quinta-feira, dezembro 19, 2013

A demanda pelos ténis impossíveis

Ténis mortos, ténis postos. Lá encontrei uns ténis decentes para jogar à bola, substituindo aqueles arquétipos de ténis que por tanto tempo suportaram as minhas prestações futebolísticas. Não são tão bons, claro, mas são-no o suficiente. Numa escala de ténis para jogar à bola, alcançam 9 em 10. E tendo custado apenas 15 euros, não é preciso pedir à DECO que analise e faça desta a Escolha Acertada, pois não?!

Só tenho pena que os ténis não me forneçam capacidades físicas extra, designadamente ao nível da resistência. Se já consigo jogar mais do que 5-6 minutos, ainda não sou capaz de superar a barreira psicofisiológica da meia-hora. Não é que eu esteja velho (não vou revelar a minha idade: digo apenas que ando entre os 18 e os 2500 anos), mas se calhar até estou. E isto os ténis não conseguem solucionar. Por mais bem adaptados que estejam aos meus pés, por mais finesse de que me dotem na hora de controlar a redondinha, fisicamente estou um caco e não há nada a fazer, a não ser que eu peça ao James Bond uns mísseis para activar nas solas dos ténis, e quando um adversário quiser passar por mim e eu já não tiver pernas para ele, PIMBA, cá vai bomba.

Há outra coisa que me assusta para além das minhas (in)capacidades físicas: a mania que os outros jogadores têm de se me referir usando jogadores profissionais como termo de comparação. Se há umas semanas me comparavam ao Markovic, no último jogo em que participei disseram que eu parecia o Andrea Pirlo (ex-Inter, ex-Milan, actual Juventus e daqui a 2 anos futuro capitão do SCP e primeiro jogador a levantar um troféu da Liga dos Campeões pelo clube verde-e-branco). Ora, sendo que o estilo de jogo do Markovic nada tem a ver com o estilo de jogo do Pirlo, e vice-versa, que raio ando eu a fazer dentro do campo de futebol?!?! E quando é que o estilo de jogo do Peter of Pan passa a ser o estilo de jogo do Peter of Pan, uma identidade que não admite comparações com o estilo de outro qualquer jogador?

Já viram como um simples jogo de futebol pode deitar abaixo a auto-estima de uma pessoa?!

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Através do método socrático, demonstra-se como é lícito roubar o Belenenses

O último jogo que opôs o fabuloso Sporting Clube de Portugal ao sofrível Clube de Futebol os Belenenses ficou marcado por um incrível erro de arbitragem, ao ser assinalada uma grande penalidade que de penalidade não tem nada e de grande muito menos! Até eu, um sportinguista daqueles valentes, virei a cara para o lado e exclamei "que roubalheira" quando vi o lance da "falta"(?!?) sobre o Cédric.

Só que há aqui uma questão que ultrapassa o furto de que o Belenenses foi alvo. E essa questão tem a ver com a própria natureza ontológica do clube do Restelo. Ao ser o clube que é, o Belenenses merece ser roubado. Ao ser o clube que é, roubar o Belenenses é uma questão de justiça e de ética. Não concordam? Então nada melhor do que apresentar a situação através de um diálogo inspirado nas famosas conversas que decorriam em Atenas há uns bués séculos.

Anti-sportinguista: Bolas, Peter of Pan, lá ganharam mais um jogo a roubar...

Peter of Pan: 'Tá calado. Primeiro, só um dos golos é que foi gamado. Segundo, era o Belenenses, e contra o Beleneses não faz mal roubar.

Anti-sportinguista: Hã? Explica lá esse teu raciocínio enviesado. Isso para mim não faz sentido nenhum. Então há clubes que podem ser roubados e outros que não podem? Compreendes a gravidade das tuas palavras?! Tu, que és um igualitário e defendes sempre os mesmos direitos para todos e o caneco?!

Peter of Pan: Calma, meu idiota de merda. Cala-te lá um bocadinho que eu passo já a explicar. Segue os meus argumentos.

Anti-sportinguista: Segui-los-ei.

Peter of Pan: O Sporting Clube de Portugal é percepcionado como o clube dos ricos e das pessoas benzocas, não é?!

Anti-sportinguista:
É sim. Continua.

Peter of Pan: Ora, mas há um clube em Portugal que ainda está mais associado aos ricos e tiozorros do que o Sporting. Consegues dizer-me que clube é esse?

Anti-sportinguista:
Consigo, pois. É o Belenenses. Mas não estou a ver onde queres chegar.

Peter of Pan: Calma, que este raciocínio não admite atalhos. Considera isto: o que é mais lícito? Roubar um rico e beto, ou roubar um pobre e maltrapilho?

Anti-sportinguista: Roubar o rico, claro, pois o furto causar-lhe-á menos mossa do que a um pobretanas.

Peter of Pan: Exacto. Então, pensa lá um bocadinho agora. O que é mais lícito? Roubar um muito rico e muito beto, ou roubar um menos rico e menos beto?

Anti-sportinguista: Penso que é mais lícito roubar o muito rico, pois o roubo prejudicá-lo-á menos.

Peter of Pan: Estás a cogitar bem.

Anti-sportinguista: O que é cogitar?

Peter of Pan: Não sejas parvo. Prosseguimos?

Anti-sportinguista:
Sim.

Peter of Pan: Então, pelo que se disse atrás, e sendo o Sporting o clube dos ricos e betos, e o Belenenses o clube dos mais ricos e mais betos, daqui deriva que, a ter de existir um roubo a um destes clubes, é mais lícito que se roube o clube dos mais ricos e mais betos.

Anti-sportinguista: Ahhhhh, agora estou a perceber! Sim, tem de ser! É justo que assim seja. Obrigado por me teres mostrado a verdade, Peter of Pan.

Peter of Pan: De nada.

Anti-sportinguista: Mas... Peter of Pan?

Peter of Pan: Sim?!

Anti-sportinguista: Por esse teu raciocínio, em qualquer jogo onde entre o Sporting, desde que não seja contra o Belenenses, é lícito roubar o Sporting, não é?!

Peter of Pan [furioso]: Cala-te, meu parvo, não é nada disso, não percebes nada de diálogos filosóficos, nunca se deve roubar o Sporting porque o Sporting é o mais lindo, vai bardamerda daqui para fora, ando eu a gastar as minhas qualidades com um sofista como tu, parvalhão, idiota, se não desapareces já da minha frente dou-te nas trombas, meu "#&$%&/...

E pronto, o diálogo termina assim. Ficou o essencial e demonstrou-se que, embora o penálti contra o Belenenses tenha sido mal assinalado, não foi injusto tê-lo sido. Obrigado, até amanhã e viva o Sporting.

terça-feira, dezembro 10, 2013

A Loja do Mestre André (Versão Death Metal)

Como há-de um arreigado metaleiro como eu cantar músicas infantis ao seu pequeno sem se sentir choninhas?! Fácil: modificar as canções até que elas tenham um aspecto simpático a qualquer headbanger que se preze. Eis um exemplo:

A Loja do Mestre André

Música: Tradicional
Letra: Tradicional (adaptação Peter of Pan)

Foi na loja do Mestre André
Que eu comprei uma Flying V
Djuns, Djuns, Djuns, uma Flying V

Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André
Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André

Foi na loja do Mestre André
Que eu comprei uma bateria
Catrum, Catrum, Catrum, uma bateria
Djuns, Djuns, Djuns, uma Flying V

Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André
Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André

Foi na loja do Mestre André
Que eu compei um belo baixo
Dum, Dum, Dum, um belo baixo
Catrum, Catrum, Catrum, uma bateria
Djuns, Djuns, Djuns, uma Flying V

Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André
Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André

Foi na loja do Mestre André
Que eu compei um microfone
Grruargh, Grruargh, Grruargh, um microfone
Dum, Dum, Dum, um belo baixo
Catrum, Catrum, Catrum, uma bateria
Djuns, Djuns, Djuns, uma Flying V

Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André
Ai olé, ai olé
Foi na loja do Mestre André.

(ando a cantar isto lá em casa ao puto, e a verdade é que ele acha BEM mais piada à minha versão)

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Comer gelados quando está frio: loucura ou sanidade?

É sempre a mesma coisa! Quando vou ao supermercado comprar gelados durante o Inverno, as pessoas olham-me como se eu fosse um gajo que vai comprar gelados durante o Inverno. Para essas pessoas, sou pior que um vice-primeiro-ministro do governo português. Pior que um presidente corrupto do FC Porto. Pior que um presidente do governo regional da Madeira.

A minha gaja, por sua vez, quando me apanha a comer gelado em alturas de maior frio (como, de resto, sucedeu ontem), olha-me como se eu fosse um gajo que come gelado em alturas de maior frio. Pare ela, sou pior que um cigano arraçado de preto judeu. Pior que um padre católico pedófilo. Pior que um realizador caribenho de filmes snuff.

Mesmo reunindo todas as minhas forças para tentar entender estas perspectivas, não sou capaz. Para mim, é completamente natural comer gelados, seja no pico do Verão, seja no profundo do Inverno. Esteja um calor dos infernos ou um frio polar. Não interessa. Gelado é gelado, e como o gelado é sempre bom, come-se independentemente da estação e da época. É ou não é?! Porque o raciocínio é mesmo este: o que é incondicionalmente bom, é-o em qualquer altura. E os gelados, tal como os golos do Sporting ou as mamas de uma dançarina de can-can, são sempre bons. SEMPRE! Faça chuva ou faça sol, esteja quentinho ou fresquinho. Perguntem lá a um capitalista se ele prefere ganhar dinheiro no Verão ou no Inverno: ele responder-vos-á, enquanto vos mete a mão na carteira e rouba mais uns euros sem que vocês dêem conta, que não importa. O que importa é sacar guito. Eu sou assim com os gelados. Gelado é bom, logo, gelado é para comer a qualquer hora.

O estranho não é, portanto, que exista alguém que come tantos gelados em estações frias quanto em estações quentes. O que eu acho estranho, até bizarro, é que haja pessoas capazes de comer gelados durante o Verão, e achá-los bons, e essas mesmas pessoas não serem capazes de comer gelados durante o Inverno, "porque está frio". Então uma coisa, o gelado, fica com as suas qualidades alteradas só por ser Inverno?!?! Mas está tudo parvo e cartesiano, ou quê?! O gelado continua a ser gelado, meus amigos e minhas amigas. Se vocês têm problemas em degustá-lo em dias de maior frio, garanto que a culpa não é do gelado, que sempre foi e será o mesmo: a culpa é vossa! Não foi o gelado que mudou, foram vocês! Já eu, eu sou sempre o mesmo: gelado é bom, e eu gosto de coisas boas, e isso não se altera ao sabor das estações do ano.

Portanto, quem é que deve olhar de soslaio para quem? Quem é aqui o louco e quem é o são?! Espero que tenham ficado bem esclarecidos e agora tchau aí que está um corneto de morango a aguardar-me. Até amanhã, pessoas que só esporadicamente apreciam coisas boas.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Combater o frio à maneira do Peter of Pan

#1 - Ir a uma casa de banho pública e ficar debaixo do secador das mãos durante 90 minutos.
Problema: se o secador das mãos não funcionar, tentar na casa de banho das senhoras.

#2 - Reconhecer a sabedoria dos gatos e ir dormir junto do motor de um automóvel.
Problema: se o condutor quiser ligar o carro, gritar bem alto até ser escutado. Ou então não, porque o motor em funcionamento sempre liberta mais calor.

#3 - Dar porrada na mulher até aquecer.
Problema: (1) ser confundido com o Manuel Maria Carrilho. (2) Ser mal visto por uma sociedade que já não aceita impunemente a violência doméstica. Neste caso, basta encontrar uma máquina do tempo que faça recuar até ao Portugal salazarista.

#4 - Ir junto de uma associação de lésbicas. Dizer "Vocês precisam é de homem". Sair a correr dali o mais rapidamente possível.
Problema: é provável que algumas lésbicas sejam mais rápidas. E fortes. Se alguma delas te deitar a mão, é o fim. Mas pelo menos acaba-se o frio.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Diálogos parvos, versão 23557568


Ela: Hoje não puseste perfume!
Eu: Pus sim! Cheira lá!
Ela: Snif. Snif. Está bem, mas não puseste aquele de que gosto!
Eu: Nunca ponho o mesmo perfume.
Ela: Porquê?!
Eu: Porque assim confundo os meus inimigos!
Ela: Hã?
Eu: Se todos os dias aparecer com um cheiro diferente, os predadores não sabem quem eu sou, e isso dá-me uma vantagem evolutiva.
Ela: ...

