê depois…
Ricardo: 3 na peida! 3 na peida!!!

[Fim]


Tanis
(obra de ficção sem qualquer
base na realidade.
Afinal, onde é que o SCP
tem condições
para mandar 3 ao SLB?
Nem na ficção… que porra!)

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

O verdadeiro problema das gordas feias

Todos nós conhecemos alguém como a que vou passar a descrever, seja no emprego, seja na área de residência, seja na escola/universidade, seja no bar de alterne do qual somos clientes habituais. Enfim, seja onde for, há sempre uma gorda feia que se queixa da vida e da sua triste situação amorosa. O discurso da gorda feia é igual em todo o lado: “Buh-uh, que vida tão triste, ninguém me ama, ninguém me quer, os homens só dão importância ao aspecto físico, e eu nasci gorda e feia, se tivesse nascido magra e bonita, andavam todos atrás de mim, buh-uh, que raio de sociedade é esta que só valoriza as aparências?, buh-uh”. Admito que me compadecia sempre que contactava com um caso destes, pois identificava-me com a pessoa: apesar de não ser uma gorda feia, sou um magricela feio, e isso impede-me, tal como às gordas feias, de ter as mulheres, os homens e os Josés Castelos Brancos que quero. O que me deixa muito triste, como é natural.
Porém, recentemente comecei a mudar de ideias. A típica história da gorda feia já não me convence. Ná! Descobri que, por detrás daquele argumento, à partida tão certo e convincente, se esconde algo que, em lugar da compaixão, desperta raiva e mesmo vontade de atirar qualquer gorda feia queixinhas para debaixo de um comboio ou, se quisermos aproveitar alguma coisa dali, para um matadouro de gado.
Não me interpretem mal: continuo solidário com as pessoas feias incapazes de viver um romance e/ou encontrar a cara-metade, até porque – como já referi atrás – eu próprio sou uma delas. Mas, caramba!, é essencial um pouco de coerência! E é precisamente aqui que a gorda feia falha: se a história a princípio vai bem e propõe um apelo do tipo platónico às essências em vez do julgamento meramente baseado nas aparências, a verdade é que, se procurarmos ir ao âmago dela (da história, não da gorda feia, olha que caraças!), verificamos que aquilo que realmente preocupa a gorda feia é outra coisa… Acompanhem-me no seguinte diálogo, e perceberão o quê (para maior facilidade, coloquei comentários meus entre parênteses retos):

Gorda Feia: Ó Tanis, pá, sou tão infeliz. [Lá está, o início sempre igual]
Tanis: Então, gorda feia, o que tens? [Lá está, a minha reacção compadecida]
Gorda Feia: Oh, é o Jorge, o Jorge não me ama! [Lá está, o mal de amor de que padecem as gordas feias]
Tanis: Vá lá, gorda feia, conta-me tudo, anda! [Lá está, continuo solidário]
Gorda Feia: Eu amo-o, mas ele não me ama. Aposto que é por eu ser gorda e feia! [Lá está, o diagnóstico que culpabiliza a condição física]
Tanis: Ó gorda feia, mas há muitos homens que não ligam a isso. E há até homens que gostam disso! [Lá está, eu sou mesmo bonzinho]
Gorda Feia: Não há nada, não há ninguém assim, os homens só querem boazonas, buh-uh! [Lá está, a crítica ao amor que dá importância apenas ao aspecto físico]
Tanis: Não digas isso, gorda feia. Por acaso, até conheço um tipo que gosta muito de ti e não se importaria de andar contigo, gorda feia. [Lá está, sou tão bonzinho, compreensivo e amigo que até é capaz de, um dia destes, a Academia Sueca me nomear para o Nobel da Paz]
Gorda Feia: Quem, Tanis? Quem?!?! [Lá está, um brilhozinho de esperança nasce por entre toda aquela gordura]
Tanis: O Carlitos, gorda feia! [Lá está, é que sou mesmo fantástico. Nem o próprio Cupido faria melhor]
Gorda Feia: Quê, o Carlitos?! Mas tu estás parvo?!? O Carlitos, aquele careca desdentado e borbulhento? Para que quero eu um homem assim? Eu quero é o meu Jorge, oh, o meu Jorge, tão lindo que é, mas ele só gosta de mulheres bonitas, buh-uh! [Lá está, a gorda feia acaba de tirar a máscara e revela a sua verdadeira face: é ainda mais gorda e feia]
Tanis: Ó gorda feia, e se fosses à merda?! [Lá está, a minha mudança de atitude. Que se lixe a gorda feia]

É este o problema das gordas feias! Elas cometem o mesmo erro de que acusam os homens, ou seja, elas não querem simplesmente um homem, querem sim um príncipe encantado, belo, jeitoso, de preferência rico e que saiba ver para além das aparências, quer dizer, que as ame enquanto gordas feias. As gordas feias, além de gordas, e feias, são hipócritas, porque afinal se importam com as aparências sim, e muito. Não é qualquer um, como o Carlitos, que as satisfaz; elas querem o top dos tops, aquele choradinho todo não passa de conversa. Raios partam as gordas feias, não interessam mesmo a ninguém...

Tanis

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Crianças grandes... são piores que as pequenas!

Todos nós já fomos crianças. Alguns, como eu, ainda continuam a sê-lo. E todos passámos, certamente, por episódios de altercação com amigos. Sempre que havia uma discussãozita com um(a) colega de bairro ou de escola, as alternativas eram: ou resolvê-la a bem ("pá, vai-te lixar, estou farto disto, vamos mas é jogar à apanhada"), ou resolvê-la a mal, o que incluia passar a vias de facto com a pessoa em questão, ou pedir a outros que resolvessem o problema por nós. Neste último caso, o mais comum era o procedimento que dava pelo nome de "queixinhas": chegávamos ao pé dos nossos pais e dizíamos "mamã/papá, o não-sei-das-quantas chamou-me nomes!". Os resultados disto também podiam ser múltiplos: ou os pais faziam ouvidos moucos e deixavam ficar as coisas como estavam, ou, pior, ainda nos enfiavam uma estampilha nas fuças, ou ficavam do nosso lado e iam tirar satisfações com os pais da pessoa com quem estávamos desavindos.
E era nesta última situação que as coisas ficavam realmente divertidas. Quando o nosso pai, ou a nossa mãe iam tocar a casa do não-sei-das-quantas para resolver o imbróglio, acontecia quase sempre um espectáculo digno de ser visto: ou gerava-se logo ali zaragata, com as famílias de ambos os lados a envolverem-se numa batalha digna do Juízo Final, ou a mãe/pai do não-sei-das-quantas tentavam disciplinar o filho agressor, enfiando-lhe uma estampilha nas fuças. É claro que, previamente a isto, havia sempre o confronto directo entre agredido e agressor: "O seu filho chamou nomes ao meu filho", dizia a mãe ou o pai do agredido, "Ah é, vamos lá ver: anda cá, ó ranhoso!", dizia a mãe ou o pai do agressor, "Não chamei nada", dizia o petiz agressor, "Chamastes sim, toda a gente viu", dizia o petiz agredido, "Não chamei", continuava a defender-se o agressor, até que levava finalmente com o par de estalos e retirava-se, e tudo acabava em bem.
Mas as crianças, infelizmente, crescem. E quando crescem, parece que perdem o dom de resolver os assuntos com a simplicidade acima descrita. É o que verifico face à recente disputa que se gerou entre Paulo Portas e o ministro da Agricultura, Jaime Silva. Tudo começou à típica maneira infantil: "Ah, o ministro é caloteiro e não paga aos agricultores", dizia o Paulinho, "Não sou, o Paulo é que é caloteiro, olha o Casino, olha a Portucale", dizia o Jaiminho, e tudo ia muito bem, a malta esperava até por um combate físico, com o Paulinho a arrancar o bigode do Jaiminho à dentada e o Jaiminho a espetar um pontapé nos tomates do Paulinho, mas um dos meninos decidiu acabar com a brincadeira e, em vez de chamar a mamã, resolveu apelar para os tribunais.
A isto, as pessoas normais chamam de "resolver as desavenças de forma adulta", e eu chamo de "uma ganda treta!". Porque apelar aos tribunais é jogo sujo. É desonesto. É dizer: "ah, aquele menino chamou-me nomes, quero uma indemnização". É cobarde! É vil! E é estúpido. E continua a ser uma criancice, embora encapotada. Criancice porque já estou a ver o esgrimir de argumentos entre os dois em plena sala de tribunal:

Paulinho: Sr. Juiz, quero que condene o ministro da Agricultura e quero ser por ele indemnizado.
Juiz: Com que fundamento?
Paulinho: Ele chamou-me coisas feias.
Juiz: É verdade, senhor ministro?
Jaiminho: É sim, mas ele chamou-me coisas feias primeiro.
Paulinho: Não chamei!
Jaiminho: Chamastes!
Paulinho: Não chamei nada!
Jaiminho: Chamastes, mil vezes!
Paulinho: Não chamei, vezes até ao infinito!
Jaiminho: Sr. Juiz, olha ele!
Paulinho: Não sou eu, és tu!
Jaiminho: Não sou nada, tu é que és!

e por assim adiante... Não há ninguém que venha colocar estas duas crianças de castigo?!?

