segunda-feira, fevereiro 04, 2008

A ler!

Normalmente, aos amigos só aconselho boas leituras: Jorge Luís Borges, Vergílio Ferreira, Thomas Mann, Carolina Salgado… enfim, uma imensa panóplia de autores clássicos que valem muito a pena ser abordados. Todavia, como vocês não são meus amigos, resolvi fazer algo diferente desta vez: aconselhar um autor e um livro que não valem um chavo. O autor é Eudoro de Souza, e o livro dá pelo nome de Mitologia. Para quem não conhece, Eudoro de Souza é um autor conhecido principalmente pela sua tradução da Poética de Aristóteles, e desenvolveu uma obra original muito admirada por certos obscurantistas que se dizem paladinos de um tipo peculiar de (olhem o palavrão!) “cultura portuguesa”. O que ocorre neste Mitologia em particular pode resumir-se num simples termo: PALHAÇADA! Todo o livro, de inspiração heideggeriana, o que já de si é suficientemente mau, é uma palhaçada sem tamanho, e um gajo decente chega ao fim a lamentar-se por já não haver nazis que queimam livros ou uma inquisiçãozinha que coloque esta obra no codex de textos proibidos.
Mas agora surge a dúvida: se isto é assim tão mau, como fui capaz de o ler? E, ainda por cima, todo? Não foi fácil, admito, mas a páginas tantas compreendi finalmente que a única maneira de ler esta porcaria era não tentar levá-la a sério. Exacto, este foi o segredo! A partir do momento em que comecei a ver o texto como uma imensa piada, foi só andar para a frente! Se tomarem igual atitude, garanto-vos horas e horas de diversão. Em cada página, asseguro-vos, encontrarão elementos que poderiam subsidiar umas 22349583 séries de Gato Fedorento. Não acreditam? Então aqui vão umas amostras:

“E se de alguém se diz que é uma personalidade (importante, relevante, ilustre, etc.), que, em geral, é quem mais vezes prepõe o “eu” a um “faço”, “posso” e “mando”, não se vê como um “eu” inqualificável ou impredicável, porque inobjectivável, poderá “fazer”, “poder” e “mandar”. Mantenho, pois, que personalidade seja a que se tem, não a que se é. O que eu tenho, não sou e o que eu sou, não tenho. O “eu” está do lado do ser; o “mim” e o “me”, do lado do ter” [Ah, fadista! Não, a sério: gastaram papel a imprimir isto?!?!?!]

“A disponibilidade humana, o não-diabólico no homem, que se traduz em infinita abertura para o que ele tende a ser, mas talvez nunca venha a ser (porque se viesse a ser algo, infinita não seria a abertura ou a disponibilidade) é o traço que mais caracterizadamente o põe como imagem do Caótico Incontido.” [Acham que se eu disser isto a uma miúda, conseguirei levá-la para a cama? Poderá ela ficar fisgada com aquilo de “infinita abertura”?]

“Os “divinos” são acenantes mensageiros da Divindade, mas o aceno, que podia ser para eles mesmos ou para o ser de Deus, também se pode supor que seja um acenar para um mundo.” [Que bichas, estes divinos que acenam para toda a gente…]

“O homem que vive e pensa na trans-objectividade, tem de aprender a morte, tem de esperar a última Fulguração – e essa já não será Ofuscante.” [Porra, “fulguração ofuscante”? Mas que raios?!?!?!?]

Pronto, acho que já chega. Sim, eu paguei por este livro. Sim, li-o todinho. E sim, ri até à exaustão com coisas do género “fulgurações ofuscantes”, “disponibilidade para o aceno” (uiiiiiiiii!), “teocriptias que são cosmofanias” e etc, etc, etc. Leiam-no também, não se arrependerão!


Tanis (a fulgurar ofuscantemente)

2 comentários:

Ilda disse...

Caro Tanis lamento muito que tenhas passado por este momento dificil mas "quem corre por gosto não cansa" se esta foi uma leitura voluntaria então meu amigo estás mesmo muito mal para não dizer que estás a "dar as ultimas". Infligir-se assim a si próprio este tipo de sofrimento não sei não...
P.S. E a Carmina Burana gostaste?

)0( disse...

Porra! E gastaste mesmo dinheiro nisto?

:D