Nunca discutam com um gajo cujo super-poder é a lógica marada...

quinta-feira, novembro 28, 2013

Mais um prego no caixão da Filosofia em Portugal

Que a Filosofia, um F, nunca esteve bem neste país dos três F's - Fátima, Futebol e Fado -, todos nós sabemos. Mas nos dias de hoje, a Filosofia afunda-se cada vez mais. Como se não bastassem os "filósofos" chatos e inúteis (olá, Eduardo Lourenço. Olá, José Gil), não ajuda um certo ex-primeiro-ministro com apelido de filósofo dizer que leu muito o Kant. E ajuda muito menos um certo ex-ministro da Cultura, ex-candidato à Câmara Municipal de Lisboa, ex-deputado e professor catedrático de Filosofia (sem o "ex") ter agredido uma certa apresentadora de televisão muito dada a operações plásticas.

E é aqui que eu quero chegar. As consequências do caso Carrilho X Bárbara são nocivas para a percepção que o cidadão comum tem da Filosofia e dos filósofos em Portugal. Se os filósofos e a Filosofia já eram mal vistos ("aquilo são tudo paneleiros", "Filosofia? Isso não interessa para nada!", etc.), agora a situação está bem mais bera! Cometendo a falácia do tomar a parte pelo todo, as pessoas associam o comportamento do Carrilho, um filósofo (um mau filósofo, mas ainda assim um filósofo!), ao comportamento de qualquer pessoa que tenha um mínimo de relação com a Filosofia. Assim, e transformando isto num argumento, o que as pessoas pensam vai dar nisto:

O Carrilho bateu na mulher.
O Carrilho é filósofo.
Logo, quem é filósofo bate na mulher.

E pronto, está armada a confusão! E não adianta dizer que este argumento está mal formulado e o caraças, porque para perceberem a falácia as pessoas precisariam de ter um mínimo de entendimento filosófico. E não têm, nem querem ter. A Filosofia, por estas alturas, equivale à lepra de há séculos atrás: se a vêem aproximar-se, fogem a sete pés.

Estou a dizer estas coisas porque eu próprio já ando a sofrer na pele estes preconceitos. Lá no bairro, sou olhado de lado desde que a novela Carrilho e Bárbara veio a público. Eu bem oiço os comentários das vizinhas, apesar de levar os meus fones ligados e ter o volume alto:

- Olhe, olhe, ali vai o Peter of Pan.
- Ai que horror. Veja-me o olhar esgazeado dele. Nota-se bem que é licenciado em Filosofia.
- Pois é, pois é. Coitada da mulher. Deve apanhar poucas, deve.
- Então a vizinha não se lembra de na semana passada ela andar a tossir muito? Foi ele que lhe deu um pontapé nas costas, de certeza.
- Ah, o celerado. E a polícia não faz nada! Que escândalo! Era prendê-lo e queimar-lhe os livros todos.
- Ouvi dizer ali no café que o Peter of Pan tem um livro do Kripke.
- Ai! Isso só pelo nome... Não é coisa boa, de certeza. Antes andasse metido na droga, como o meu sobrinho. Ao menos, quando está naquilo, não chateia ninguém.
- E ainda dão essas coisas nas universidades.
- Realmente! Por isso é que este país está como está.

E é isto. Nem as amigas da minha mulher me poupam. Andam sempre a perguntar-lhe se ela está bem, se não sofreu nada, e a cereja no topo do bolo é tentarem saber se eu ando a ler "muito Égel ou muito Níche". Se a gaja responde "o normal, o mesmo de sempre", elas, à beira das lágrimas, desatam a abraçar a minha esposa, como se ela vivesse no meio de uma tragédia permanente. Já houve uma que, ao ver as minhas estantes de livros, pensou em denunciar-me à APAV. Não fosse a minha presença de espírito demonstrada na rapidez com que lhe mandei à tola a História da Filosofia Ocidental do Bertrand Russell, hoje estaria a ser julgado por violência doméstica.

Por estas e por outras, se um dia eu apanho o Carrilho à minha frente (obrigadinho por nada, meu palhaço!), digo-lhe que o William James é um filósofo menor. Vão ver se ele não fica a chorar baba e ranho durante umas duas semanas...

segunda-feira, novembro 25, 2013

Ódios de estimação: The Beatles e John Lennon

Pois. Como falar de uma coisa quando a frase que serve de título já diz tudo?! Porém, sabendo previamente não ter nada a acrescentar ao que já aí foi expresso, vou tomar um pouco do vosso tempo e da vossa paciência e desenvolver um pouco mais este meu ódio de estimação.

Beatles e John Lennon. Idolatrados por muitos, desde há várias décadas. Avós, pais, filhos, netos: há gerações inteiras que em comum têm apenas o gostarem da música do fab four de Liverpool. O avô pode ser fascista, o pai comunista, o filho empresário e o neto drag queen, e nos almoços lá em casa a conversa assentar em torno do álbum branco ou outra coisa qualquer que os betinhos dos Beatles (os "beatlinhos"?!?) tenham gravado. Mais uma evidência de que o mau gosto tem um poder de intrusão muito forte e é capaz de atravessar espaços e tempos.

A primeira vez que ouvi Beatles não me lembro. Nem da segunda. Nem da terceira. Mas recordo-me perfeitamente de aos 7-8 anos estar no meu quarto, rádio ligada, e perguntar "€@#&, mas que merda de música é esta?" quando um programa radiofónico passou uma canção que, 3 minutos mais tarde, identificou como pertencendo aos "fantásticos Beatles". Lembro-me também de desatar a chorar para junto da minha mãe, aos gritos de "mãe, mãe, tenho medo dos Beatles" quando vi imagens do quarteto na televisão.

Pior reacção, só quando escutei, algures em 1985 (maldito dia!) o "Imagine" do John Lennon a solo. Estava eu numa festa com amigos e o que eu disse foi mais ou menos isto: "Porra, que música tão lamechas e pirosa. O que é isto?! Dá vontade de pegar num revólver e dar um tiro à queima-roupa no palhaço que escreveu e compôs esta porcaria, não dá?!" Para o facto de ter obtido como resposta somente os olhares reprovadores de todos os que naquela sala se encontravam, só anos mais tarde encontrei uma explicação. Aparentemente (e só soube disto em meados dos anos 90, vejam lá o meu alheamento a tudo o que diz respeito a essa bandeca...), a um iluminado cidadão norte-americano gordo e de óculos passou ideia semelhante pela cabeça, e decidiu mesmo colocá-la na prática. Poucas vezes terão sido os norte-americanos tão utilitarianamente produtivos para o bem no mundo quanto com essa atitude do senhor Chapman.

(é que a música é mesmo má, caramba. Má, má, má! Imagine all the people, o meu rabo!)

Atenção! Não é que eu não goste de uma coisinha ou outra. Há mesmo uma coisinha que eu gosto, não nos Beatles, mas no John Lennon a solo: chama-se Working Class Hero e, esta sim, é um verdadeiro hino que merecia ser cantado por todas as pessoas, não aquele nojo do Imagine, já para não falar na integralidade da discografia dos escaravelhos, cujo nome é adequado porque andavam sermpre a empurrar com bosta. Mas lá está, haver UMA música de jeito pelo meio das discografias de Beatles, John Lennon, McCartney (escarro!), Harrisson (gregório!) e Starr (defecação mole!) é menos do que uma gota em pleno oceano. Comparando, é como se o Passos Coelho decidisse, assim do nada, por uma medida positiva, digamos, enviar por e-mail fotografias da Sara Sampaio toda nua aos portugueses do sexo masculino (além de positiva, esta medida é, parece-me, rigorosamente constitucional!). Esta medida apagaria toda a incompetência a que tem sido votada a sua legislatura? Claro que não.

O mesmo vale, portanto, para os Beatles e os seus membros. Não há nada que atenue aquela baixeza. E como isso é assim, tê-los-ei sempre como meus ódios de estimação. Porque aquela onda de músicas ranhosas e visual oscilando entre o beto e o hippie revoltar-me-á até ao fim dos meus dias. E ai de quem, por ironia, gozo, ou desfaçatez, decida pôr o Imagine no dia do meu funeral. Não é que eu acredite em fantasmas, mas se alguém me fizer isso, arranjo maneira de me transformar num poltergeist e infernizar-lhe a vida.

Até à próxima e que os vossos cds dos Beatles se quebrem!

terça-feira, novembro 19, 2013

A morte dos artistas

O último jogo de futebol entre amigos teve um sabor agridoce. A minha equipa venceu por uns renhidíssimos 7-6, num jogo disputado em alta rotação. O facto de nenhum jornal desportivo ou telejornal generalista terem feito referência a esta magnífica partida demonstra na perfeição a falta de qualidade dos nossos meios de comunicação social... Nem uma notinha de rodapé a elogiar o meu maravilhoso golo, derivado de uma desmarcação genial e onde mais uma vez o meu pé esquerdo se mostrou de excepção, ao tirar o guarda-redes adversário da jogada com uma finta apenas ao alcance dos predestinados. Não vi falarem disto em lado algum, mas se o Cristiano Ronaldo cortar o cabelo, isso já dá direito a capa de jornal. Uma merda de jornalismo, é o que temos!...

O encontro em questão, porém, não deixou só notas positivas a mim e à minha equipa. Não: passados 17 anos desde que se estrearam num piso desportivo, os meus ténis, uns exemplares pretos da marca Fute, morreram. Morreram de pé - o téni esquerdo todo aberto na frente, o téni direito com a sola descolada - mas morreram. Foram as peças de calçado que mais tempo me duraram, e mesmo tendo sido alvo de uso intensivo, só agora, ao fim de - repito - 17 anos, é que se finaram. Passearam o seu perfume (e o meu chulé!) por vários locais da área metropolitana de Lisboa, marcaram centenas de golos, fintaram jogadores atrás de jogadores, mandaram uma ou outra cacetada, disputaram torneios em várias localidades, sempre com elevadíssima prestação, contudo chegou a hora final. Quis mandar cantar um Requiem em honra destes ténis no final do jogo, mas os meus companheiros estavam muito cansados, disseram, e os meus adversários declararam que isto era uma estupidez. Enfim, uns e outros bem podem ir bardamerda.

Pior é agora o vazio em que os meus pés se encontram. Não vai ser fácil substituir uns ténis de jogar à bola que se tornaram na referência dos ténis de jogar à bola. Entre os meus pés e aqueles ténis já se tinha gerado uma relação simbiótica: eu já não sei se eram os meus pés que se adaptavam na perfeição aos ténis ou se eram os ténis que se adaptavam na perfeição aos pés. Não sei eu e ninguém, estou certo, saberá. E não é de um dia para o outro que se apaga uma relação de quase 20 anos, para mais uma relação tão intensa...

Na próxima semana, voltarei a jogar futebol, desta feita com uns ténis novos. Não vai ser fácil a qualquer par de ténis estar à altura da herança deixada pelos meus saudosos ténis Fute. Prometo deixar aqui uma crónica do jogo em causa, mas profetizo de antemão que o fantasma dos meus ténis passados andará a pairar sobre aquele campo de relva sintética. Descansem em paz, eu nunca vos esquecerei, e os meus pés também não. E obrigado por tudo o que me deram.

segunda-feira, novembro 11, 2013

O xadrez e os preconceitos de classe

Em cada 10 vezes que jogo xadrez, perco 9. E as minhas derrotas derivam menos da incompreensão das regras do jogo, e mais dos meus preconceitos de classe.

Vou passar a explicar. O xadrez, como sabem, tem nas suas peças a simbolização dos três estratos da sociedade clássica: há a nobreza (rei, rainha), há o clero (bispo) e há o povo (peões). Acontece que eu, como bom esquerdista que sou, olho para as peças de xadrez de modo vertiginosamente distinto do que elas significam no jogo. Para mim, as peças relativas à nobreza e ao clero são desprezíveis; só tenho interesse verdadeiro no povo (os tais "preconceitos de classe" a que acima aludi). Por isso, quando jogo xadrez, jogo-o ao arrepio de tudo o que o senso comum ditaria a um outro jogador qualquer. Eu não sacrifico um peão para conquistar, sei lá, uma rainha adversária. Sacrifico, isso sim, a minha rainha (essa puta que anda para todos os lados!) para dar cabo de um peão, isto é, um membro do povo adversário, que um azar histórico o tornou meu inimigo (tradução de "azar histórico": um "tirar à sorte" que me coloca com as brancas e o outro jogador com as pretas... algo me diz que não foi exactamente isto que aconteceu com Napoleão e Wellington). Também nunca uso os meus peões para proteger as outras peças, por exemplo, um bispo ou o rei. Não: os meus peões são as minhas peças mais importantes e são as outras que os devem proteger!