Tanis

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Malditos portugueses...

Na pseudo-cidade em que resido, foi recentemente restaurado um jardinzinho à beira-rio (se é que posso apelidar o Trancão de “rio”…). A obra não pode ter sido feita a pensar nas autárquicas (afinal ainda falta algum tempo…), portanto desconheço a razão que subjaz à sua realização, mas a verdade é que nem ficou com mau aspecto. Construiu-se até uma pequena ponte, em ripas de madeira, para servir de travessia ao curso de água. Até aqui, tudo bem: remodelou-se um espaço e até se lhe acrescentou uma mais-valia.
O problema é que isto foi executado em Portugal e não num país civilizado. Porque é que digo isto? Porque, calculem lá, menos de dois meses depois da sua construção, a coitada da ponte já se encontra escavacada! Algumas ripas caíram ou foram arrancadas, fazendo com que passar por ali se torne numa aventura digna do Indiana Jones. Das duas uma: ou os construtores foram incompetentes e a peça ficou mal feita e demasiado frágil, ou, hipótese para a qual me inclino, os nossos amigos vândalos já tomaram conta do assunto (realmente, a ponte tem todo o ar de ter sido vandalizada).
Por isso, pergunto: esta gente não tem sítios melhores onde fazer buracos? Por que não esburacam os traseiros uns dos outros? Ou vão antes para o Iraque, pois é lá que precisam de gente assim! Para o Paquistão, para a Tchetchénia, sei lá, para o raio que os parta, malditos refugos do tecido social! Querem partir coisas? Partam antes daqui para fora! Querem rebentar cenas? Rebentem as respectivas cabeças! Querem vandalizar? Vandalizem-se mutuamente, aposto que irão gostar! Bestas dum raio…

Tanis

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

O tempora! O mores!

Que é como quem diz: Ó tempos! Ó costumes! De vez em quando, fica bem colocar uns títulos em latim, só para as pessoas pensarem que o Peter of Pan é um blog de qualidade intelectual bem elevada. Coitadas, digo eu…
Normalmente, quando esta expressão (ao que parece, cunhada por Cícero) é usada, surge em contexto depreciativo, querendo significar que os tempos actuais são péssimos, fruto de uma degeneração das morais, dos costumes, dos valores. Contudo, invoco hoje esta expressão para dar conta justamente do oposto, quer dizer, pretendo afirmar – com convicção – que vivemos tempos bem melhores do que os de antanho. Surpresos?! Deixarão de estar após lerem a explicação que se segue.
Comparem, aqueles que viveram nessa época, por exemplo, os anos 80 do séc. XX com o presente milénio em que vivemos. Há algo a que não podemos virar a cara: as miúdas, hoje, são muito melhores (leia-se “mais boas”). Ou, pelo menos, destacam-se mais. Eu sei, trata-se de uma afirmação polémica, mas sustento-a tendo por base estes pormenores:

As raparigas adquirem a maturidade física cada vez mais cedo. Lembro-me de que, durante a minha adolescência, para galar uma gaja jeitosa, tinha de me dirigir às salas dos 11º e 12º anos, pois nessa época só as tipas de 17 anos para cima é que eram alguma coisa de jeito. Actualmente, não. Passamos por qualquer escola secundária e constatamos que as pitinhas de 14 e 15 – por vezes até menos – já possuem traseiro e seios de respeito. Quod Erad Demonstrandum!

A emancipação sexual é, ela também, cada vez mais precoce no contexto urbano. Se, antigamente, eram as meninas do campo aquelas que perdiam a virgindade junto dos fardos de palha quando contavam 13 anos ou menos, hoje em dia são as meninas da cidade a levar vantagem. A intensificação da vida nocturna, associada à conivência e despreocupação dos pais, que já não ligam se as filhotas chegam tarde a casa, resulta em engates fáceis com probabilidade de sexo.

Desculpem-me, mas em matéria de moda, os anos 80 eram ridículos. Agora, as garotas não só vestem bem como, mais importante ainda, produzem-se de acordo com a ocasião, deixando porém sempre no ar a eventualidade de um truca-truca. As roupas de hoje despertam muito mais a libido masculina do que antigamente, e os estilistas sabem disso, e as miúdas que as vestem igualmente. E eu também sei do que falo, pois os meus percursos de autocarro e metro tornaram-se verdadeiras aventuras a partir de meados dos anos 90, levando-me sempre a colocar a mochila diante da zona pélvica para não chocar (com) ninguém. Aquele que nunca ficou excitado durante uma viagem de transporte público que atire o primeiro pau.

Por estes motivos é que exclamo O tempora! O mores! Que bons que são, que bons que são…

Tanis

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

As virtudes de um bom "Foda-se!"

[este post contém linguagem estúpida e ofensiva]

O

Ontem, estava num “daqueles” dias. Havia dormido mal, as refeições também não caíram lá muito bem, doía-me a barriga, e a cabeça, tinha uma unha encravada, e comichão no escroto, e no rego do rabo, a vista cansada, os ouvidos faziam “ziiiiinnn”, tremia das mãos, e dos pés, e do escroto, coisas estúpidas passavam-me pela cabeça, e pelo coração, e – adivinharam – pelo escroto. Pois é, foi um desses dias em que, como se costuma dizer, um gajo não deve sair de casa. Mas eu saí, porque acredito na ditadura do proletariado e, como bom proletário que sou, fui proletariar um bocadinho.
No entanto, foi duro. Não me encontrava visivelmente em condições de desempenhar correctamente as minhas tarefas, portanto entreti-me a ver uns 2 ou 147 sites porno. Só que isto teve efeitos contraproducentes: se o dia já estava a ser duro, mais duro ficou… Não admira que, quando chegou finalmente a hora de saída, eu tenha sentido um certo alívio. E o meu escroto também!
Peguei então nas minhas coisas e encetei a viagem de regresso a casa, algo com o qual eu já ansiava. Afinal, as maleitas que sentia desde manhã continuavam a não dar tréguas, e nestas ocasiões uma pessoa pensa sempre que está melhor em casa, embora isso não seja necessariamente verdade. Porém, para chegar ao lar, doce lar, ser-me-ia preciso enfrentar o stress dos transportes públicos, e a gente já sabe que estes têm a estranha qualidade de conseguir piorar aquilo que já nos corre mal. Ora, foi justamente isso que me aconteceu: além de todos os problemas acima identificados e descritos, caiu-me logo em sorte ter de levar com o metro apinhado, com gente a pisar-me a unha e, pasme-se, a impedir-me de coçar o escroto! Devido a tudo isto, a tampa estava prestes a soltar-se-me… e soltou-se mal saí da estação! Lá fora, exposto à noite e ao frio, olhei para os dois lados, encostei-me a uma parede, segurei o escroto, larguei-o, inspirei fundo, levantei a cabeça para o céu nublado e libertei um sonoro, terrível, intenso, assustador e avassaladoramente lindo “FODA-SE!” E, cerca de dez segundos após o último vestígio da palavra se ter dissipado, acrescentei com brio “Foda-se esta merda toda, pá!”.
Fiquei logo a sentir-me melhor, sem dúvida, e isso levou-me a considerar com algum cuidado as propriedades catárticas e paliativas de um belo “foda-se”. Pensei, cá para mim: “Olha, anda este pessoal a tomar prozac, a consultar psiquiatras, a ver os programas da Júlia Pinheiro ou, se tiverem tv por cabo, da Oprah e do Dr. Phil (fooooda-seeee!!!!!!), quando tudo o que basta é um apaixonado e sentido «foda-se»? Olha, foda-se!” Convencido por esta panaceia, capaz de curar males do corpo e do espírito, fui libertando aqui e ali uns “foda-se” até chegar a casa. Esta acção fez alguns seres, que comigo se cruzavam, lançarem-me olhares reprovadores, mas valeu a pena, posso garantir-vos, portanto foda-se!
Sendo assim, é este, pois, o conselho prático que deixo a todos:

Têm uma unha encravada, ou o escroto armado em parvo, ou dor de barriga, ou sono, ou fome, ou frio, ou tudo isto junto? – Então: “Foda-se!”

