quinta-feira, fevereiro 28, 2008

O verdadeiro problema das gordas feias

Todos nós conhecemos alguém como a que vou passar a descrever, seja no emprego, seja na área de residência, seja na escola/universidade, seja no bar de alterne do qual somos clientes habituais. Enfim, seja onde for, há sempre uma gorda feia que se queixa da vida e da sua triste situação amorosa. O discurso da gorda feia é igual em todo o lado: “Buh-uh, que vida tão triste, ninguém me ama, ninguém me quer, os homens só dão importância ao aspecto físico, e eu nasci gorda e feia, se tivesse nascido magra e bonita, andavam todos atrás de mim, buh-uh, que raio de sociedade é esta que só valoriza as aparências?, buh-uh”. Admito que me compadecia sempre que contactava com um caso destes, pois identificava-me com a pessoa: apesar de não ser uma gorda feia, sou um magricela feio, e isso impede-me, tal como às gordas feias, de ter as mulheres, os homens e os Josés Castelos Brancos que quero. O que me deixa muito triste, como é natural.
Porém, recentemente comecei a mudar de ideias. A típica história da gorda feia já não me convence. Ná! Descobri que, por detrás daquele argumento, à partida tão certo e convincente, se esconde algo que, em lugar da compaixão, desperta raiva e mesmo vontade de atirar qualquer gorda feia queixinhas para debaixo de um comboio ou, se quisermos aproveitar alguma coisa dali, para um matadouro de gado.
Não me interpretem mal: continuo solidário com as pessoas feias incapazes de viver um romance e/ou encontrar a cara-metade, até porque – como já referi atrás – eu próprio sou uma delas. Mas, caramba!, é essencial um pouco de coerência! E é precisamente aqui que a gorda feia falha: se a história a princípio vai bem e propõe um apelo do tipo platónico às essências em vez do julgamento meramente baseado nas aparências, a verdade é que, se procurarmos ir ao âmago dela (da história, não da gorda feia, olha que caraças!), verificamos que aquilo que realmente preocupa a gorda feia é outra coisa… Acompanhem-me no seguinte diálogo, e perceberão o quê (para maior facilidade, coloquei comentários meus entre parênteses retos):

Gorda Feia: Ó Tanis, pá, sou tão infeliz. [Lá está, o início sempre igual]
Tanis: Então, gorda feia, o que tens? [Lá está, a minha reacção compadecida]
Gorda Feia: Oh, é o Jorge, o Jorge não me ama! [Lá está, o mal de amor de que padecem as gordas feias]
Tanis: Vá lá, gorda feia, conta-me tudo, anda! [Lá está, continuo solidário]
Gorda Feia: Eu amo-o, mas ele não me ama. Aposto que é por eu ser gorda e feia! [Lá está, o diagnóstico que culpabiliza a condição física]
Tanis: Ó gorda feia, mas há muitos homens que não ligam a isso. E há até homens que gostam disso! [Lá está, eu sou mesmo bonzinho]
Gorda Feia: Não há nada, não há ninguém assim, os homens só querem boazonas, buh-uh! [Lá está, a crítica ao amor que dá importância apenas ao aspecto físico]
Tanis: Não digas isso, gorda feia. Por acaso, até conheço um tipo que gosta muito de ti e não se importaria de andar contigo, gorda feia. [Lá está, sou tão bonzinho, compreensivo e amigo que até é capaz de, um dia destes, a Academia Sueca me nomear para o Nobel da Paz]
Gorda Feia: Quem, Tanis? Quem?!?! [Lá está, um brilhozinho de esperança nasce por entre toda aquela gordura]
Tanis: O Carlitos, gorda feia! [Lá está, é que sou mesmo fantástico. Nem o próprio Cupido faria melhor]
Gorda Feia: Quê, o Carlitos?! Mas tu estás parvo?!? O Carlitos, aquele careca desdentado e borbulhento? Para que quero eu um homem assim? Eu quero é o meu Jorge, oh, o meu Jorge, tão lindo que é, mas ele só gosta de mulheres bonitas, buh-uh! [Lá está, a gorda feia acaba de tirar a máscara e revela a sua verdadeira face: é ainda mais gorda e feia]
Tanis: Ó gorda feia, e se fosses à merda?! [Lá está, a minha mudança de atitude. Que se lixe a gorda feia]

É este o problema das gordas feias! Elas cometem o mesmo erro de que acusam os homens, ou seja, elas não querem simplesmente um homem, querem sim um príncipe encantado, belo, jeitoso, de preferência rico e que saiba ver para além das aparências, quer dizer, que as ame enquanto gordas feias. As gordas feias, além de gordas, e feias, são hipócritas, porque afinal se importam com as aparências sim, e muito. Não é qualquer um, como o Carlitos, que as satisfaz; elas querem o top dos tops, aquele choradinho todo não passa de conversa. Raios partam as gordas feias, não interessam mesmo a ninguém...

Tanis

7 comentários:

Ilda disse...

Concordo com tudo, confesso aqui no trabalho há uma assim!
Mas fiquei mais preocupada com a afirmação de: "...sou um magricela feio, e isso impede-me, tal como às gordas feias, de ter as mulheres, os homens e os Josés Castelos Brancos que quero." Não percebi... humm mas fiquei preocupada oh Tanis!

Peter of Pan disse...

Eu próprio fiquei preocupado...

:)

CP disse...

Só há um pequeno busilis incoerênte na história: Não existem Carlitos feios. Mesmo os que são gordos, borbulhentos e carecas.

Peter of Pan disse...

Olha o convencido...

Alguém disse...

Raios partam as pessoas com pena delas próprias, sejam gordas feias ou carecas-desdentados-borbulhentos!

Bom fim de semana

Anónimo disse...

ora, vamos lá a ver, há uma razão para as gordas feias quererem homens bonitos: se a gorda feia casasse com o Carlitos feio, desdentado e careca, imagina lá o aspecto dos filhos deles??? teriam de andar com um saco de papel na cabeça para não traumatizarem ninguém com o seu aspecto asqueroso. não é hipocrisia: é preocupação com o bem estar da sociedade. portanto vê lá se arranjas um brad pitt para a gorda feia desencalhar e acabar com o choradinho, é o melhor que fazes...

Peter of Pan disse...

O teu raciocínio faz todo o sentido... ou então, não!