Como é óbvio, a realidade do jogo de xadrez nada quer saber da minha ideologia proletária e disto deriva o facto de, em pouco mais de 10 minutos, eu me ver reduzido a quatro ou cinco peões e ao rei, que acaba de levar um xeque-mate de um complot de peças adversárias onde se contam a rainha, as duas torres, um bispo cabrão e pedófilo, e os dois cavalos. E é então que eu percebo ter a minha estratégia falhado redondamente. Sim, tenho todos os peões adversários em meu poder, e muitos dos meus continuam de pé, mas não é isto que conta no xadrez.

Isto merece-me uma reflexão. Ou eu aprendo a viver dentro do sistema e passo a agir de acordo com as regras, explícitas e implícitas, compreendendo nesse processo que as hierarquias estabelecidas devem ser respeitadas, e que o povo estará hoje e sempre abaixo do clero e da nobreza, ou então uma revolução social e popular é precisa, uma revolução que coloque o povo, as pessoas, como alfa e ómega dessa nova sociedade, esmagando a aristocracia e a beataria!

Ou então deixo-me destas coisas e abandono de vez o xadrez, que me faz mal à cabeça...

quarta-feira, novembro 06, 2013

Filmes (pelo menos) tão bons quanto os livros

Um lugar-comum dos mais lugares-comuns que existem é afirmar que o livro é melhor do que o filme. Isto é uma coisa que se diz, muitas das vezes, por pessoas que nem sequer viram o filme ou nem leram o livro, ou ambos. E como todas as generalizações, é problemática. Se é verdade nalguns casos - O Nome da Rosa do Annaud é bom, mas incomparável ao livro do Eco, o mesmo vale para a Insustentável Leveza do Ser, apesar de o filme mostrar a Binoche nua, também para o Ensaio sobre a cegueira, e estou só a citar filmes de que gostei, não vou ao ponto de descer aos filmes que detestei feitos sobre obras literárias que adorei -, noutros não o é minimamente. Eis a minha lista de filmes que são tão bons ou melhores do que os respectivos livros:

1 - Alta fidelidade. É tão bom quanto o livro. Já li várias coisas do Nick Hornby, que passeiam entre o sofrível (About a boy, que deu também um filme da treta, com o Hugh Grant), o interessante (Fever Pitch, um livro de crónicas sobre futebol) e o brilhante (precisamente, Alta fidelidade). O filme, não chapando por completo o livro, consegue ser tão bom quanto este. John Cusack é um protagonista convincente, Jack Black oferece o contraponto cómico à profundidade sentimental que atravessa a história, e aparece a Catherize Zeta Jones. Se o livro é cinco estrelas, o filme não fica atrás.

2 - Sin City. Lá por ser banda desenhada, não quer dizer que não estejamos perante uma OBRA no sentido verdadeiro do termo. Sou desde adolescente fã, fãzaço, do Frank Miller, que tenho como o melhor argumentista da nona arte. Sin City é Miller vintage: violento, denso, psicologicamente bem estruturado, visualmente atraente, composto num preto-e-branco expressivo - como é de resto habitual no trabalho de Miller. Seria tarefa complicadíssima transpor estas propriedades para ecrã, mas o filme do Robert Rodriguez fá-lo de modo magistral, tanto que por várias vezes abri a boca de espanto quando fui vê-lo ao cinema, julgo que no Monumental do Saldanha. Para mim, junto com The Watchmen (outra dupla filme/livro que poderia fazer parte desta lista), é a melhor adaptação para cinema de uma história originalmente composta em banda desenhada. Tão bom quanto o livro.

3 - Relatório minoritário. Aqui, o filme é um poucochinho melhor que o livro. Atenção: eu gosto do conto. Muito. O Philip K. Dick é dos meus autores preferidos de ficção científica. Mas o filme dá a volta por completo ao texto, diferencia-se dele, melhora-o. Não sendo propriamente uma adaptação e mais uma "inspiração" (há que ler o conto e ver o filme para se perceber como são tão distintos um do outro), o Relatório minoritário do Spielberg consegue acrescentar enredo e reforçar a ideia de distopia presente no conto (recordo: um mecanismo que permite deter os criminosos antes que eles cometam os crimes. Deveria ser obrigatório tê-lo antes de todas as nomeações de árbitros para jogos do FC Porto...). Junto com A lista de Schindler, Relatório minoritário é o melhor filme de Steven Spielberg. Boa história, bons efeitos especiais, bom ritmo, coisas que a presença de manjões como o Tó Cruz e o Colo Farelo não conseguem estragar. Só mais uma breve nótula: TODOS os filmes que eu vi adaptados de contos escritos pelo Philip K. Dick são bons. Este, o Desafio Total (cujo filme é também tão bom quanto o texto) e, claro, o Blade Runner (de que vi o filme, excelente, mas não posso comparar com o livro porque ainda não o li). Se eu cometesse o pecado da generalização cometido pelos incautos apologistas do "livro melhor que o filme", diria, baseado na minha experiência, que não poderá haver um filme baseado numa obra do Philip K. Dick que seja um mau filme. Mas não vou dizê-lo, claro. Porque seria falso, embora seja verdadeiro. Hã?!? Pois... Não queiram desmontar esta minha lógica. Ainda ficam com problemas na coluna!

Dou só estes três exemplos que desbastam o velho cliché do "o livro é melhor do que o filme". Mais poderiam ser citados. Mas isso só o farei quando começar a gravar o Peter of Pan, o filme, que vai ser bastante melhor do que o blogue (também não era preciso muito!), pois vai ter efeitos especiais do mais moderno que há e gajas, muitas gajas. Todas nuas. E golos do Sporting. Também muitos. É esperar para ver.

segunda-feira, novembro 04, 2013

Não tentem fazer isto na rua!

Início da tarde de sábado. Levo o miúdo no carro para dar um passeio. Nisto, começo a sentir a direcção do veículo a ficar pesada. "Hmmm, aqui há coisa", penso eu. Paro o carro: o pneu frontal do lado esquerdo esvazia-se a olhos vistos. A razão? Um rasgão longitudinal. "Dass, bela hora para furar o pneu", cogito em ironia, como se houvesse uma boa hora para tal coisa ocorrer.

Nada a fazer: há que trocar o pneu. Rápido como um tiro, esvazio o porta-malas (que anda sempre cheiinho: carrinho de bebé, mais as coisas do carrinho do bebé (cobertura, etc. - enfim, baby tuning), macaco, pneu sobressalente, chave de cruz.

Tudo bem, isto é coisa a que um macho está habituado, pois tem gravado na sua matriz genética o saber mudar um pneu. Há apenas um pequenito (e, aqui, o termo não é inocentemente usado...) problema: sempre que me baixo para colocar o macaco/desaparafusar as porcas/tirar o pneu furado/colocar o pneu sobressalente/apertar as porcas/tirar o macaco, o puto, sentado no carro, deixa de me ver. E quando deixa de me ver, se num mundo ideal deveria ficar quieto e calado, no mundo real é berrario e pontapé de fazer inveja aos integrantes da Casa dos Segredos/Big Brother/demais programas da treta da TVI, incluindo as entrevistas ao prof. Marcelo.

Daí que a minha odisseia de mudança de pneu tivesse sido digna de uma modalidade olímpica, porque de 5 em 5 segundos tinha de me levantar para que o miúdo se calasse. Não contei o número de flexões de pernas efectuadas, mas foi elevadíssimo, estou certo, tão elevado quanto o número de vezes que o Paulo Portas deve dizer, em surdina, à Maria Luís Albuquerque a frase "nós não percebemos mesmo um cu disto!" Visto pela minha criança, eu devia parecer um daqueles bonecos do whack-a-mole: tão depressa estava lá em baixo quanto estava cá em cima outra vez.

Pressionado que estava pela choradeira do miúdo, tive uma prestação quase usainboltiana na troca do pneu. A pressa foi tanta e a atenção ao que ia fazendo tão pouca que temi pegar no carro e ver a roda saltar - ou, com a sorte que tenho, a roda trocada ficaria bem, mas saltariam as outras três dos respectivos eixos. Felizmente, nenhum destes cenários se verificou. Nenhuma roda saiu a correr pelo meio da estrada e chegámos a casa sãos e salvos, quer dizer, mais ou menos, porque ainda estou com um problema muscular nas pernas fruto de tanto sobe-e-desce.

Moral da história: não tentem mudar pneus com filhos menores sozinhos no carro. Da próxima vez, insisto em ficar eu no carro e o meu filho que mude o pneu!

quarta-feira, outubro 30, 2013

O regresso dos jogos de futebol com amigos

Quando um grupo de amigos me chama para jogar à bola, eu normalmente digo presente. E ontem disse-o: passados mais de três anos desde a última vez, voltei a jogar futebol. Vivas para mim!

Claro que este interregno provocou as suas mossas. Eu já não jogava há tanto tempo que, quando me foi passada a bola pela primeira vez no jogo de ontem, eu fiquei 10 segundos a pensar "Mas que raio faço eu agora com esta merda?!". Quando cheguei à conclusão que era para enfiar aquilo na baliza adversária, já a bola tinha desaparecido de junto dos meus pés. Indignado, ainda pensei em chamar as autoridades, mas um companheiro de equipa despertou-me desta letargia ao gritar "F*d@-se, Peter of Pan, mexe-te, c@r@lh*!". Passados 5 minutos, a reminiscência futebolistica já se instalara perfeitamente no meu disco rígido e jogava à vontade com o resto da equipa à qual pertencia.

Não foi apenas a dificuldade de recordar o que havia para fazer num campo de futebol a única mossa provocada pelo meu prolongado hiato destes ofícios. Outras mossas foram surgindo. Enquanto futebolista, devo confessar que a técnica está lá, praticamente intacta, e uma ou duas jogadas de elevado recorte artístico comprovaram-no. A velocidade também não sofreu muito: continuo capaz de competir com o Usain Bolt, ou seja, se me ponho a correr, ninguém me apanha. Mas a resistência, essa... se, como referi, ao fim de 5 minutos já estava entrosado com a equipa, ao fim de 6 minutos já pedia a intervenção do INEM, de tão extenuado que me encontrava. 

Portanto, bem feitas as contas, só pude demonstrar o meu real valor durante 1 minuto. Se tivermos presente que o jogo durou 60 minutos, é fácil perceber por que a minha equipa perdeu por 5 a 3: estivemos mais de 50 minutos a jogar com menos um jogador, e esse jogador a menos era eu, que me arrastava literalmente pelo relvado e era levado a pensar que a profissão de trolha, afinal, custa menos, fisicamente falando, do que dar uns toques numa bola.

Isto dito assim, pode-se pensar que eu tenho as mesmas capacidades dos jogador do Benfica: eles também não sabem o que fazer dentro do campo e não podem com uma gata pelo rabo. Essa comparação sai ainda mais reforçada quando os meus companheiros foram unânimes em afirmar que o meu estilo de jogo, naquele único minuto em que consegui realmente jogar, fazia lembrar o do Markovic. Ora, isso é a mesma coisa que dizer que eu jogo como o Messi: se eu sou parecido com o Markovic (dizem os meus colegas) e se o Markovic é parecido com o Messi (diz a imprensa conotada com o clube lampião), então, pela regra lógica do "Se A é B, e se B é C, então A é C", regra que até o Manuel Maria Carrilho percebe sem ter necessidade de agredir alguém, eu sou parecido com o Messi. QED.

Mas só durante um minuto...

Daqui a 15 dias, tenho novo jogo. A minha exibição foi tão marcante que fui novamente convidado, sobretudo pelos jogadores da equipa adversária - não compreendo é porquê...

Da próxima vez, vou tentar ser o Markovic/Messi durante 2 minutos. Daqui a uns bons anos, consigo manter o nível durante o jogo todo.

segunda-feira, outubro 28, 2013

As minhas impressões sobre o caso Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho

A novela do momento é a troca de galhardetes e, a crer nas notícias, em algo mais do que isso, entre o ex-ministro Manuel Maria Carrilho e a apresentadora Bárbara Guimarães. Diz-se por aí que o filósofo agrediu a barbie, o que faz desta uma relação althusseriana, mas em fraquinha (o Althusser foi um filósofo que um dia se passou da marmita e matou a esposa. Enfim, é o que dá querer reinventar o Marx...).