Levaram com os pés e não sabem o que fazer da vida? – Então: “Foda-se!”

Estão numa aula chata como a potassa, dada por um professor mais estúpido do que um leucócito que tem passado os últimos anos em coma profundo, e no entanto se julga mais inteligente do que o Einstein quando este desenvolveu a teoria da relatividade restrita? – Então: “Foda-se!”

O vosso clube de futebol já não têm qualquer hipótese de lutar pelo título, visto encontrar-se a 14 mil pontos do primeiro lugar? – Então: “Foda-se!”

Chegam a casa para dar uma na mulher mas descobrem que ela está no período fértil, o que é uma gaita, pois não querem mais filhos, já que aquele único ranhoso que têm, o Zé Conas, vos chupa o salário todo e dá chatices a rodo, mas pôr o preservativo está fora de questão, uma vez que são muito católicos, e o Santo Padre e os paneleirecos dos Cardeais não aprovam o uso da camisa-de-vénus, portanto mandar uma queca tem de ficar para outra altura e sendo assim pensam que o melhor é mesmo correr para a casa de banho e bater uma, só que quando já estão com a mão a descer e a subir pelo corpo cavernoso, lembram-se de que o Vaticano também condena o raio da masturbação e o caralho, ou melhor, a masturbação do caralho, ou será no caralho, ou com o caralho, enfim não interessa, o que interessa é que têm de voltar a puxar as calças para cima e fechar a braguilha, mas com cuidado para não magoar o mastro que ficou com uma tesão do caralho, e desta forma vão para a sala ligar o televisor na TVI e ficam a galar as mamas da Ana Sofia Vinhas, isto enquanto o Zé Conas espatifa mais um candeeiro a jogar à bola dentro de casa, quem ele pensa que é, o Cristiano Ronaldo, raio do puto? – Então: “Foda-se!”

Pois é, minha boa gente: “Foda-se” é a resposta, "Foda-se" é o melhor remédio. Acreditem em mim. Não acreditam? Então, f…

Tanis

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Com amigos destes...

Aqui há cerca de um ano, logo após um belo e disputadíssimo jogo de futebol em que a minha equipa perdeu por 2345563 a 5, um dos meus melhores amigos virou-se para mim e disse-me:

- F*da-se, ó Tanis, que c*ralho de jogo! E se fosses levar na pe*da, tu mais essas tuas fintinhas de p*ta?

E, de seguida, acrescentou:

- Ó Tanis, tu estás uma autêntica sombra daquilo que já foste!

À conta deste comentário, o meu amigo queria alertar-me para a minha visível falta de forma física e concomitante (e alarmante) perda de qualidades técnicas. O que não deixa de ser verdade: nos bons e velhos tempos, eu marcaria 20 golos em pouco menos de 5 minutos; hoje em dia, o meu score cifra-se por umas meras 11 ou 12 finalizações no mesmo período de tempo – e o pior é que são na própria baliza! Desta forma, até compreendo a frustração do meu companheiro de equipa, mas o que querem?! Um tipo ultrapassa a fasquia dos 16 anos e, a partir daí, já se sabe, é a decadência!...
Pronto, está bem, eu não tenho 17 anos, mas até poderia ter. Não é isso que aqui está em causa. O que está em causa é, isso sim, a naturalidade e mesmo inevitabilidade da degeneração. Ninguém consegue manter intactas todas as suas características, e é perfeitamente normal elas perderem-se ao longo dos anos, apesar de todos os nossos esforços por mantê-las. É óbvio que também fico preocupado por já não conseguir cumprir como cumpria (estou, note-se bem, a falar SÓ e APENAS de futebol. Qualquer transferência para outro género de actividades não é para aqui chamada e não merece sequer os meus comentários, seus… seus… depravados!), é claro que fico irritado por os meus anteriormente excelsos dotes futebolísticos já não servirem, agora, nem para me atribuir um lugar no banco da equipa B do Alpalhão Futebol Clube, mas… é a vida! Que posso fazer? Rigorosamente nada, parece-me.
Portanto, se isto é desagradável para alguns dos meus supostos amigos e colegas do vício da bola, azar! Contratem um novo ponta-de-lança ou façam uma vaquinha e arranjem-me umas chuteiras que se movam a elas próprias, porque eu já não dou mais. Passei, tal como todo o actual plantel do Benfica, do meu prazo de validade e não vale a pena disfarçar tão evidente facto. Ou, como refere esse meu amigo:

- Estás todo f*dido, Tanis! Já não jogas um c*ralhinho!
Tanis

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Conto estúpido com 3/4 de erotismo, ou se calhar nem tanto

Frederico acabara de sair da sua moradia e preparava-se para meter as chaves na viatura quando Sara, a sua atraente vizinha e a quem Frederico já tentara saltar para cima por diversas vezes, se aproximou.
- Bom dia, Fred – largou ela, num tom sensual típico de quem acordou há poucos minutos apenas – Não te importas de me dar boleia?
- Não, não me importo. Mas vens já?
- Dá-me só 10 minutos para tomar um duche e vestir-me. Podes entrar, se quiseres.
Em resposta a este convite, os cabelos de Frederico eriçaram-se-lhe. Eriçou-se-lhe também outra coisa, mas o narrador tem vergonha de dizer o quê.
- O Renato não está? – procurou sondar. Afinal, Renato, o companheiro de Sara, tinha fama de irascível e certamente não veria com bons olhos a presença de outro homem lá em casa, ainda mais enquanto Sara tomasse banho.
- O Renato… bem… o Renato já não mora comigo. Podes entrar à vontade, Fred.
Ao ouvir isto, o coração de Frederico começou a bater descontroladamente, e aquela outra coisa que se lhe eriçara encontrava-se agora numa tal posição que ameaçava qualquer um que, por vontade própria ou obra do destino, resolvesse sentar-se no colo de Frederico. Enquanto se dirigia para a vivenda de Sara, não conseguia evitar ter um único pensamento: “Será hoje, será hoje?”.
- Entra, vá – atirou ela, após ter aberto a porta da entrada – Não ligues à desarrumação. Senta-te aí no sofá e lê o jornal do Sporting – acrescentou.
- Ok. Não te demores – proferiu Frederico.
Sara dirigiu-se para o seu polibã e Frederico resolveu pegar no jornal. A simples tomada de contacto com os resultados do Sporting nas diversas modalidades do clube serviu para lhe acalmar o coração e baixar a outra coisa. Respirou fundo, sentiu o sangue afluir de novo ao cérebro, inclinou ligeiramente a cabeça para trás e fechou os olhos.
Ouvia-se a água a correr. Frederico abriu lentamente os olhos e pôs-se de pé. A outra coisa também. Furtivamente, foi atrás daquele som e chegou à porta da casa-de-banho, que se encontrava convidativamente aberta.
- Não, a tipa está mesmo a pedi-las. E vai tê-las, nenhum homem, sportinguista ou não, resiste a tanto! – murmurou para si mesmo.
Abriu a porta e entrou, sem fazer o mínimo ruído. A silhueta esguia de Sara destacava-se contra o vidro baço do polibã e obrigava Frederico a engolir em seco. Resoluto, despiu-se o mais rápido que pôde, enfrentando uma verdadeira batalha contra as suas cuecas, e enfiou-se no polibã.
- Demoraste mais tempo do que eu previa – afirmou Sara, jocosamente – Mas, pelo que vejo – continuou, lançando um olhar rápido à genitália do seu vizinho – vens mais do que preparado!
Beijaram-se e abraçaram-se ardentemente, quase estilhaçando o vidro. O que fizeram em seguida, o narrador não vai contar porque, como já afirmou antes, é um bocado envergonhado. Por isso, vai antes colocar um poema, da autoria de Charles Baudelaire, no lugar da descrição apaixonada do jogo entre dois corpos em pleno êxtase dos sentidos.