O que a mim importa verdadeiramente neste enredo é saber o que terá motivado Carrilho a agredir a mulher. Sendo que um filósofo gosta sempre de agir em conformidade com o seu pensamento (uma questão de unir teoria e práxis, agora não vou estar para aqui a explicar!), gostava de saber quais foram as causas que levaram um pragmatista a assentar a palma da mão, ou a sola do pé, no rosto da famosa figura televisiva.

Como sou também um gajo dado às filosofias, pus-me a pensar nisto. E cheguei a três possíveis conclusões.

1 - O Carrilho agrediu a Bárbara porque esta mexeu-lhe no Aristóteles sem pedir autorização.
Eu percebo: se tivesse alguém a mexer-me no Aristóteles sem licença, a mim também me saltaria a tampa! O Aristóteles, por detrás daquele ar duro e seco, exige ser bem tratado e acarinhado. Não é chegar ali e pegar nele de qualquer maneira, assim à bruta, sem avisar nem nada. É preciso ir com calma, dar-lhe tempo; quando menos se espera, ele entra por nós bem adentro. A Bárbara, se calhar, não teve o devido respeito pelo Aristóteles do marido, e quando isso acontece o casal sofre. Em qualquer relacionamento, é bom haver respeitinho pelo Aristóteles e tratá-lo como ele tão bem merece. O meu Aristóteles é muito respeitado, e isso revela a solidez de um casamento.

2 - A Bárbara, numa conversa à refeição com o esposo, misturou pragmatismo com utilitarismo. E o Carrilho não foi de modas e mandou-lhe com o prato às trombas.
Novamente, eu percebo isto e não recrimino a atitude do homem. É inadmissível confundir uma posição que defende que a avaliação de hipóteses teóricas deve passar por perceber as suas consequências práticas com uma posição que defende que a diferença entre uma boa e uma má acção está nas consequências que delas derivam. Pá, se por exemplo a minha gaja fizesse uma mistura entre estas duas ideias ao pequeno-almoço, eu confesso que também era gajo para lhe rebentar a boca. Portanto, se foi isto que sucedeu, não só não condeno o Carrilho como estou inteiramente solidário com ele.

3 - Enquanto estavam na cama, a Bárbara cometeu uma inconfidência, do género:
- Ó Mané, tu és um filósofo brilhante!
- Pois sou, Bábá.
- Mas não és o meu filósofo predilecto.
- Ai não?
- Não. Eu gosto mais do Sócrates.
- Ah. Pois, todos nós somos herdeiros de Atenas...
- Não é desse. É do José!
Depois de uma destas, qualquer homem digno desse nome teria de partir para a violência. É uma questão de imperativo moral: se há ocasiões em que a violência é justificável, esta é claramente uma delas, e o seu uso visa apenas reparar uma ofensa e uma injustiça. Não é que eu ache o Carrilho um filósofo particularmente brilhante (não é), mas estar abaixo de José Sócrates é abusar do livre-emprego da axiologia. Se foi isto o que ocorreu, dúzias de pontapés naquele peito siliconado ainda era pouco...

Na minha óptica, aconteceu uma destas três merdas. Ou até duas. Ou mesmo as três. Espero solenemente que os jornais e as televisões continuem a acompanhar o caso, e que as investigações em decurso possam confirmar qualquer uma das minhas hipóteses que, filosoficamente, estão estruturadas de forma brilhante. Aprende, Manuel Maria.

terça-feira, outubro 22, 2013

Polémicas acerca de livros

Tenho perfil no Goodreads (não sabem o que é?! Ó pá, também não vou explicar) e cerca de 20 amigos nessa rede social. Uma das coisas engraçadas que se pode fazer aí é ver o que os meus amigos acharam dos livros que eu li e classifiquei, como se fosse uma Moody's da literatura, com 5 estrelas.

Mas esperem lá: eu disse que era engraçado?!? Na verdade, o que eu queria dizer é que é desesperante!!!! Os pacóvios dos meus amigos (e tomo "pacóvio" no seu sentido mais estrito e "amigo" no seu sentido mais lato...) têm opiniões completamente opostas à minha, ou seja, eles estão completamente enganados.

Alguns exemplos:

Um amigo deu 3 (TRÊS!!!) estrelas à República do Platão. Um livro que é só das coisinhas mais legíveis que a Filosofia já produziu. Um livro que, embora contendo muitos erros e muitas posições duvidosas, continua a ser estimulante para o pensamento. Um livro que nunca merece menos de 5 estrelas. Quando me insurgi face ao rating dado por esse meu amigo, ele lá reconheceu o erro e subiu a avaliação para 4 estrelas. Não basta, meu filho-da-puta!!!!! A República merece estar lá mais em cima. Atribuir-lhe menos do que a nota máxima é tipo dizer que o Messi é um jogadorzeco, ou que a Mila Kunis é girinha. Não chega, percebem?!?!

Mas há pior.

Uma amiga minha, de quem eu já conhecia o talento para as opiniões parvas quando me disse que a banda favorita dela era melhor do que a minha banda favorita (facto suficiente para interná-la num manicómio), cometeu a ofensa de atribuir 1 (UMA!!!) estrela apenas àquele que considero o melhor romance português do século XX e quiçá de sempre: Aparição, de Vergílio Ferreira. Sim, eu sei que os amigos são amigos mesmo que haja discordâncias pelo meio, mas isto é demais! Aposto que nem o Pedro Passos Coelho seria capaz de manifestar uma opinião tão, como hei-de dizer..., estúpida. Acredito que até o Jorge Jesus já leu o livro e gostou. Arrasar desta maneira um romance da craveira de um Aparição é o equivalente, em termos de crítica literária, ao Holocausto. E não estou a exagerar. Pior: quando fiz valer o meu bom senso e lhe apontei, serenamente, que estava errada, ela limitou-se a responder que odiou mesmo o livro. Não conheço sinal mais evidente de barbárie do que este...

E pensam que isto fica por aqui?

Uma familiar minha chegou à indecência de chapar 1 estrela no Pela estrada fora do Kerouac, outro dos livros da minha vida. Outra amiga deu 3 estrelas ao Siddhartha do Hesse. A mesma amiga dá também 3 estrelas ao A insustentável leveza do ser, do Kundera. A tal amiga que deu 1 ao Aparição dá 3 estrelas ao Pêndulo de Foucault! Tudo livros inquestionavelmente 5 estrelas! Isto é tudo uma filha-da-putice e se eu mandasse, colocaria no Orçamento do Estado para 2014 medidas que punissem especificamente esta gente com mais um reforço de austeridade!

Eu sou uma pessoa com elevado sentido de tolerância e admito a diversidade de opiniões. Mas merdas como as que acabei de expor não se admitem, por mais compreensivo que um homem seja! Dá vontade de nunca mais ler um livro na vida! Mas depois penso: não, esta gente é que nunca deveria ter aprendido a ler.

Maldita escola inclusiva, maldita a hora em que professores ensinaram o alfabeto a tais pessoas. E maldito eu que os adicionei no Goodreads...

segunda-feira, outubro 21, 2013

Da próxima vez que marcarem um encontro "antigos alunos", fico em casa a estudar

Ontem foi dia de reencontro com antigos colegas do secundário. Gente que não via há mais de 5, 10 ou mesmo 20 anos apareceu, com um rancho de filhos atrás. O melhor deste tipo de encontros é uma pessoa aperceber-se de que o tempo é como se não tivesse passado, pois logo após as devidas apresentações ("olá, este é o meu marido e aqueles os meus 12 filhos", "oi, esta é a minha esposa e aqueles a roer as pernas dos teus 12 filhos são os meus 15 cães"), a conversa decorreu como se não nos houvéssemos separado nunca. Por outras palavras, o que de certa forma é reconfortante, continuamos os mesmos parvos de sempre. Excepto eu, que me mantenho o intelectual distinto que era na altura, e a comprová-lo o post de amanhã trará não mais de três vezes a expressão filho-da-puta, vejam lá a distinção intelectual que vai para aqui!

O mau destes encontros é que há sempre um estúpido ou uma estúpida que levam isto do "tempo não passar por nós" demasiado à letra e começam a apontar coisas óbvias que denotam a passagem do tempo. Do género "ihhhh, estás tão careca. E os poucos cabelos que tens estão a ficar todos brancos".

Pá, obrigadinhos, hã?!? Como se eu não soubesse disso! Uau, estou careca e com cabelos brancos?! Se não mo tivessem dito ontem, nunca adivinharia... Se é para ir a um sítio para ter gente espantada e desalentada por eu estar, digamos, a envelhecer, vou almoçar com a minha mãe em vez de me encontrar com antigos colegas. Eu também não disse à Coisinha que ela parecia uma caveira com rugas, nem ao Coisinho que ele fazia lembrar um chefe gay da Yakuza. Porque isto são cenas que - tenho a certeza - eles devem ouvir todos os dias!

Se é para estas coisas que servem os encontros de antigos alunos, quando marcarem o próximo fico em casa a ver a TVI.

terça-feira, outubro 15, 2013

Um homem casado é um homem lixado

Vejam lá as coisas que um gajo é obrigado a ouvir da sua gaja:

"Tu a dançares pareces aqueles cantores dos anos 80"

A gravidade destas declarações encontra-se reforçada se eu disser que os cantores dos anos 80 que a gaja tinha em mente eram: Jimmy Somerville. Andy Bell (dos Erasure). George Michael. Boy George. Marc Almond.

Para quem não sabe (e é preciso andar muito arredado das coisas deste mundo para não saber), são tudo artistas de duvidosa orientação sexual.

Portanto, a gaja no fundo quis dizer que eu danço como uma bichona! Já houve divórcios por menos!!!!

(Em minha defesa, devo dizer que não sei mesmo dançar. E isto é uma coisa muito à homem!)

segunda-feira, outubro 14, 2013

Sinto-me sexy!

Estou constipado e rouco. Em circunstâncias normais, isto seria um problema. A verdade é que não o é. Por causa de estar constipado e rouco, a minha voz, já habitualmente máscula, adquiriu um acréscimo de virilidade que não tem comparação. Há pouco, disse BOM DIA (assim mesmo, em negrito e caixa alta...) a um colega, e duas raparigas que estavam a tomar café ao balcão tiveram um orgasmo. Estou a receber telefonemas de cinco em cinco minutos, e isto só porque quem está do outro lado quer ouvir-me falar. Nem há meia hora atrás, uma senhora pediu-me que lhe recitasse Os Lusíadas e eu mandei-a à merda; ela gostou tanto da forma como o disse que pediu-me para repetir.

Mas o assédio não tem ficado por aqui. Até ao momento em que escrevo estas linhas, já recebi 489 propostas de casamento, 325 das quais feitas por mulheres. E já tive 173 pessoas a suplicar-me que lhes fizesse um filho, incluindo o segurança do edifício, a quem cometi o erro de dizer 'TÁS BOM, PÁ?!, as duas velhas do primeiro andar, que trabalham nem sei bem em quê, e as 4 checas com quem partilhei o elevador.

Se eu não arranjar depressa umas pastilhas para combater a rouquidão, bem me parece que vou passar o dia nisto. Ainda acabo o dia a substituir o Portas e passo a ser eu a comunicar as futuras medidas de austeridade aos portugueses. E eles vão ouvir-me e vão gostar.

(mal por mal, se é para andarem a ser fornicados, ao menos que tenham algum gozo nisso...)

ATÉ AMANHÃ (imaginar esta despedida feita com uma voz grave, cavernosa mesmo, e absolutamente sexy. Já imaginaram? Pois, sou eu...)

terça-feira, outubro 08, 2013

A bipolaridade de um fiel sportinguista

O meu clube do coração tem como característica, ao longo de todos estes anos em que me conheço como adepto, ser esbanjador na distribuição de tristezas e poupado na dádiva de alegrias. Mas continuo irredutível e serei do Sporting ontem, hoje e sempre.

De qualquer forma, temporadas e temporadas de insucessos, que culminaram na de 2012/2013, a pior época de sempre do Sporting no que ao futebol toca, fizeram de mim um céptico e passei a duvidar, como se fosse um Michel de Montaigne dos adeptos leoninos, do futuro do clube.

Só que o Sporting começou a época 2013/2014 (a época seguinte à pior de sempre, para os menos atentos...) a todo o gás. A jogar bem. A marcar aquilo que só pode ser expresso como "buéda golos, c@#$%&%!!!" E aqui mesmo o mais céptico dos sportinguistas tem de acabar por ceder. E em lugar de céptico, torna-se bipolar. E esquizofrénico. E paranóide. E restantes perturbações mentais pertencentes ao DSM-IV. Mas, essencialmente, bipolar.

Nada revela essa bipolaridade quanto as conversas mentais que mantenho comigo mesmo durante os jogos. Que são mais ou menos, e cito-me a mim próprio de memória, portanto peço-me desde já desculpa se não estiver a ser exacto comigo mesmo, assim:

Jogo: Sporting X Setúbal. Local: Estádio de Alvalade. Resultado: 4 a 0 a favor dos bons.

Peter of Pan descrente: Iá, marcámos um golo, mas não vamos lá. Ainda perdemos o jogo!

Peter of Pan crente: F@da-se, gooooooolo!!!!!!! Já lá está!!!! O primeiro lugar é nosso! Lindo, Montero, lindo, faz-me um rancho de filhos!!!!

Peter of Pan descrente: Ok, dois a zero. Mas o Setúbal ainda tem tempo para recuperar. Já vi coisas piores em jogos do Sporting...

Peter of Pan crente: Toooooma lá!!!! 2 a 0!!!!!! Embrulhem, chocos fritos!!!!! Spoooooorting!!! Lindos, lindos, Carrillo, sodomiza-me como sodomizaste a defesa sadina!

Peter of Pan descrente: Sim, mais um golo. Está bem. Mas gastam os golos todos agora, quando forem jogar com o Porto já não têm nenhum para dar.

Peter of Pan crente: Ihhhhhhh, 3 a 0! 3 a 0!!!!!!!! Quando formos ao dragão, espetamos mais uns três que até viramos os tripeiros do avesso. Vamos ser campeões. E ganhar tudo! Chupem, tripeiros e lampiões, força Sporting allez!

Peter of Pan descrente: Pronto, 4 a 0. Mas contra o Setúbal é fácil. Quero é ver agora quando os jogos forem a doer. Começam a perder, vêm por aí abaixo na classificação. Não vão fazer nada outra vez, estes tipos... ai, como é triste ser do Sporting.

Peter of Pan crente: Pimba, 4! Quatroooooooo! A zeroooooo!!!!! Espectáculo!!!! Brutal!!! Vamos limpar esta porcaria toda, com ou sem árbitros a nosso desfavor. É tudo nosso! Spooooorting!!!! Ah, como é magnífico ser lagarto!!!!

E é assim que um sportinguista à séria vive. Agora, das duas uma: ou o élan mantém-se e vou andar assim até meados de Maio do próximo ano, ou começamos mesmo a levar na ripa e volto apenas a ser um céptico desencantado... Vamos ver!

segunda-feira, outubro 07, 2013

Peter of Pan entrevista Duarte Lima

Mostrando deter notável pluralidade, hoje o blogue entrevista um alegado criminoso de colarinho branco e homicida. E digo "alegado" porque não quero um exército de advogados atrás de mim. Não é que eu tenha medo deles, mas mais do que os betos e os lampiões, os advogados irritam-me. E não é que eu não goste deles, mas mais do que os tripeiros e os fascistas, o que eu queria era que os advogados fossem todos largados dentro de um vulcão em erupção. Mas estou a divagar. Vamos lá para a entrevista com o ex-deputado ex-presidente do grupo parlamentar ex-presidente da distrital de Lisboa do PSD. O que constitui um currículo de merda, ao qual se soma ter sido advogado (lá está!) e pensar que sabia tocar órgão de tubos. No meio disto, o suposto envolvimento num homicídio e no escândalo do BPN são coisas de somenos importância. Convosco, Duarte Lima.

Vou começar esta entrevista por uma pergunta simples. Matou ou não matou a Rosalina Ribeiro?
Quem?

A velha!
Ah, essa. Claro que não matei. Espetei-lhe um tiro, isso admito, mas se ela depois disso morreu, não tenho nada a ver com o caso. Os meus advogados conseguem demonstrar que não há uma relação causa-efeito entre levar um tiro e morrer. Afinal, há muitas pessoas que levam tiros e não morrem. Portanto, estou inocente.

E o dinheiro da herança de Lúcio Tomé Feteira, entrou ou não entrou na sua conta?
De quem?

Do velho!
Ah, esse. Olhe, nem sei. Entra tanto dinheiro, proveniente de fontes tão diversas, na minha conta bancária... Se eu estivesse a escrutinar tudo, do género, "Oh lá, estes 20 milhões de euros não estavam aqui ontem. De onde vieram e quem cá os pôs?!", não fazia mais nada na vida. E eu sou um homem muito ocupado em falcatr... aham, em negócios para perder tempo com tais mesquinhices.

Vamos precisamente por aí. Como explica que alguém sem particular inteligência, como você, tenha feito tanto dinheiro?
Posso não ser muito inteligente, e ser do PSD demonstra-o, mas sou bastante esperto e tenho tido sorte nas falcatr... aham, nos negócios em que me meto.

Suponho, portanto, que não está preocupado com o desfecho do caso BPN...
Náááá! Isso não vai dar em nada. O meu séquito de advogados irá certificar-se de que passo incólume. Sim, é chato o dinheiro que gasto só em honorários, mas no final do processo o Estado ainda vai devolver-me essa maquia. E já pensou no que aconteceria se todos os envolvidos no BPN fossem presos?! Portugal precisaria de triplicar o número de prisões só para acolher essa gente. Portanto, ilibar os envolvidos não só beneficia as finanças do país, numa altura em que se encontra em crise, como também evita o descalabro institucional da própria nação!

Como assim? Pode explicar melhor esse ponto?
Claro que explico. Com tanto político, gestor de topo, banqueiro e personalidade de reconhecido mérito envolvido no caso BPN, se fôssemos todos parar à cadeia, não haveria ninguém para mandar neste país. E aí era a anarquia: o Estado ver-se-ia sem dinheiro, as pessoas sem emprego, as pequenas e médias empresas a fechar... É esse o Portugal que queremos?!

Realmente... nem quero imaginar tal cenário!

Aí tem! Ainda bem que vivemos numa realidade completamente diferente.

Uma última pergunta, meu caro: como vê o actual PSD?
Olhe, o secretário-geral foi um tipo que perdeu para mim as eleições à distrital de Lisboa. Acho que isso diz tudo.

É verdade. Tem toda a razão. Obrigado pelo tempo dispensado.
De nada. Depois lá fora dou-lhe o meu NIB. Quando tiver 50 milhões de euros a mais, mande-me um pedacinho para a minha conta, está bem?!


FIM



quarta-feira, outubro 02, 2013

Os terríveis anos 80

Se época houve que significou uma mancha vergonhosa na história da Humanidade, essa época foram os anos 80. Os anos 80 são os anos do marketing cultural norte-americano. Os anos 80 são os anos da maquilhagem exagerada e das permanentes capilares. Os anos 80 são os anos das roupas berrantes, quer nos homens quer nas mulheres. Os anos 80 são os anos dos filmes e séries canastrões, com os actores mais canastrões do que uma mistura de Toy com Zezé Camarinha: Lorenzo Lamas. David Hasselhof. E um longo etc. Os anos 80 são, por fim, os anos da música pop mais pirosa e dos videoclips mais ridículos de que nos lembramos mas gostaríamos de esquecer. Vale a pena até ter Alzheimer se a doença apagar esse período que está calcinado na nossa memória.

Vá lá saber-se porquê, para reavivar tão indecorosa época, a gaja resolveu assistir a uma selecção de videoclipes intitulada "O melhor dos anos 80" (e deixem-me que vos diga: se aquilo era o melhor, não quero nem imaginar o que seria uma escolha "O pior dos anos 80". Deveria ser tipo Chernobyl - outra merda que ocorreu nos anos 80 -, mas mais cancerígena!). Durante não sei quanto tempo, porque acabei por perder a noção do tempo e do espaço passados os primeiros 10 segundos, foram desfilando "artistas" da craveira de um Limahl, de uns Modern Talking, de uma Yazz, de uns Foreigner, de uns Europe, de uns Bros, enfim, é melhor ficar-me por aqui, pois creio que desse lado vocês já devem estar à beira de um AVC. E não fazem nada mal.

Nada simboliza tão bem os clipes e a sonoridade "anos 80" como esta merda: o keytar, ou sintetizador-guitarra. Enfim, como uma imagem vale mais do que coiso e tal, fica aqui a tromba de um
Horrendo, não é?! Pior do que a guerra das Malvinas ou o conflito no Afeganistão, que tanto sofrimento provocaram nos anos 80. O keytar só não foi abolido em convenções das Nações Unidas porque os líderes mundiais, como sempre, estão arredados e distantes daquilo que pesa sobre os povos. O gás saryn é mau? Claro que é. O napalm é hediondo? É pois. Mas o keytar podia ser usado na criação de bandas-sonoras para a eternidade passada no Inferno. O keytar supera facilmente as unhas a raspar em superfícies duras, os alarmes de automóveis e o riso da Cristina Ferreira como som mais irritante a que os seres humanos podem ser expostos.

Foi isto que a gaja ontem libertou. Tal como um Kraken saído das profundezas marinhas, o som do keytar saiu dos anos 80 para voltar a atormentar os justos e os dignos. A gaja não pareceu importar-se muito (deviam vê-la a cantar o "You're my heart, you're my soul", dos inenarráveis Modern Talking...), já eu vou precisar de muita psicoterapia e antidepressivos para conseguir lidar com isto um mínimo que seja. Até os meus colegas de trabalho já notaram qualquer coisa de errado. "O que se passa contigo hoje, Peter of Pan?", perguntaram eles. "Duas sílabas: key tar", respondi eu. 
 
E eles perceberam logo tudo.

Malditos anos 80...

segunda-feira, setembro 30, 2013

Curtas secas sobre assuntos vários

Futebol

O Sporting apanhou uma equipa chamada Alba no sorteio da Taça de Portugal. Se for tão apetecível como a Jessica, posso dizer que será um prazer enfiá-las lá para dentro.

Ciclismo

O Rui Costa tornou-se campeão do mundo em ciclismo. Nota-se que o rapaz está a progredir imenso. Agora, para chegar ao topo da carreira, só falta vencer o Tour de France e ser apanhado num controlo antidoping.

Autárquicas

Já não via tanto vermelho associado ao Alentejo desde que a minha colega gorda alentejana do 6º ano apareceu com o período.

Autárquicas 2

Segundo as sondagens, a estreia da Casa dos Segredos foi o programa mais visto do dia de ontem, suplantando a análise e o comentário às eleições. Portanto, concluo que os políticos, para estarem mais próximos dos portugueses, devem ser deixados sozinhos para poderem andar à porrada e f*der-se uns aos outros. Mas a verdade é que isto já está feito. Três letrinhas apenas: PSD!


sexta-feira, setembro 27, 2013

Estratégia infalível para não nos esquecermos do chapéu-de-chuva nos transportes públicos

É esquecermo-nos do chapéu-de-chuva em casa.

Experimentei hoje e funcionou. Portanto, é uma medida com 100% de eficácia.

Experimentem vocês também e verifiquem se assim não é!

Bom fim-de-semana e boas molhas.

segunda-feira, setembro 23, 2013

Romanos e benfiquistas: uma análise comparativa

Lembram-se dos romanos?! Aqueles tipos que queriam dominar todo o mundo conhecido e gostavam muito de combates entre gladiadores? Sim, esses. Para os romanos, tudo o que tivesse pancada e sangue era coisa para valer a pena. Hoje em dia, há um grupo de indivíduos que muita semelhança tem com os antigos romanos: isso, os benfiquistas. E não é só por ambos serem simbolizados por uma águia...

Sigam os acontecimentos. Os benfiquistas passaram as últimas épocas a assobiar o Cardozo. Quando o Cardozo empurrou o Jesus,* o paraguaio passou a ser o jogador mais querido dos adeptos. Já o Jesus recebeu críticas e assobios atrás de críticas e assobios desde, pelo menos, o desgraçado final da época passada da lampionagem, mas bastou andar à batatada com a polícia para renascer aos olhos da mole lampiã.**

Portanto, os benfiquistas são romanos, mas sob uma fatiota vermelha e branca. Eles gramam é porrada. Nem ligam muito ao futebol, querem é ver o circo pegar fogo. Desde que haja tabefe e soco, está tudo bem.

Sabem o que eu tenho a dizer sobre isto, sabem?!?! O mesmo que os gauleses irredutíveis diziam: "estes romanos são loucos".

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* Mais uma "coincidência". Tanto romanos como benfiquistas tiveram de apanhar com um Jesus.

** Ressurreição que só tem paralelo no outro Jesus, aquele que foi crucificado, voltou dos mortos e acabou por conquistar Roma. Acrescente-se - se é que tal era preciso - que tanto o Jesus de Nazaré como o Jesus da Amadora travaram amizade com homens que vieram a ser chamados de Papa.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Le sommeil

Tenho tanto, tanto sono...