Os claustros mais antigos, nas paredes grandes,
Mostravam em painéis a imagem da Verdade,
Cujo efeito, aquecendo as devotas entranhas,
Tornava menos fria a sua austeridade.

Nesses tempos de flor pràs sementes cristãs,
Mais de um ilustre frade, hoje pouco citado,
Escolhendo os cemitérios para meditação,
Glorificava a morte com simplicidade.

- A minha alma é uma tumba que, mau cenobita,
Desde a eternidade percorro e habito,
Sem nada que embeleze os seus claustros odiosos.

Ó monge mandrião! Quando saberei fazer
Do bem triste espectáculo da minha miséria
O suor destas mãos e o amor destes olhos?

Após o acto consumado, decidiram embrulhar-se em toalhas e regressaram até ao sofá da entrada. Sara pegou num cigarro e Frederico voltou a ler o jornal do Sporting.
- Então, Fred – perguntou ela, entre duas baforadas – já sonhavas com isto há muito tempo, não? – e sorriu, de forma um tanto ou quanto cínica.
- Sim! – respondeu Frederico, timidamente, largando o jornal a um canto.
- Eu também. Só não fiz isto há mais tempo por causa do chato do Renato. Felizmente, lá consegui livrar-me dele.
- E agora, o que se segue? – inquiriu Frederico.
- Bem – retorquiu Sara, prontamente – a partir de hoje, será sempre assim connosco: amor, romance, paixão, sexo, do mais intenso e tórrido que pode haver. Beija-me já, seu parvo, e vamos a outra rodada!
E foram. E continuam. E por causa disso, uma vez que o narrador tem imensa vergonha (não sei se já vos tinha dito), o conto vai parar por aqui.

Tanis

terça-feira, fevereiro 19, 2008

paneleirice.blogspot.com

Após largo tempo de resistência, lá cedi e a partir de agora vou também aderir à paneleirice das etiquetas. Só que com uma pequeníssima diferença: enquanto que as pessoas normais colocam etiquetas que têm a ver com o conteúdo escrito dos posts, funcionando como úteis keywords, eu não procederei assim. As minhas etiquetas serão únicas, terão um valor próprio e não meramente utilitário, não se deixarão reduzir à submissão temática a um qualquer post. Não! As minhas etiquetas não terão nada, nadinha a ver com os posts, nem sequer subrepticiamente. Na verdade, não terão nada a ver com nada!
Por que razão faço isto? Ora, por uma questão de ironia e protesto. Cedo sim a mais esta paneleirice do blogspot, mas recuso-me a permitir que ela tenha a função que esperariam dela! É isto mesmo, ponto final.
Sedicioso, eu? Hããããããã... só um bocadinho!

Tanis

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Lúcidos comentários acerca de Sweeney Todd

No sábado passado, tive - finalmente - oportunidade de ir ver o Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street. Uma única palavra para classificar o filme, e vai em caixa alta, negrito e decomposta em sílabas, para efeitos de ênfase: MA-GIS-TRAL! É Tim Burton no seu melhor, talvez mesmo o mais Tim Burton de todos os seus filmes! Sim, temi que o realizador/argumentista tivesse perdido a mão, isto após ter feito dois filmes que, a meu ver, estão algo fora da estética e mundividência burtonianas; falo, é claro, de Charlie & the Chocolate Factory e de Big Fish, que me parecem demasiado alegres, coloridos e poppy para o seu próprio bem. A verdade é que, felizmente, Sweeney Todd recupera aquelas propriedades que eu espero e exijo de Tim Burton: negritude, tristeza, cenários tétricos e sinistros, mas tudo condimentado com um precioso e subtil toque de humor negro (no Sweeney Todd, basta atentar na, como lhe chamo, "Canção da empada", protagonizada pela Helena Bonham Carter: absolutamente deliciosa - a canção e a Helena...). Eram estas propriedades que eu encontrava e tanto admirava em filmes como Edward Scissorhands, a dupla The Nightmare Before Christmas/The Corpse Bride, Sleepy Hollow ou até mesmo os dois primeiros Batman. Ora, a elas Burton acrescentou agora outra que é, para mim, uma mais-valia em Sweeney Todd: um notável bom gosto na filmagem de cenas gore. É certo que isto não é de todo uma novidade, pois Sleepy Hollow já apresentava um pouco isso, com tanta cabeça cortada e tal, mas Sweeney Todd eleva essa tendência, agudiza-a e até a embeleza ao longo das múltiplas degolações. E isto é deveras interessante, não só pelo efeito plástico que produz - e que é sublime, no sentido kantiano da palavra - mas também pela reacção que provoca nos espectadores: na sessão em que fui, algumas pessoas não aguentaram e esconderam a cara nos momentos mais explícitos - uma delas encontrava-se precisamente a meu lado... :) -, enquanto outras soltaram exclamações de "ai, que horror!". Eu, confesso, não fui uma delas. Chamem-me insensível, chamem-me louco, chamem-me problemático, chamem-me disfuncional, mas... gostei mesmo das degolações, são mesmo um must para a película!
Considero ainda que Sweeney Todd não perde rigorosamente nada por ser um musical, antes pelo contrário. As composições (que, diga-se, são excelentes e completamente adequadas) oferecem ao filme um ritmo e uma, vá lá, "vida" que este não teria se fosse convencional, ou seja, cuja história se desenrolasse apenas à custa das imagens e dos diálogos. As canções acrescentam efectivamente algo e permitem igualmente que as quase 2 horas de fita se "escoem" sem darmos por isso. Pessoalmente, nunca pensei que a coisa pudesse funcionar tão bem, mas a verdade é que funcionou, e Tim Burton, os compositores e os actores (com destaque para a menina que faz o papel de Johanna, com uma interessante voz de soprano - digo eu, percebo lá alguma coisa de vozes...) estão de parabéns por isso.
Falando nos actores, eles foram sem dúvida dos elementos mais surpreendentes/impressionantes no Sweeney Todd. Por exemplo:

  • Helena Bonham Carter. Admito: nunca fui grande fã nem nunca me despertou particular atenção, mas agora... bem, converti-me! Ela está encantadoramente sinistra e sinistramente encantadora! Magnífica! Passou a constar da minha restrita galeria de musas inspiradoras, que agora deve andar em cerca de 495830598640823 gajas!
  • Alan Rickman. Há coisas que um tipo jamais espera ver na vida, por muito que sonhe. Eu, pelo menos, não creio ter algum dia a felicidade de ver o Sporting a ganhar a Champions League, ou de ler um bom livro escrito por um filósofo português, entre outras coisas. E também nunca esperei ver o Alan Rickman (yiipi cahiey, motherfucker - quem não se lembra do Die Hard?) cantar. Porém, pasme-se!, é o que acontece no Sweeney Todd. Este mundo está perdido...
  • Johnny Depp. Se dúvidas houvesse, ficaram definitivamente desfeitas: o sacana tem mesmo talento. Fdp...
  • Timothy Spall. Muito bom. Sinceramente, creio que este tipo possui dos melhores rostos para vilão dentro do cinema de hoje em dia. Já tinha ficado com essa sensação ao ver os Harry Potter em que ele actua, e essa ideia saiu agora reforçada.
  • Sascha Baron Cohen. Ver Sascha Baron Cohen (aka Borat, Ali G) ser degolado é, quanto a mim, priceless! :)

Por último, deixo-vos aqui um enigma, inspirado no famoso paradoxo do Barbeiro:

Há em Fleet Street um barbeiro que
a) Corta a garganta a todas as pessoas que não cortam a garganta a si próprias;
b) Só corta a garganta às pessoas que não cortam a garganta a si próprias

Este barbeiro existe? Pensem nisto... :)

Tanis

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Dilemas de uma vida a dois ou onde está a filosofia quando é precisa?