Tenho tanto sono que, acabado de me cruzar com uma rapariga dotada de notável prateleira, só cerca de meio minuto depois interiorizei o que havia acontecido e consegui pensar, para comigo mesmo, "Fosga-se, mas ca ganda par"*. Se alguém me houvera observado durante aquele intervalo de tempo, certo estou de que atentara em ampulhetas do Windows a pairar, com animadas piruetas, sobre a minha cabeça.

Esta merda está tão mal que a frase imediatamente anterior é assim como que uma mistura de escrita barroca com A Teoria do Big Bang (só um geek se vale de símiles tecnológicos...).

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* Esta merda está tão, mas mesmo tão mal que pensei e escrevi uma cacofonia ("ca ganda"?!?!?!) e nem me dei ao trabalho de alterá-la.

P.S.: Já para não falar da rabetice que é pôr um título de um post em francês. Só pode ser do sono...

terça-feira, setembro 17, 2013

Juízos sintéticos a priori há muitos, seu palerma!

Parece uma notícia típica de silly season, mas é tudo menos silly (e, já agora, também não é nada season): na Rússia, andaram aos tiros por causa do filósofo Immanuel Kant. Pronto, está bem, dito assim, até que é um bocadinho silly.

Não que a História da Filosofia esteja isenta de episódios de violência. Não está. Ficou célebre a quase agressão de Wittgenstein a Karl Popper com um atiçador numa ocasião em que discutiam questões filosóficas. Há um romance qualquer a narrar este episódio, leiam-no e não me chateiem. Mais célebres ainda, embora mais distantes no tempo, ficaram as contendas entre os filósofos medievais a propósito da chamada Querela dos Universais. Essas contendas, que começavam sempre por ser disputas intelectuais, resvalavam não poucas vezes para o confronto físico, o que dá ares de paradoxo quando se sabe que tais filósofos eram frades, monges, enfim, homens de grande devoção cristã. Se por um lado andavam a pregar a castidade e o amor ao próximo, quando o assunto era saber se as propriedades (os tais "Universais") tinham uma existência concreta (assim defendiam os realistas) ou não passavam de meros nomes (posição dos nominalistas), a moralidade cristã ia para o caraças e passava a valer tudo, até atirar Bíblias às cabeças adversários. E esta merda devia aleijar à séria, pois as Bíblias de antanho eram bem mais pesadas do que aquelas comercializadas hoje em dia. Coisa para abrir um buraco maior do que esta lesão do futebolista Wayne Rooney.

Seja como for, andar aos tiros por causa de uma discussão filosófica é algo inaudito. E mais inaudito é todo este caso quando se vê que o causador involuntário foi Kant, o filósofo que defendia não devermos olhar os outros simplesmente como meios para outras coisas, e estou a simplificar. E ainda mais inaudito é saber que a disputa decorreu quando os dois indivíduos intérpretes do kantianismo estavam a tentar comprar cerveja.

Espantadas, as autoridades procuram agora saber qual das formulações filosóficas kantianas levou ao extremar de posições entre os dois russos. Oposição quanto ao significado do imperativo categórico? Ou terá sido a dedução transcendental das categorias? Ou mesmo os juízos sintéticos a priori? Ou o apelo ao Reino dos Fins, de resto, se é permitida a minha opinião, um dos aspectos da filosofia kantiana que dá mais vontade de bater em alguém, a começar pelo próprio Kant?! Enfim, aguarda-se ansiosamente a resposta, e eu só espero que a polícia russa tenha pelo menos um especialista em Filosofia, uma espécie de Horatio Caine com uma pós-graduação (mestrado, no mínimo!) em Idealismo Alemão.

Só mais uma nota: segundo refere a notícia do Sol, "as discussões sobre filosofia são muito comuns na Rússia". Se isto for verdade, não sei o que ando a fazer aqui. Por bem menos, o Depardieu pediu cidadania russa. Ter uma menor carga fiscal é giro, sim, mas estar num país onde se discute filosofia na fila para a mercearia é mais giro ainda. Quer-me parecer que ainda vou ter de descobrir o e-mail do Putin e solicitar-lhe, também eu, a cidadania russa...

segunda-feira, setembro 16, 2013

Faz falta uma publicação sensacionalista e fofoqueira para a petizada!

Mais uma oportunidade de negócio com o selo de qualidade Peter of Pan! Constatei que há um nicho dentro do mercado das publicações periódicas que necessita ser explorado: uma revista capaz de noticiar as fofoquices relativas às personagens predilectas da criançada. O que isto não fará pela literacia dos nossos "piquenos"! Estou já a vê-los a ler a revista enquanto comem os cereais ao pequeno-almoço ou fazem xixi no bacio.

Como director da revista, uma mistura de Caras com Correio da Manhã para miúdos, tenho já preparadas várias manchetes. Vejam lá se isto não é um projecto vencedor.

Trombinhas Kids #1
Ruca e Noddy vistos juntos em discoteca gay. Não percas as fotos.

Trombinhas Kids #2
Bob o Construtor responde aos rumores de falência da sua empresa de construção civil: "Vão para o c@$@&$%, seus filhos da p#$&!"

Trombinhas Kids #3
Dick Dastardly, Wile E Coyote e Robbie Reles de Vila Moleza falam sobre as suas experiências enquanto vilões frustrados.

Trombinhas Kids #4
Doraemon admite: "O meu pêlo azul é fruto de uma adolescência marcada pelas drogas".

Trombinhas Kids #5
Bombeiro Sam terá um caso com a Pipi das Meias Altas? Vê a nossa grande reportagem.

Trombinhas Kids #6
Que tipo de relação tem a Heidi com o seu avô? Fotos exclusivas revelam. Não deixes de ler também o artigo de opinião assinado pela Paula Bobone: Animadamente correcto.

Trombinhas Kids #7
O verniz estala entre a Ovelha Choné e a Popota. Rumores de agressões e ofensas verbais.

Trombinhas Kids #8
A porquinha Olivia confessa: "Fui abusada sexualmente pelo Pequeno Pónei"

Trombinhas Kids #9
O elenco de Navegantes da Lua vai de férias. Imagens a não perder. Lê também Os segredos do Son Goku para uns abdominais de sonho.

Porra, que isto vai ser um sucesso...


quarta-feira, setembro 11, 2013

Mandei uma lista de dúvidas para os caramelos do CERN e da NASA. Eis as respostas

Sou um gajo muito curioso e detesto desconhecer coisas que não conheço, embora detestasse mais ainda desconhecer coisas que conheço ou conhecer coisas que desconheço. Isto seria do piorio.

De modos a ter respostas para as dúvidas que neste momento me atormentam, mandei uma cartinha para os nerds da NASA e do CERN. Na falta de Deus, que não existe, e do Vasco Pulido Valente, que existe e sabe tudo, mas é um ordinário do caraças, pensei que a escolha acertada seria abordar os génios daquelas duas organizações internacionais. E acho que não me enganei, se bem que algumas respostas que recebi não tenham propriamente o dom de me convencerem... Vou reproduzir tudo tim tim por tim tim, e depois julguem vocês.

Diz-se que a velocidade da luz é constante, e que a luz percorre 300 000 000 metros por segundo. Ora, mas se disséssemos à luz que ela troca favores sexuais por dinheiro e que faz alfinetes de peito a equinos, não seria teoricamente expectável que ela se deslocasse uma beca mais depressa? Sendo assim, se eu estivesse a 30 anos luz da luz e lhe mandasse essas bocas, quanto tempo passaria até que a gaja viesse junto de mim pedir satisfações? 28 anos luz? 24 anos luz? Não faria nada e, cheia de vergonha, virava-me as costas e ia para casa lavada em lágrimas?

Resposta dos gajos do CERN:
That was never tested. But it's interesting from a theoretical point of view. We now have an unused large hadron collider, maybe we could make some experiments there. Just explain to us what do you mean by "alfinetes de peito". Our automatic translator was all blank there. Oh, and light does not travel 300 000 000 m/s. Its actual speed is 299 792 458 m/s. Check you references next time.

Resposta dos gajos da NASA:
WTF are you talking about?!

Sendo que o William Carvalho está num início de época do caraças, o que deve o Sporting fazer com o Rinaudo? Eu acho o Rinaudo um dos melhores jogadores de sempre do mundo, mas não me parece bem tirar o William, que neste momento é o melhor jogador de sempre do universo naquela importante posição de nº 6.


Resposta dos gajos do CERN:
Good point. Our team of physicists came up with a possible solution. Put Rinaudo inside a closed dark box when the match starts. As he is inside the box, the referee can't tell he's playing or not (we call this a Schrödinger's Rinaudo, ha ha ha - that's a physicist joke!). And so, you have the problem solved: William Carvalho and Rinaudo at the same football pitch, but no one can tell if Sporting is playing with 12 players. We can't figure yet how Rinaudo can kick the ball when he sees nothing outside the box, but we'll be working on that as soon as we get new funds from our member states.

Resposta dos gajos da NASA:
WTF are you talking about?! What is a Rinaudo? And a William Carvalho?

Podem os zombies peidar-se?

Resposta dos gajos do CERN:
It's possible. They eat, and they have bowels, unless they were torn apart by other zombies. A more interesting question would be then: what does a zombie fart smell like? We must build a 100 million euros machine to answer this.

Resposta dos gajos da NASA:
At last, something we can grasp. Can zombies fart? A decent question, this is. But we don't fucking know.

Foi isto. Da próxima vez que tiver mais dúvidas na cabeça, talvez mande antes uma carta à Fanny do Big Brother...

terça-feira, setembro 10, 2013

Coisas pelas quais vale a pena andar à pancada.

Ontem principiei uma discussão com um amigo e estamos para marcar um duelo. Motivo? Do alto do meu bom senso, afirmei que Mário de Carvalho é o melhor escritor português vivo, ao passo que o desgraçado do filisteu do meu amigo, se é que posso chamar gente desta de "amigo", disse que não, não é nada.

Discórdia desta tem de acabar à paulada. Não se admite que um bárbaro brinque com coisas sérias. Civilizado como sou, pedi para que fosse ele a marcar o lugar e a hora, e ainda o deixei escolher armas primeiro. Sou assim: ele começa, mas sou eu quem vai acabar com esta história!

Muitos podem ver nisto um manifesto exagero. Então dois indivíduos adultos andam à porrada só por causa de diferendos literários?! Mas não há exagero algum. Se há coisas pelas quais vale a pena andar à mocada, são divergências em termos de gostos. Quê, acham melhor inventar guerras por causa do petróleo? O petróleo é uma cena que cheira mal, é peganhenta é dá um trabalho do caraças a limpar. Quem anda às turras por causa disto, não bate bem da tola.

Outras coisas pelas quais vale a pena lutar: opiniões sobre gajas (tipo: "Ah, a coisinha é mais grossa do que a fulaninha", "Ah, não é nada", "Ai não? Queres andar já ao soco?"). Prestações desportivas ("Ah, o Sporting é melhor que o Benfica e o Porto juntos", "Ah, não é nada", "Ai não? Deixa-me ir ali buscar a minha bazuca e já conversamos melhor"). Sabores de gelados. Face a isto, disputas por recursos e por territórios são coisas, digamos, comezinhas. Digam lá se não tenho razão.

(aviso já que, se disserem que não tenho, isso é coisa para andarmos já todos aqui à batatada. Portanto, tomem juízo).

segunda-feira, setembro 09, 2013

Manuela Moura Guedes vai apresentar o Quem quer ser milionário?

Então o programa faria bem em mudar de nome para
Quem consegue aguentar aquela tromba sem desviar o olhar?

quinta-feira, setembro 05, 2013

Verdades insofismáveis: os americanos nunca estão certos

Sendo um céptico por natureza, e admirador da máxima socrática do "só sei que nada sei", há contudo pelo menos três coisas que eu tenho por absolutamente certas: uma, as mamas fazem o Universo valer a pena; duas, o Sporting é o maior, mesmo não ganhando porra nenhuma; três, os americanos estão sempre, mas sempre, mas mesmo mesmo sempre, errados.

Se a maioria da esquerda tem sido simpática para os americanos desde que o pret palhaço do Obama foi eleito e re-eleito, eu não pactuo com essa simpatia, pois os americanos, lá está, estão sempre errados, nunca é demais repeti-lo. Os meus amigos não compreendem isto: se uns falam que estou a ser injusto, ou que sou um exagerado, outros alegam que sou um anti-americano primário e que quero ver o mundo cair no caos e na anarquia (a estes, faço desde logo saber que não me compram com elogios).

Este intróito todo serve para dizer que, nesta situação séria que é o ataque à Síria, estou contra. Mas estou contra o quê, exactamente? Estou contra aquilo que os americanos fizerem! Se os americanos decidirem atacar, estou contra. Se os americanos decidirem não atacar, estou contra. E se os americanos ficarem indecisos sobre se atacam ou não, estou contra. Esta é a atitude saudável a ter. E a única atitude ética e responsável.

Tudo o resto é conversa. Não venham cá com histórias de pacifismos, nem de libertação do povo sírio, nem de receio pela oclusão da III guerra mundial, nem nada. Querem saber o que é justo e bom fazer? É tudo aquilo que os americanos fazem, mas ao contrário. Mais nada. Aprendam...

quarta-feira, setembro 04, 2013

Mas de onde saíram estas malucas?

Devem recordar-se de, semanas atrás, os serviços noticiosos falarem de uma praga de mosquitos no Algarve. Eu, na altura, aplaudi: nada como uma bela invasão de insectos para chatear os burgueses e os turistas endinheirados que gostam de passear pelo sul do país. O problema é que o karma, não existindo, ainda assim é um cabrão, e a praga de mosquitos, ou melgas, ou lá o que são aquela merda, parece que subiu pelo território e instalou-se na área metropolitana de Lisboa. Uma porra, porque tenho picadas desde sábado que ainda me dão comichão, e não se trata de pequenas borbulhas: não, são autênticos caroços, vermelhões e rijos, espalhados pelas pernas, pelos pés e até pelas costas, junto quase ao rego do rabo.

Uma valente gaita, é o que eu digo.

(Um aparte. Veja-se como numa frase escrevi "rabo", e na frase seguinte escrevi "gaita". É sempre assim: quando aparece um rabo, vem uma gaita logo atrás. Aprendam comigo, que estas merdas não se ensinam nas aulas de Escrita Criativa).

Uma gaita, pois. Ando a coçar-me desde sábado, e não vejo meio destas putas destas borbulhas gigantes sumirem. Aquilo não foi feito por melgas; foram super-melgas, melgas tão melgas, tão cabronas e chupistas que qualquer dia chegam a secretárias de Estado ou até mesmo a ministras. E eu agora tenho pena dos burgueses e dos turistas que passaram as suas férias no Algarve. Porque se eles passaram pelo mesmo que eu, deve ter sido chato.

Esperem, eu disse que tinha pena? Desculpem: o que eu queria dizer é que, no caso deles, é muito bem feito. Mamem, burgueses. Mamem, turistas. Espero que ainda estejam a coçar as vossas borbulhas, e que as mesmas já estejam transformadas em furúnculos bem dolorosos, com pus e tudo. 

(Depois desta, o sacana do karma vai pedir-me satisfações novamente, querem ver?! Alguém conhece um bom repelente de insectos, daqueles baratitos?)

E agora vou-me embora, que estou de novo com uma daquelas comichões...

terça-feira, setembro 03, 2013

Precisa-se de espelho para benfiquistas

Tenho estado, desde sábado, em discussão acesa com vários amigos lampiões. Alegam eles que o resultado do último dérbi foi adulterado por culpa da actuação do árbitro, que deixou passar um fora de jogo que deu no primeiro golo do Sporting e não marcou um penálti a favor do Benfica.

Têm razão?! Sim, têm. Em lances capitais do jogo, o Sporting foi beneficiado.

Mas a história fica por aqui? Não. Enquanto eu for vivo, sempre que um benfiquista reclamar ter sido prejudicado em jogos contra o Sporting, respondo com João Capela, o árbitro do dérbi mais inclinado de que tenho memória. Enquanto eu for vivo, defenderei a verdade desportiva, e para compensar o asco do último Benfica-Sporting na Luz, nada mais justo do que o SCP ser beneficiado durante os próximos 10 anos. Tudo o que for diferente disto, é injusto e imoral.

Portanto, caros lampiões, foram roubados neste último jogo sim. Mas ainda têm muito para ser roubados de modo a equilibrar as contas. Quando chegarmos ao défice zero, começamos tudo de novo, OK?

segunda-feira, setembro 02, 2013

Quer perder peso? Pergunte-me como!

Está com quilos a mais e não quer fazer exercício, nem dietas estapafúrdias e muito menos gastar dinheiro em medicamentação manhosa? Tenho a solução ideal, que lhe dará resultados garantidos.

Apanhe uma valente gastrite. Eu apanhei e zás, numa semana e meia perdi cinco quilos. Estou com um aspecto tão cadavérico que já ando em conversações com os produtores do Walking Dead para aparecer num dos próximos episódios.

quarta-feira, julho 31, 2013

Peter of Pan entrevista Jasper, o imigrante ilegal norueguês

Hoje, uma história triste, a merecer ser partilhada. É a história de Jasper (nome fictício), um norueguês forçado a emigrar para Portugal. Leiam e reflictam.

Peter of Pan: Caro imigrante ilegal norueguês, vou tratá-lo por Jasper para o seu nome verdadeiro permanecer incógnito, está bem?

Jasper: Está óptimo. Até porque me chamo mesmo Jasper, e assim não me confundo.

Peter of Pan: Err... Está bem. Jasper, conte lá então a sua odisseia. Como abandonou o país dos fiordes e se viu obrigado à imigração ilegal?

Jasper: Oh, eu tinha uma vida que era um autêntico inferno. Ganhava cerca de 4500 euros por semana. Tinha quatro carros topo de gama, duas casas em Oslo e ainda uma moradia de férias em Bergen onde passava dois meses por ano. Isto é algo que não desejo a ninguém! E foi para fugir disto que vim para Portugal.

Peter of Pan: Mas... a mim parece-me que o Jasper tinha uma vida espectacular!

Jasper: Pronto, lá está, as pessoas quando não passam pelas coisas, não sabem o que dizem. A minha vida era horrível. Você sabe o que é passar um serão em sua casa, a ouvir Stravinsky na sua bela aparelhagem enquanto degusta um whiskey de 20 anos, e o seu corrector telefona-lhe a informar que ganhou mais 200 milhões de euros à conta dos seus investimentos bolsistas? Sabe?!?!

Peter of Pan: Não, não sei. E parece-me que nunca saberei.

Jasper: Então não diga asneiras! É horrível, caramba. Não sei como outras pessoas conseguem viver nestas condições. Eu fui ao médico, eu fui ao psiquiatra, nada se resolveu. Eu chegava a acordar de noite, cheio de suores frios. Era o medo de que a minha conta bancária tivesse novamente crescido de uma maneira incontrolável. Tinha de pedir à minha empregada vietnamita que me ligasse o jacuzzi e me preparasse uma infusão. Ora, onde é que isto é vida?!

Peter of Pan: Na Noruega?

Jasper: Não seja parvo! Finalmente, tomei a decisão drástica de abandonar o meu país, que tanto me havia dado sem eu ter feito nada por isso, e entrei ilegalmente em Portugal.

Peter of Pan: E o que encontrou em Portugal?

Jasper: Oh, tudo o que eu esperava, e muito mais! Aqui, consegui trabalho numa serralharia. Ganho 485 euros por mês, repare bem, por mês!, e o patrão ainda me rouba na segurança social. Assim, sim. Isto já são condições!

Peter of Pan: Mas isso parece-me lastimável! Como pode o Jasper preferir essa existência à sua anterior?

Jasper: Pronto, lá vem outra vez o julgamento primário... Vocês portugueses nunca estão contentes com o que têm! Você quer comparar a excitação de uma pessoa que ganha 485 euros por mês e anda a contar os tostões ao tédio, à angústia de alguém de classe alta que faz milhões numa simples meia-hora?! A minha vida ganhou a emoção que não tinha, o enredo que faltava escrever, o sal e a pimenta que procurava e não achava.

Peter of Pan: Bolas, que lugares comuns horríveis. Bom, mas então o Jasper encontrou em Portugal o destino perfeito. A minha pergunta é: você está maluco?

Jasper: Estou de perfeitíssima saúde. Quer dizer, perfeitíssima também não: já há dois meses que não consigo ir ao centro de saúde tratar de uma dor aqui na região lombar porque tardo em ser capaz de poupar para as taxas moderadoras. E depois há a questão de ser imigrante ilegal. Não tenho tido tempo para regularizar a minha situação, pois trabalho 18 horas por dia. Mas enfim, é ter um bocadinho de paciência e continuar a juntar o que me sobra do salário. É provável que lá para 2016 já consiga ser visto por um médico.

Peter of Pan: Portanto, tudo em Portugal o satisfaz...

Jasper:
Bem... calma... tudo, tudo, também não. O vosso país também tem os seus defeitos.

Peter of Pan: Nunca diria...

Jasper:
Por exemplo... pá, a vossa extrema-direita é muito fraquinha. Muito fraquinha.

Peter of Pan:
Como assim?

Jasper: Então não é que há um bando de fascistas a manifestar-se junto da serralharia onde sou explorado e os tipos só têm olhos é para os imigrantes africanos? Para estes, é "volta para a tua terra, preto do c@r@lho", "macacos, a vossa árvore fica longe daqui", "África é para o outro lado, cabrão", e para mim, só porque sou alto, de cabelos claros e olhos azuis, não há nada?! Isto é discriminação, caramba! O que é que os imigrantes africanos têm a mais que eu? Já não peço para me apedrejarem, afinal isso até é capaz de ser chato e doer um bocadinho, mas ao menos cuspiam-me em cima, como fazem ao Vadú e ao Djontcha. Sou tão imigrante ilegal quanto eles... Mereço também que me mandem de volta para África!

Peter of Pan: Jasper, mas convenhamos que é um pouco estranho mandar um norueguês de volta para África...

Jasper: Lá está você outra vez! Raio de preconceitos! Então não viemos todos de África? Se viemos todos de África, por que não podemos todos voltar para lá?! Isso de mandar só os pretos tem de acabar. Por isso é que a vossa extrema-direita é o que é! Racistas, são uma cambada de racistas! Ou se combate a imigração ilegal como deve ser, ou não se combate. Agora a extrema-direita a discriminar entre imigrantes? Onde é que isto já se viu? É nestas coisas que o vosso país ainda tem muito a melhorar...

Peter of Pan: Hãããã... pois. E ficamos por aqui. Obrigado, Jasper.

Jasper: Obrigado eu. Espero não chegar atrasado ao trabalho, senão o supervisor faz queixa e ainda sou despedido, e depois ainda arranjo um trabalho mais bem pago. Para isso, já bastou o que bastou na Noruega...

quinta-feira, julho 18, 2013

Xenófilo

Na fila para o almoço, dou com duas italianas, calmeironas (e eu não sou propriamente baixote), jeitosas, nos seus 20 aninhos, e com ar de marotas.

Ainda dizem os otários de extrema-direita que não querem cá estrangeirada.

Meu, a avaliar pelo dia de hoje, este país por mim podia ser só estrangeiros...

quarta-feira, julho 17, 2013

Peter of Pan confronta um espelho... e apanha uma decepção.

Tragédia! Oh, que tragédia tão trágica. Dramaturgos gregos podiam escrever uma peça sobre o que me aconteceu. O Lars Von Trier podia escrever um daqueles filmes manhosos e dramáticos que encantam os cinéfilos mas a mim só me dão vontade de lhe dar com um taco de hóquei em patins nos cornos.

Ontem, passados 15 anos desde a última vez, fui ver-me ao espelho. E descobri, ameaçador, um pêlo branco no meu peito. Horrível! Já não bastavam os cabelos brancos na cabeça, os pêlos brancos na cara, agora é um pêlo branco no peito. Não conheço maior sinal de "estás mesmo a ficar velho, meu palhaço. Não há-de demorar muito para começares a babar-te pelas ruas, mesmo quando não vês mamas" do que isto.

Quando contei a trágica descoberta à minha gaja, ela procurou desdramatizar. Olhou-me como se eu fosse maluco e fez uma expressão de "se eu pudesse, trocava o teu cérebro pelo do teu filho, e só não o faço porque ele ficaria a perder". Sim, a minha gaja, que todos os dias passa bocadões na casa de banho para disfarçar um niquinho de ruga que tem ali junto da vista esquerda, mal se notando à vista desarmada, resolveu desvalorizar o meu pêlo branco no peito. Quando o assunto é sério.