Este é um post dirigido sobretudo aos leitores homens do Peter of Pan. Mas os leitores não-homens (o que inclui mulheres, símios e a Odete Santos) também podem perder aqui um bocado de tempo, uma vez que o tema a tratar também lhes diz respeito.
O problema que venho levantar é então o seguinte: por que carga de água os filósofos não nos dão conselhos práticos para a vida do dia-a-dia, em particular quando essa vida envolve uma relação eu-tu/tu-eu com outra pessoa? Passo a narrar uma situação real onde a filosofia ainda não tem, hélas, uma intervenção premente:

- Ó amor, desculpa lá, parti mais 7 copos e 13 pratos enquanto lavava a loiça.
- Outra vez?!? Que raios?!... Já é o 327º prato e o 59º copo que espatifas nos últimos três dias e meio. E olha que somos só dois a comer. Não sei como consegues isso, seu desajeitado do caraças!...
- Mas…
- “Mas”, uma pinóia! A tua mãe não te ensinou a lavar a loiça? Ou será que és demasiado burro para aprender? Se essas porcarias que andas sempre a ler não te ajudam, o melhor é deitá-las fora!
- NÃO! Não faças isso ao meu Hegel, ao meu Platão, ao meu Descartes!...
- Isso tudo não passa de desperdício de papel. Vai mas é aprender a lavar pratos como deve ser. Essa imbecilidade da metafísica só te faz é mal e não dá auxílio nenhum na lida da casa. E amocha, senão vou contar ao José Gil.
- …

Cá está! Por que não existe, nas obras filosóficas que infelizmente foram sendo escritas nos últimos dois milénios e meio, uma solução ou, pelo menos, um conselho que seja para casos afins? Quer dizer, os filósofos passaram a vida a dissertar acerca das Ideias, das Formas, da Moral, da Justiça e outras porcarias sem sentido, mas quando tocava a falar de coisas realmente importantes, como a loiça, o caixote do lixo ou a tampa da sanita, nicles: imperava neles uma espécie de silêncio cavaquista. Considero que isto tem uma razão social por detrás: quase todos os filósofos eram aristocratas ou ricos burgueses, o que lhes permitia não se sujeitarem a tarefas mundanas, as quais ficavam sempre a cargo de serventes e criados. E, muitas vezes, fossem burgueses ou aristocratas ou nem uma coisa nem outra, eram homossexuais, e isso evitava que passassem por diálogos asfixiantes como o acima descrito. Afinal, um homossexual que não saiba lavar a loiça não é um homossexual, é um mariquinhas, e não tem uma mulher/esposa/companheira/namorada impiedosa a melgar-lhe os ouvidos e sim outro paneleireco de estilo semelhante ao seu.
Deste modo, ficou aberta uma lacuna no pensamento filosófico desde os pré-socráticos até aos nossos dias, lacuna essa que o Peter of Pan quer, naturalmente, combater.
Daí o meu apelo inicial aos leitores homens. É em nós que reside a esperança de uma filosofia mais prática. Sim, em nós, que não somos nem burgueses, nem aristocratas, nem tão-pouco (falo por mim, pelo menos) gays. Comecem já a redigir sugestões, fico à espera enquanto desenvolvo o meu próprio pensamento nesta matéria.


Tanis.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Enormes seios...

Não digam a ninguém, mas nunca vi os meus pés sem ser ao espelho


Um destes dias, tomei contacto com a seguinte e espantosa notícia:

Peito de Dolly Parton não a deixa partir em digressão
Dolly Parton foi forçada a cancelar a próxima digressão devido a problemas nas costas causadas pelo tamanho do seu peito. A cantora vai ter que repousar oito semanas. Em 2004, Parton admitiu reduzir o peito.
«O meu peito é a minha imagem de marca mas está a matar-me. Não sei quanto tempo mais conseguirei aguentar», disse.

Bem, não sei de quem tenho mais pena: da Dolly Parton por causa do peso do peito ou do peito por estar agarrado à Dolly Parton.
Mas a verdade é que, pelo meio desta história um tanto ou quanto caricata, se esconde um drama de proporções metafísicas deveras elevadas. Acompanhemos o problema: Dolly reconhece que, sem o seu espantoso busto, jamais será a mesma, seja para os outros, seja para si mesma. Podemos, então, afirmar com propriedade que o peito da Dolly faz parte da essência da senhora, e se o retirarmos, estaremos também a retirar à Dolly parte da sua identidade. Porém, se a diva da country music insistir em permanecer com as suas mamocas tal como estão, arrisca-se a ver degenerar a sua saúde e, quiçá, morrer devido a um distúrbio qualquer relacionado com as mamas (para um homem, seria uma bela maneira de morrer… para uma mulher, é capaz de não ser assim tão bom). É, pois, um interessante dilema este, e qualquer das soluções possíveis apresenta evidentes contrariedades, não só para a Dolly mas também – e principalmente – para o peito. Sim, porque o peito também corre riscos! O peito, certamente, não quererá ver-se diminuído, pois tal seria um atentado contra si (e contra todos nós, acrescento eu!); mas por outro lado, continuar unido à Dolly Parton, cuja única qualidade passa justamente por possuir os seios que possui, também não lhe deve agradar muito.
Portanto, respeitemos este caso. E tenhamos alguma compaixão pela senhora. E sobretudo, pelos seios da mesma, autênticas obras de arte que mereciam uma sala própria no Museu do Louvre, ou um pedestal no MOMA, ou uma moldura no Guggenheim, ou, sei lá, um título de exposição permanente no meu quarto!

Tanis

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Um aviso aos adolescentes em antecipação ao dia de S. Valentim!

Venho, nesta que é a véspera do suposto dia dos namorados, falar de algo muito, muito importante. Afinal, alguém tem de pôr cobro a esta situação. As pessoas de bem, como eu, não podem continuar a pactuar com comportamentos destes. Já chega de tanto incómodo!!! Ora, mas do que estou eu a falar? Disto: adolescentes que se beijam contínua e ruidosamente nos transportes públicos!
Bom, a ver se nos entendemos: nada tenho contra eles se beijarem. Nada tenho contra eles se beijarem continuamente. Mas… caramba!, precisam mesmo de fazer tanto barulho?! Será que eles não percebem o transtorno que causam com aqueles “sbluosh”, “shloch”, “mchuack”, “shlheps” e outras onomatopeias que, por decoro, evito transcrever? Não acham que já chega? Se calhar, o melhor é os meninos e as meninas comprarem silenciadores, de utilização obrigatória em caso de relacionamento a dois (ou mais, estes adolescentes de hoje andam muito liberais e pervertidos…)! É que não quero – repito, não quero! – passar por episódios como o deste início de tarde, em que estava sossegadamente no metro a ler a biografia do Cristiano Ronaldo e nisto entram dois adolescentes, ali no Campo Grande, que desataram a produzir um tal escarcéu de beijos que fui obrigado, tristemente, a interromper tão deliciosa e enriquecedora leitura. Até cheguei ao ponto de pedir à senhora sentada a meu lado para raspar com as unhas sobre o vidro, só para eu ter uma ideia de qual dos sons seria mais irritante. E adivinhe-se: os extensos linguados dos dois obtusos teenagers ganharam esse vil troféu!
Antes de se porem a pensar que estou a ficar velho e daí esta lenga-lenga invejosa, porque no fundo, no fundo, eu queria era andar também a curtir com uma pita de 15/16 anos pelo comboio, no autocarro, no eléctrico ou noutro local qualquer, digo apenas isto: sim, também eu nos meus tempos de jovem inconsciente curtia nos transportes públicos. Sim, também dava beijos, chupões e até mesmo apalpadelas. MAS TUDO DENTRO DO MAIS MONÁSTICO DOS SILÊNCIOS, caramba!!!! Sim, é verdade: sou um tecnicista (meninas, já sabem: sou o Ricardo Quaresma das beijocas), capaz da difícil arte de dar longos ósculos sem incomodar terceiros. E aprendi este ofício às minhas custas (bom, não me posso esquecer do apoio dado pelas 12469045 mocinhas com quem “pratiquei”). Por isso, adolescentes que me estejam a ler, aqui deixo o meu conselho: parem com essas tretas! Querem curtir, façam-no como deve ser. Não incomodem os outros. Não sabem beijar-se sem ultrapassar os 150 decibéis? Parem então de curtir, façam outra coisa, sei lá, vão jogar Sega ou comprar roupa nos centros comerciais! Que raios, pá! Tenham juízo!!!



Tanis

P.S: Às pitinhas que querem aprender a curtir sem o mínimo ruído: o meu e-mail está à vossa inteira disposição. Contactem-me. Satisfação garantida ou os vossos beijos de volta.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

O paintball e a guerra: estudo comparado

Gosto muito de jogar paintball, embora não seja uma actividade que pratique regularmente. A última vez que me diverti neste tipo de brincadeira, foi, penso, há já cerca de 4 anos, por ocasião da despedida de solteiro de um grande amigo meu (não, a sério! Joguei mesmo paintball, aquele desporto em que a malta tem de usar umas armas que disparam bolas. Não fiz, portanto, aquelas coisas que se fazem normalmente nessas despedidas, coisas que – dizem-me, porque eu não sei… - envolvem também armas, e bolas, e disparos, mas de outro tipo…).
O que mais me fascina no paintball, no entanto, não é o divertimento físico sem si, é antes a metáfora sublimada. Passo a explicar: o paintball funciona como uma óptima metáfora da guerra, só que possui, em comparação a esta, várias vantagens bem evidentes. Aliás, posso até afirmar que só me apercebi verdadeiramente do absurdo da guerra no dia em que joguei paintball pela primeira vez. Sigam o meu raciocínio, rapidamente concordarão comigo…
Em primeiro lugar, no paintball não é necessário passar por um período de recruta e muito menos se exige a aglomeração dos tropas em quartéis. Isto é óptimo, porque a recruta é uma seca (aqueles exercícios e aquela disciplina toda, além de haver sempre um sargento chato…), e os quartéis não passam de antros de bichanagem (“Ó Carlitos, o capelão manda dizer que da próxima és tu a ajoelhar!”).
Segundo, no paintball as contendas fazem-se entre grupos de amigos ou conhecidos, o que implica uma certa escolha e selecção baseadas em compatibilidades e emoções que só existem numa relação de alguma intimidade; já na guerra a sério, arriscamo-nos a apanhar com qualquer um no nosso pelotão, desde eleitores do PSD a adeptos ferrenhos do FCP, ou seja, gente a quem, por nossa vontade, jamais dirigiríamos a palavra.
Em terceiro, no paintball é possível mudar de lado sem se acabar fuzilado por traição. O jogador x pode muito bem dizer “Pá, já estou farto de mandar tirinhos nesta equipa! Vou para a outra. Ei, alguém desse lado quer trocar comigo e vir para aqui? Porreiro!...”, que não gera o mínimo problema. Mas experimente-se fazer algo semelhante no teatro de operações bélico! Vocês estão a ver um terrorista da Fatah chegar-se junto de um militar israelita e perguntar “Meu, estou por aqui com esta história de atentados bombistas e tal. Eu queria era pertencer a um exército e, talvez, um dia tentar a sorte na Mossad. Vamos trocar?” Se o militar israelita não lhe enfiasse logo ali um balázio, tenho a certeza de que seriam os altos dirigentes da Fatah a dar cabo do nosso pobre terrorista…
Mais outra: no paintball, não há cá Convenções de Genebra, nem Declarações Universais dos Direitos do Homem, nem ONUs, nem Amnistias Internacionais, nem FIFAs, nem UEFAs e outras instituições filantrópicas da treta afins. O que quer dizer que é muito mais divertido e há muito mais liberdade para fazer o que se quer! Podemos espatifar sumariamente os nossos inimigos sem levarmos com uma catrefada de activistas em cima! Na guerra, tenta-se uma singela brincadeira com sacos de plástico e cães, como os norte-americanos fizeram na prisão iraquiana de Abu Grahib, e vem logo a comunidade internacional protestar! Já viram isto?!?
Por último, eis a vantagem mais importante do paintball face à guerra: quando morremos, podemos sempre jogar de novo. Que piada é que tem a guerra, onde um gajo, se quinar, já não pode mais brincar? É estúpido, não é? Também acho! Por isso é que eu digo: make paintball, not war!

Tanis

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Encontro de blogues: Peter of Pan X A Minha Vida Dava Um Blog

Após semanas e semanas de mútuo desalinho, discussões, trocas de argumentos, ofensas e ataques pessoais virtuais, aqui este escriba e a colega que dá alma a este blogue amigo decidimos marcar um rendez-vous real. Decorreu ontem, em território neutro, e abaixo fica o relatório possível do evento...

(À porta da casa de chá)

Tanis: Olá!
Ilda: Olá!

(Silêncio constrangedor)

Tanis: Olá, eu sou o Tanis.
Ilda: Olá, eu sou a Ilda.

(Silêncio ainda mais constrangedor que o primeiro)

Tanis: Sim, eu já sabia que és a Ilda.
Ilda: Olha, se é assim, eu também já sabia que és o Tanis!

(Silêncio menos constrangedor que o segundo, mas um bocadinho mais que o primeiro)

Tanis: És gira!
Ilda: És feio!

(Silêncio assim-assim constrangedor)

Tanis: Mas o meu blog é mais bonito e cool que o teu!
Ilda: Nem é, olha que caraças!

(Silêncio já nada constrangedor, surgiu apenas porque passou a ser hábito)

Tanis: É sim!!!
Ilda: Ai isso é que não é!

(Silêncio demorado)

Tanis: Então, sempre vamos tomar qualquer coisa?
Ilda: Estou à espera que me deixes entrar e entres também ou vice-versa.

(Silêncio curto. Entramos ao mesmo tempo e sentamo-nos a uma mesa)

Tanis: Tem bom ar, isto. Parece o meu blog!
Ilda: Pffff... convencido! Isso querias tu!
Tanis: Porque é que estás sempre a contradizer-me?
Ilda: Não estou!
Tanis: Ora, acabaste de o fazer!
Ilda: Sim, mas isso foi só porque a tua pergunta vinha envolvida num paradoxo!
Tanis: Uau...
Ilda: Vês? Eu até sei umas coisas...

(Chega o empregado)

Tanis: Pode atender primeiro a senhora.
Ilda: Menina, se fazes favor! Para mim, é um chá e um cheesecake.
Tanis: Para mim, a mesma coisa. Mas olhe, faça o meu chá e o meu cheesecake melhores que os dela.

(O empregado retira-se)

Tanis: Porque é que ficaste chateada por eu ter dito "senhora"?
Ilda: Não fiquei chateada, seu chato. Simplesmente gosto que digam as verdades e eu sou uma menina e adoro sê-lo.
Tanis: Iá, mas lá fora, quando afirmei uma verdade indubitável, incontestável e inegável, tu quase subiste pelas paredes!
Ilda: Hã? E que "verdade" foi essa, ó artolas?
Tanis: Que o meu blog mete o teu a um canto!
Ilda: Grrrrrrrr...

(O empregado chega com os pedidos. Ilda continua a grunhir)

Tanis: Hmmm, que belo cházinho. Aposto que está melhor que o teu!
Ilda: Grrrrrrrr... Porque é que, para ti, tudo tem de ser uma competição?
Tanis: E esta fatia de cheesecake, bem, que delícia! Deve estar mil vezes melhor que a tua!
Ilda: OUVISTE O QUE EU DISSE?!
Tanis: Antes ou depois de teres grunhido?
Ilda: Grrrrrrrr... DEPOIS!
Tanis: Ahnnnn... Não! Desculpa.
Ilda: Então repito: porque é que, para ti, tudo tem de ser uma competição?
Tanis: Ah, não sei!
Ilda: Será por te sentires inseguro e com pouca auto-confiança, e assim competes por tudo e por nada para, dessa forma, alcançares um sucedâneo de valor, utilidade e superioridade?
Tanis: Fóóóóónix!!!! Estás muito à frente!
Ilda: É o que dá ler muito Freud na biblioteca onde trabalho.
Tanis: Trabalhas numa biblioteca?
Ilda: Sim!
Tanis: Que coincidência! Eu também! E aposto que a minha é muito mais gira e tem bués mais livros que a tua!
Ilda: Olha, merda! Juro que é a última vez que venho a um encontro de blogs!
Tanis: O meu encontro está a ser melhor que o teu!
Ilda: Olha, por que será? Tu tens a sorte de estar com uma menina gira, enquanto a mim saiu-me um chato feio com a mania das competições.
Tanis: Mas pelo menos o meu blog supera o teu, e é isso que importa aqui!...
Ilda: AAARRRGGGHHHH!!!!!!!