Alguem conhece lares de idosos onde os enfermeiros não dêem muita porrada? Agradeço que me informem...

terça-feira, julho 09, 2013

Vou fazer concorrência ao Martim do Prós & Contras

Tive a ideia de mandar fazer t-shirts com a frase

"SOBREVIVI AO VERÃO MAIS FRIO DOS ÚLTIMOS 200 ANOS"

Fónix, que isto vai vender-se que nem pãezinhos quentes...

quinta-feira, julho 04, 2013

Lição de História

Passos Coelho leu o César, mas não o leu todo. É verdade que o general e ditador romano dizia "mantém os teus amigos por perto, e os inimigos ainda mais perto", mas estava lá uma notinha de rodapé a afirmar "Menos o Portas, caralho! O Portas, é lidar com ele a golpes de pilo".

segunda-feira, julho 01, 2013

Malditos nadadores-salvadores. Malditos!...

Acho que odeio mais os nadadores-salvadores do que odeio o João Moutinho!

E porquê?

Duas razões:

Uma: a minha gaja gosta muito do loirinho que aparece na 3ª temporada do Masterchef Australia. Qual é a ocupação do gajo, qual é?! Pois... nadador-salvador.

Duas: ontem, quando saíamos da praia, passou um nadador-salvador a correr pelas areias do parque de estacionamento, e adivinhem lá quem é que ficou toda embasbacada a olhar para o manjão, quem foi?! Exacto... a minha gaja.

Estúpidos nadadores-salvadores. Espero que sejam todos picados por alforrecas.

sexta-feira, junho 28, 2013

Compêndio de citações

Deus está morto!
Nietzsche

Nietzsche está morto!

Deus

Vamos todos morrer!
Universo

Fala por ti!
Multiverso

Pá, estejam calados e vão levar todos no pacote!
Peter of Pan

Finalmente alguém diz alguma coisa de jeito!
José Castelo Branco

De onde saiu este gajo?!
Nietzsche

Não foi criação minha.
Deus

Também não tenho nada a ver com isso.
Universo

Ei, não olhem para mim, estou fora!
Multiverso

Porra, já chega. Acabou. Bom fim-de-semana a todos.
Peter of Pan

terça-feira, junho 25, 2013

E se o Peter of Pan fosse parar ao Inferno?

Há umas semanas, o papa Francisco surpreendeu muito boa gente ao revelar que os ateus, desde que fossem boas pessoas, não iriam parar ao Inferno, esse flagelo imaginário que muito cristão teme ser real. Claro que, dias depois dessa declaração, alguém do Vaticano veio dizer que não, não era bem assim, os ateus vão parar ao Inferno sim, não interessa para nada se são boas pessoas ou não, se és ateu, queimas até ficares bem tostadinho. Pessoalmente, achei este desmentido uma falta de respeito para com o papa, o representante de Deus na Terra. Então agora um papa, eleito por bués cardeais, já não pode dizer o que pensa, que aparece logo um burocrata do Vaticano a renegá-lo? Sim, não deixa de ser irónico renegar o descendente do apóstolo famoso por renegar, mas bolas: é para ser desconsiderado em matéria de teologia cristã que um papa se faz papa?! Já não há respeito pela autoridade?

Bom, mas façamos várias suposições. Suponhamos que o papa tem razão. Que Deus existe, que o Inferno existe, que há ateus boas pessoas. Se for isto, estou safo! Não vou parar ao Inferno de maneira nenhuma! "Ah, mas como provas tu que és boa pessoa?", perguntam-me. Simples: sou do Sporting! E este simples facto é aceite por todos como comprovativo de ser-se bom, mais até do que dar esmolas ou ajudar velhinhas a atravessar a rua. Já São Teodósio do Bombarral escrevia, em pleno século XII, numa das suas epístolas: "Ho camiño xusto é ho do lagarto que he hum leão de verde y branco trajado". Todos os hermeneutas têm interpretado esta frase como significando "O Sporting é o maior, caralho!", e isto revela que os santos nem sempre são totós. E, claro, que quem é do Sporting tem o seu lugar garantido no paraíso (é a velha história: quem muito sofre neste mundo, mais probabilidades tem de vir a ter uma boa vida no além-mundo...), ocupando uma nuvem simpática e passando a eternidade a ver gajas boas lá de cima e a cuspir na campa do João Moutinho.

Portanto, se o papa Chico tem razão, estou na boa. Mas agora suponhamos outra coisa... que ele não tem razão. Que Deus existe, o Inferno também, há ateus boas pessoas, o Sporting é o maior, MAS isso não chega para livrar o ateu do castigo eterno. Quem é ateu lixa-se, ponto final. Sendo assim, irei parar ao Inferno com toda a certeza. E é aqui que as coisas complicam, pois eu já me imagino no Inferno:

Eu: Pssst, tu aí! Sim, tu aí, pequeno demónio: achas que podes espetar-me a forquilha menos profundamente? E baixa aí o lume, já estou farto de gritar com dores de queimaduras, e estar sempre a suar é muito desagradável.

Demónio: Orrrr-zathoth, burrr ogoth.

Eu: Iá, muito bem, mas e agora se tentasses responder em português?

Alguém: Eh eh eh eh!

Eu: Pá, quem está aí a rir-se?! És tu, Vítor Gaspar?

Alguém: Eh eh eh eh! Estás a sofrer, Peter of Pan?

Eu: Sim, estou. Mas quem és tu? Onde estás? Por que só te ouço e não te vejo?

Alguém: Eu sou aquele que é!

Eu: Oh, f*da-se! Enigmas a esta hora do dia?! Hmm, já agora, ó pequeno demónio, que horas são, pá?! Vocês têm cá televisão? Dá jogos do Sporting? E o MasterChef Australia, posso ver?!

Demónio: Arrrrrrhhhhh uhhhhhhh kylygrrrrroooohhh.

Eu: Ó que car... Isto do Inferno não tem condições nenhumas, porra! Estou aqui, estou a pedir o livro de reclamações!

Alguém: Bem feito!

Eu: Ai a gaita!... Ouve lá, ó tu, mas que queres de mim, caramba? Quem és tu, pá?!

Alguém: Eu sou o Senhor Teu Deus. Já devias ter percebido.

Eu: Mas achas que com este calor e esta forquilha espetada no nalguedo eu estou em posição de perceber alguma coisa?

Deus: Bem feito!

Eu: Pá, mas que mau feitio! Qual é a tua, passaste por aqui só para me gozar?

Deus: Sim!

Eu: Mas espera lá: o que vens fazer tu ao Inferno? O Satanás sabe disso? Já deixam entrar aqui qualquer um, é?! E primeiro: eu não acredito em ti, nem no Satanás, nem no Inferno. Logo, o que estou aqui a fazer? E o que estás aqui a fazer?

Deus: É lixado, não é?! Não acreditaste em mim em vida, vais passar a eternidade a penar. Eh eh eh...

Eu: Então mas tu ainda gozas? Achas bem?!

Deus: Ai, Peter of Pan, Peter of Pan... foi a tua falta de credulidade e humildade que te levou ao lugar onde estás. Sempre a duvidar, sempre a colocar em causa o meu julgamento... Eu é que sou Deus, a minha vontade é lei.

Eu: Pá, vai mas é para um sítio que eu cá sei...

Deus: Eu posso ir onde quiser, agora tu vai passar toda a eternidade em danação. Eh eh eh eh...

Eu: Obrigadinhos por me lembrares. És muita bom, tu. Palhaço...

Deus: Eh eh eh eh... incha, porco! Quem te mandou desdenhar da aposta de Pascal?

Eu: Aposta de Pascal é mas é o caralhin... hmmm, espera... mas ...pá... mas... ó Deus, responde-me aqui a uma questão... então não era o papa Francisco que dizia que um ateu bom não iria parar ao Inferno? O que faço aqui então?! Quem foi o otário do administrativo do paraíso que se enganou e trocou os papéis? Como é?! Tens de mudar de responsável pelos recursos humanos...

Deus: Eh eh eh, a tua raiva só me delicia. Ó Peter of Pan, a verdade é que o papa Francisco não tinha razão. Os ateus, bons ou maus, têm entrada negada na casa de Deus. Não quero lá gente como tu. Sim, és do Sporting, mas não acreditas em mim. Portanto, como queres tu passar a eternidade a beber umas jolas e a discutir se o campeonato ganho pelo Inácio teve mais valor do que os 7 campeonatos conquistados pelos 5 violinos?!

Eu: Pá, mas essa história está mal contada. Então e a tese da infalibilidade do papa? Como pôde o Francisco enganar-se?

Deus: Peter of Pan... o gajo era argentino. Conheces alguma coisa boa vinda da Argentina, sem ser jogadores de futebol canhotos e canininhos?!

Eu: Deus, o Borges era muito bom. Mas tu não lês?

Deus: Pronto, está bem, o Borges, concedo. Mas papas?! A Argentina é o país das pampas, não dos papas.

Eu: Fónix, Deus, essa foi mesmo sequinha... Tudo aquilo de que um gajo no churrasco precisa...

Deus: Dói, não dói?! Bem feita... É para ver se aprendes. Agora tchau, talvez volte um dia para gozar mais contigo. Tipo, sei lá, quando o Sporting ganhar a Liga dos Campeões, ou assim. Olha, sabes quem está lá no paraíso? As mamas da Angelina Jolie. E tu não vais poder vê-las. Nunca! Eh eh eh eh. Tem um bom inferno, mas não te enerves, ouvi dizer que aqui há muita tendência para o ambiente aquecer, eh eh eh eh...

Eu: Oh, fronha-se, pior que tudo são as piadas desde tipo...


E pronto, acho que as coisas passar-se-iam mais ou menos assim se eu fosse parar ao Inferno. Mas isto, lá está, são meras suposições. A verdade verdadinha não está nem nuns nem noutros. Nem o Chico nem os burocratas do Vaticano têm razão. Deus não existe, o Inferno não existe, há ateus bons, há ateus maus... a única coisa em que todos concordamos é que o Sporting é o maior. De resto, acabou-se: quando morrermos, vamos todos parar ao mesmo sítio. De certa forma, este é um pensamento reconfortante, embora eu tenha pena de não poder passar a eternidade a galar gajedo do bom e a mandar escarros na tumba do Moutinho. Paciência...

Até amanhã e leiam muito a Bíblia.

quinta-feira, junho 20, 2013

In the end, the joke is on me...

Conheci uma italiana que me disse não gostar de queijo nem de vinho.

Epá, uma italiana não gostar de queijo nem de vinho é tipo... pá, é tipo um português não gostar de fado, de tourada e não comer cozido à portuguesa. É desde logo motivo de gozo, escárnio e desprezo.

Foi então que me lembrei de que eu sou português, não gosto de fado, de tourada e não como cozido à portuguesa.

Que se lixe esta merda toda...

terça-feira, junho 18, 2013

As minhas piadas secas são umas incompreendidas

Hora: durante o pequeno-almoço.
Local: casa.
Personagens: eu e a minha gaja com o filho ao colo.

Está a passar um anúncio qualquer na televisão onde são proferidas as palavras "infecção fúngica vaginal". Sequioso de saber mais, fiz à minha gaja a pergunta que qualquer pessoa ignorante no assunto faria:

- Gaja, o que é uma infecção fúngica vaginal? É quando uma mulher está com cogumelos enfiados na c*na?!?!


Aparentemente, a minha solicitação de informação não foi bem entendida, porque fui dardejado com o olhar de tal maneira que ainda sinto pontadas pelo meu corpo inteiro.

Entretanto, passa outro anúncio, agora a uma loção ou a um protector solar ou algo do género. Enfim, qualquer coisa onde se diz "a sua pele está constantemente sujeita a agressões". Disposto a quebrar o gelo, resolvo atirar:

- Pois, é bem verdade. A minha pele está sempre a ser agredida. Ainda no outro dia fui pôr uma queixa na polícia, mas os tipos mandaram-me dar uma volta. Assim vai a justiça neste país...

Voltei a ser dardejado, e ainda estou para saber como é que a gaja não me deu com o puto na cabeça. E ainda resmungou coisas como "as tuas piadas secas andam mesmo secas", sem sequer pensar que o propósito de qualquer piada seca é precisamente esse, ser seca. Se uma piada seca tivesse piada de rir às gargalhadas, nunca seria uma piada seca.

Com tudo isto, descobri que, lá em casa, as piadas secas são discriminadas e incompreendidas, como se fossem um pouco ciganas. A diferença é que as minhas piadas secas não andam às naifadas nem aos tiros, nem sequer vendem produtos contrafeitos nas feiras. Mas que são muito mal vistas, ai isso são.

Onde é que está o Bloco de Esquerda quando é preciso? Quero alguém a defender as minhas piadas secas, já. De preferência, a Ana Drago e a Joana Amaral Dias...