(Ilda bebe o chá, engole de uma vez a fatia de cheesecake, levanta-se, sai e deixa-me sozinho e a ter de pagar a conta)

Foi isto. Até que correu bem, não acham?

Tanis

P.S.: Ok, o encontro não foi nada assim. Embelezei um bocado a coisa: o encontro verdadeiro correu BEM pior!
P.S.2: Ah, não correu nada! Foi fixe! A colega Ilda é 5 estrelas! Porreiraça, mesmo! Mas o meu blog continua a ser mais super-mega-hiper-re-fixe que o dela... :)

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

10 coisas que o meu filho poderia dizer-me em vez de "Quero ser bailarino"

Ontem, pus-me a ver um bocado do Billy Elliot, aquele filme abichanado em que um puto (nitidamente com falta de juízo naqueles cornos!) pugna pela sua paixão de dançarino, apesar da explícita e compreensível oposição do seu progenitor. Claro que tal enredo me levou a equacionar: “E se isto ocorresse comigo? Que faria se um filho homem me revelasse querer seguir a carreira de bailarino?”
Uma breve mas lúcida reflexão assegurou-me que deserdá-lo, após um valente enxerto de porrada, seria a solução ideal. Afinal, um pai preocupado com o futuro do seu filho jamais poderia permitir que este resolvesse deitar fora a sua vida, tudo para perseguir o sonho da dança. Nunca, jamais! Prole saída dos meus vigorosos espermatozóides não teria, nunca, o direito de estragar a minha carga genética atirando-a para uma revista do Filipe La Féria, para um espectáculo no CCB ou no Coliseu dos Recreios, para uma workshop do Rui Horta! Parvoíces dessas, não! Um filho meu poderá dar-me muitas desilusões, mas jogar assim fora a minha e a sua dignidade é que não! Isso não admito.
E foi neste ponto que dei asas à imaginação e decidi efectuar uma lista das coisas que preferia ter o meu filho a dizer-me em vez de “Pai, quero ser bailarino”. Vou guardá-la, nunca se sabe o que irá acontecer… Aqui fica ela:

Lista de coisas que o meu filho poderia dizer-me em vez de “Quero ser bailarino”

1 – Pai, sou do Benfica.
2 – Pai, fui convidado para ocupar um cargo na direcção da Juventude Popular.
3 – Pai, sou unha e carne com o sobrinho do Alberto João Jardim.
4 – Pai, ontem estive a ler o Ser e o Tempo e gostei.
5 – Pai, o médico diz que o meu pénis é diminuto porque saio a ti.
6 – Pai, vou ver um concerto dos Coldplay.
7 – Pai, aquela tua amante mandou dizer que é um homem. A mãe ainda está ali na sala a rir-se.
8 – Pai, sabias que é muito feio baixar pornografia da Internet? Nunca mais faças isso.
9 – Pai, o meu ícone sexual é a Manuela Ferreira Leite.
10 – Pai, sou gay.

Tanis

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Observações, Dúvidas, Angústias

Observação: "Igrejos". Ontem, quando me preparava para assistir ao Portugal-Itália (1-3, bem feita! Embrulhem, toscos!), reparei que, enquanto tocava o hino, o Cristiano Ronaldo, vedeta-maior da selecção e ídolo e modelo de milhares de portugueses (coitados...), trocou a letra d'A Portuguesa. Em vez de cantar "egrégios avós", o chamado puto-maravilha atirou um surpreendente "igrejos avós". Bom, eu pessoalmente não sei o que quer dizer "igrejos", mas talvez seja assim que cantam lá na ilha da Madeira, de onde o Cristiano é natural. Enfim, cada um tem o direito de cantar o hino à sua maneira, digo eu... talvez a maneira do Cristiano seja até melhor. E tanto se tem falado sobre alterar a letra do hino... Esta pode muito bem ser uma proposta a considerar! "Igrejos avós", ao fim de um certo tempo, não soa assim tão mal... Eu continuo sem saber o que é "igrejos" mas, assim como assim, 9 milhões de portugueses também desconhecem o significado de "egrégios", portanto...

Dúvida: Boxers. Durante muito tempo, fui um incondicional das cuecas. Para mim, boxers eram coisa que não fazia parte do meu esquema. Achava aquilo piroso, sei lá. E inestético, pronto! Só que, recentemente, converti-me. Hoje em dia, posso afirmar - sem vergonha! - que sou um adepto incondicional dos boxers. E utilizo-os regularmente, mais amiúde mesmo que as comuns cuecas. Ora, a verdade é que esta mudança de indumentária só faz sentido se analisada à lupa da alteração psicológica que se deu em mim: antigamente, eu era um jovem que gostava de ter o pirilau aconchegado e acondicionado, logo usava cuecas; hoje em dia, sou um homem que aprecia andar com o pirilau à solta, logo uso boxers. Daí a dúvida: o que é que isto quer dizer acerca de mim? Não faço a mínima ideia, mas coisa boa não deve ser...

Angústia: Monty Python. Andei meio aparvalhado à conta de alguém que odeia os Monty Python. Ao fim de um certo tempo, descobri que não há hipótese possível de comunicação ou relação entre uma pessoa que idolatra os mestres do humor inglês e outra pessoa que diz que os Python "são tipos sem piada nenhuma". Cheguei então à conclusão angustiante: os seres humanos, na verdade, dividem-se entre aqueles que gostam (os bons) e aqueles que não gostam (os maus) de Monty Python, e entre ambos não é possível construir qualquer tipo de ponte. Deste modo, deixo-vos duas lições de vida: 1ª, nunca se apaixonem por alguém sem sentido de humor; 2ª, sempre que ocorra uma discussão entre alguém que é fã dos Python e alguém que não é fã, lembrem-se: a primeira pessoa tem SEMPRE razão!

Tanis

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

O amor (à música) é fodido...

No passado…

- Olha, querido, soube que o Paulo e a Fernanda se vão separar.
- Ah sim?
- Sim. Parece que a Fernanda descobriu que ele tinha um caso…
- Como foi isso?
- Acho que ele havia dito que ia ver um concerto, mas na verdade foi ter com a amante. A Fernanda limitou-se a descobrir.
- Ah ah ah!
- Estás a rir-te do quê? Isto é sério, não tem graça nenhuma!
- Estou a rir-me porque eu seria incapaz de fazer o mesmo, e tu sabes disso. Desde quando é que eu inventaria algo como dizer que ia a um concerto quando, na verdade, iria encontrar-me com outra pessoa? Jamais!
- Pois, é verdade. Tu dás mais importância à música e às bandas do que às mulheres, nunca serias capaz de me enfiar uma patranha dessas.
- Então, já viste a tua sorte?!
- Sorte? Chamas a isso sorte? Tu gostas mais das tuas bandecas e dos teus cds do que de sexo; tu preferes uma boa guitarrada às mulheres; tu amas mais a música do que me amas a mim! Oh, sou tão infeliz, uh uh!!!!
- …

No futuro…

- Olha, querida, hoje vou sair, está bem?
- Então?
- Ahmmm… Vou encontrar-me com uma pessoa.
- Ah sim? Quem?
- É a Gustava. Lembras-te dela? Encontrámo-la aqui há umas semanas, naquele jantar em casa do Cláudio.
- Lembro-me, lembro-me… e o que vão fazer?
- Bem, primeiro um jantar, depois um cinema, e após isso vamos para casa dela ter sexo. Não te importas, pois não?
- Por que razão me mentes?
- Hã?
- Estás a mentir. Eu sei que não é esse o teu plano para hoje!
- Não?! É, é, a sério que é! A Gustava é minha amante!
- Não insistas! Sei perfeitamente que tu vais é ver Os Coisos, pela 25ª vez!
- Não, não vou nada! Vou ter uma sessão escaldante de sexo com a Gustava mais a prima dela!
- Pára! Eu vi o bilhete para o concerto quando abri a tua carteira ontem!
- Ahmmm, pois… quer dizer…
- Mais uma vez, mostras o quanto és reles! A música, para ti, tem de vir sempre em primeiro lugar, não é?
- Pronto, está bem, confesso! É verdade: vou ver Os Coisos! Só vi a Gustava daquela vez no jantar e nem sequer conheço a prima dela. Desculpa…
- Continuas o mesmo de sempre! Que raio de homem és tu? Sempre com os cds, sempre com os concertos… no teu lugar, um homem decente já teria arranjado centenas de amantes. Mas tu, não: só pensas é na música. Oh, sou tão infeliz, uh uh!!
- …

Tanis
(post remotamente
– mas só remotamente –
inspirado em episódios
da minha vida pessoal.
É triste, não é?)

Ainda sobre o Regicídio (2)

Tendo em conta o post anterior, cheguei à conclusão que a monarquia, por sua própria natureza, tem de ser um regime no qual impera o direito de nascimento e NUNCA o direito de voto. Era bonito era, o povo escolher um rei através de plesbicito. Já imaginaram como seriam os boletins de voto?
Novamente: a grande vantagem da república sobre a monarquia está no que se poupa de tinta e papel. Fica aqui, pois, a mensagem do dia: Salve uma árvore, abata um aristocrata.

Tanis

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Ainda sobre o Regicídio

El-Rei D. Carlos, de seu nome Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gota e o Príncipe-real, D. Luís Filipe, de seu nome Luís Filipe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Bento de Bragança Saxe-Coburgo-Gota, foram mortos a 1 de Fevereiro de 1908.

A partir daí, o Estado poupou muito em tinta e papel. Apre!

Tanis, jacobino e republicano

A ler!

Normalmente, aos amigos só aconselho boas leituras: Jorge Luís Borges, Vergílio Ferreira, Thomas Mann, Carolina Salgado… enfim, uma imensa panóplia de autores clássicos que valem muito a pena ser abordados. Todavia, como vocês não são meus amigos, resolvi fazer algo diferente desta vez: aconselhar um autor e um livro que não valem um chavo. O autor é Eudoro de Souza, e o livro dá pelo nome de Mitologia. Para quem não conhece, Eudoro de Souza é um autor conhecido principalmente pela sua tradução da Poética de Aristóteles, e desenvolveu uma obra original muito admirada por certos obscurantistas que se dizem paladinos de um tipo peculiar de (olhem o palavrão!) “cultura portuguesa”. O que ocorre neste Mitologia em particular pode resumir-se num simples termo: PALHAÇADA! Todo o livro, de inspiração heideggeriana, o que já de si é suficientemente mau, é uma palhaçada sem tamanho, e um gajo decente chega ao fim a lamentar-se por já não haver nazis que queimam livros ou uma inquisiçãozinha que coloque esta obra no codex de textos proibidos.
Mas agora surge a dúvida: se isto é assim tão mau, como fui capaz de o ler? E, ainda por cima, todo? Não foi fácil, admito, mas a páginas tantas compreendi finalmente que a única maneira de ler esta porcaria era não tentar levá-la a sério. Exacto, este foi o segredo! A partir do momento em que comecei a ver o texto como uma imensa piada, foi só andar para a frente! Se tomarem igual atitude, garanto-vos horas e horas de diversão. Em cada página, asseguro-vos, encontrarão elementos que poderiam subsidiar umas 22349583 séries de Gato Fedorento. Não acreditam? Então aqui vão umas amostras:

“E se de alguém se diz que é uma personalidade (importante, relevante, ilustre, etc.), que, em geral, é quem mais vezes prepõe o “eu” a um “faço”, “posso” e “mando”, não se vê como um “eu” inqualificável ou impredicável, porque inobjectivável, poderá “fazer”, “poder” e “mandar”. Mantenho, pois, que personalidade seja a que se tem, não a que se é. O que eu tenho, não sou e o que eu sou, não tenho. O “eu” está do lado do ser; o “mim” e o “me”, do lado do ter” [Ah, fadista! Não, a sério: gastaram papel a imprimir isto?!?!?!]

“A disponibilidade humana, o não-diabólico no homem, que se traduz em infinita abertura para o que ele tende a ser, mas talvez nunca venha a ser (porque se viesse a ser algo, infinita não seria a abertura ou a disponibilidade) é o traço que mais caracterizadamente o põe como imagem do Caótico Incontido.” [Acham que se eu disser isto a uma miúda, conseguirei levá-la para a cama? Poderá ela ficar fisgada com aquilo de “infinita abertura”?]

“Os “divinos” são acenantes mensageiros da Divindade, mas o aceno, que podia ser para eles mesmos ou para o ser de Deus, também se pode supor que seja um acenar para um mundo.” [Que bichas, estes divinos que acenam para toda a gente…]

“O homem que vive e pensa na trans-objectividade, tem de aprender a morte, tem de esperar a última Fulguração – e essa já não será Ofuscante.” [Porra, “fulguração ofuscante”? Mas que raios?!?!?!?]

Pronto, acho que já chega. Sim, eu paguei por este livro. Sim, li-o todinho. E sim, ri até à exaustão com coisas do género “fulgurações ofuscantes”, “disponibilidade para o aceno” (uiiiiiiiii!), “teocriptias que são cosmofanias” e etc, etc, etc. Leiam-no também, não se arrependerão!


Tanis (a fulgurar ofuscantemente)

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Hoje é dia de... Carmina Burana

Daqui a umas seis horas, mais coisa menos coisa, vou assistir, ali na Aula Magna, à Carmina Burana do Carl Orff, numa interpretação da Nova Orquestra Sinfónica de Lisboa. Ou seja, vou armar-me em burguês ou aristocrata, aparecer num concerto de música clássica/erudita e fingir que sou um tipo com quilos de classe e categoria. Bem diferente, portanto, de ir ver prestações manhosas dadas por bandas black metal do Azerbeijão, creio eu, embora não necessariamente melhor. Bandas black metal azeris fazem um sonzaço do caraças!
Mas a verdade é que aprecio genuinamente a Carmina Burana, obra que origina em mim um turbilhão de emoções, algumas delas conflituantes (fónix, pareço o Rui Vieira Nery a falar… isto está bonito, está!). Sobretudo, não consigo evitar sentir, sempre que a escuto (e de certeza que em concerto tudo isto que vou relatar se intensificará mais), uma enorme euforia, provocada principalmente pela majestosa abertura O Fortuna, célebre por aparecer, aqui há uns anos atrás, nos anúncios da Old Spice, mas também um incrível terror e igual tristeza quando chega a peça Veris Leta Facies. Está bem, admito que esta última declaração soa um bocado abichanada, afinal um homem como deve ser não sente tristeza quando escuta música, e muito menos medo. E eu sou um homem como deve ser, não duvidem! Acabei até de cuspir para o chão e coçar os tomates para prová-lo. Então, o que se passa? Por que fico tão mariquinhas ao ouvir a Veris Leta Facies?
Bom, alguma vez viram o fantástico Saló, do Pier Paolo Pasolini, filme inspirado no livro, também ele excepcional, Saló ou os 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade? Em primeiro lugar, se ainda não viram nem leram, um aviso: é preciso ter estômago, não se trata de algo fácil. Eu próprio, que me orgulho de ser bastante fleumático no que toca a descrições depravadas e terríficas, fiquei um poucochinho afectado (mas atenção: não “afectado” no sentido gay e sim “afectado” no sentido de “abalado”. Vamos lá com calma, certo?). Em segundo lugar, se viram o Saló do Pasolini, e aguentaram até ao fim, sabem que o filme termina da pior/melhor maneira (depende das perspectivas, claro): os jovens prisioneiros do palácio são incessantemente seviciados e torturados até à morte, para gáudio dos aristocratas que para ali os levaram. E se prestaram atenção, deram por conta da música que se faz ouvir nesse momento. Exacto, nada mais nada menos que a Veris Leta Facies. É daqui que provém a minha reacção de tristeza e horror; estas propriedades até já estão presentes na própria música, mas são enormemente potenciadas graças à minha associação ao filme do Pasolini, e sendo assim, PAF, estou tramado.
Por isso, já sabem: se amanhã, ao lerem as notícias, vos aparecer algo como “(…) blábláblá, tal e coisa e o caraças, e durante a interpretação da Carmina Burana ontem na Aula Magna, um jovem abanou incessantemente a cabeça ao som de O Fortuna enquanto proferia vários “Yeah!” e depois, durante a execução da Veris Leta Facies, a mesma personagem pôs-se a chorar copiosamente e a gritar sem parar, até que foi retirado pelos seguranças da sala, que lhe administraram choques eléctricos (…)”… bem… fui eu!



Tanis