Pois é, no fim-de-semana que passou lá me arrastaram para isto. Fiquei um bocado com má impressão da Feira Medieval de Óbidos, começo já por dizer. Adoro a localidade, lá isso adoro, ainda no ano transacto dei lá um pulinho e trouxe, para além de belas imagens, uma garrafa da melhor ginjinha do mundo, MAS a realização de uma feira medieval nos domínios desta pacata vila é algo que, a meu ver, não a favorece. Para já, pagar 7€ por cabeça para entrar na feira é uma coisa que não lembra nem a um cavaleiro templário. Depois, já lá dentro do recinto, os preços cobrados por morfes e drinques não são menos que exorbitantes. Faz pensar que aquela gente da Idade Média ganhava toda muito bem.
Mas não são os assuntos pecuniários que traduzem a grande decepção que constitui uma feira medieval como a de Óbidos. Não! Na minha perspectiva, o que minou por completo este evento foi o seu irrealismo. É que se trata de propaganda enganosa. Senão, vejamos: o site esclarece que, e cito, "desde 2002 que Óbidos mergulha no tempo e a Vila transforma-se num verdadeiro palco da história" (podem ler mais aqui). Portanto, o visitante pode esperar uma reprodução quase verbatim daqueles tempos, certo?! ERRADO!!!! A feira medieval de Óbidos não reproduz os tempos medievais coisa nenhuma! Entre as várias falhas, destaco as seguintes:
Bruxas queimadas na Feira Medieval de Óbidos = ZERO!
Pá, então um tipo vai a uma feira medieval e não vê uma bruxa a ser esturricada?! Na Idade Média, de cinco em cinco minutos estava-se a fazer uma fogueira tipo as do Santo António mas com bruxas. E não foi por falta de matéria prima que a organização da feira de Óbidos não procedeu a uma queimada! Garanto que vi lá muita rapariga e muita senhora com todo o ar de bruxa. Custava muito terem agarrado numa - umazinha que fosse, vá! -, amarrá-la a um poste de madeira, colocar lenha à volta e atear fogo?! Isto era o espectáculo medieval por excelência, mas para a Feira Medieval de Óbidos, 'tá quieto...
Mouros esquartejados na Feira Medieval de Óbidos = ZERO!
Mais uma lacuna grave e inadmissível. Esquartejar mouros era o passatempo predilecto do cidadão medieval a partir da altura da reconquista cristã. Lembro-me perfeitamente da minha antiga encarnação enquanto cavaleiro cruzado... ah, aquilo é que eram tempos! No meu caminho para Jerusalém, fartei-me de esquartejar mouros. E quando eu e os meus companheiros invadimos a cidade, fartei-me de esquartejar mouros. E judeus. E cristãos. E estendais de roupa. Enfim, foi um fartote... Lembro-me também que, à vinda, parámos numa estalagem ali para os lados de Sevilha, e a conversa foi mais ou menos assim:
Eu: Boas noites, nobre estalajadeiro! Eu e os meus companheiros, com a vossa mercê, desejaríamos refrescarmo-nos e alimentarmo-nos.
Companheiros: ARGH! UARGH!
Estalajadeiro: Certamente, vossas senhorias.
Eu: Trazei então o leitão, vinho, cerveja e hidromel, para eu e os meus companheiros nos banquetearmos.
Companheiros: ARGH! HEYYYY! UARG!!! E os mouros, carago?!? Queremos mouros para esquartejar! ARGH! UARG! BLUUURGH!
Eu: Sim, suas best... ahm, sim, meus irmãos cruzados! Tendes razão. Nobre estalajadeiro? Nobre estalajadeiro?!
Estalajadeiro: Sim, vossas senhorias, que quererdes?
Eu: Tendes, por acaso, algum mouro que possamos esquartejar enquanto aguardamos pelo nosso mui merecido repasto?!
Estalajadeiro: Oh, sim, certamente, por quem sois! Tenho ali um encarcerado na despensa há duas semanas, só a pão e água. É de óptima qualidade, pronto para servir os mesteres de tão egrégios cavaleiros como vossas senhorias.
Eu: Muito bem, nobre irmão! Muito me agradam suas gentis palavras! Trazei, trazei então o sarraceno! E metei aí a televisão no Sporting, 'tá quase a começar o duelo com os infiéis lampiões.
Companheiros: ARGH! BUHHH! Lampiões, BUHHH! ARGH! BLUUUURGH!!!
Mas não, mais uma vez a Feira Medieval de Óbidos decidiu dar um pontapé na realidade e nem um mouro para esquartejar trouxe. Ao menos que pensassem num passatempo substituto: já que não se podia esquartejar mouros, ao menos pusessem lá um marroquino para levar pauladas. Nem isso...
Cheiro a bosta e a cadáveres em decomposição = ZERO!
Todos os que viveram na Idade Média ou, em alternativa, passaram por Sacavém, sabem perfeitamente que o cheiro era muito desagradável. Enfim, não havia higiene, casas de banho muito menos ("isso é uma merda inventada pelos romanos", diziam os mais fanáticos. "Cá nós cagamos nas calças"), as doenças proliferavam e os cadáveres amontoavam-se pelas ruas até que alguém os viesse recolher. Porém, julgam que era este o cenário em Óbidos?! O tanas! Tudo muito limpinho, tudo muito asseadinho, e quando procurei, através de um traque daqueles bem mandados, e com o cheirinho medieval que se exigia, conferir um pouco de autenticidade ao ambiente, o resultado foi infrutífero, tratou-se apenas de uma gota de água e ainda fui vilipendiado por um velho. É o que ganho por querer tornar as coisas mais realistas...
Padres a violar criancinhas = ... não, esperem, isto não é exclusivo da Idade Média.
Ok, foi só aquilo, então. No entanto, já dá para assacar da enorme decepção que constituiu a Feira Medieval de Óbidos...
Mas não são os assuntos pecuniários que traduzem a grande decepção que constitui uma feira medieval como a de Óbidos. Não! Na minha perspectiva, o que minou por completo este evento foi o seu irrealismo. É que se trata de propaganda enganosa. Senão, vejamos: o site esclarece que, e cito, "desde 2002 que Óbidos mergulha no tempo e a Vila transforma-se num verdadeiro palco da história" (podem ler mais aqui). Portanto, o visitante pode esperar uma reprodução quase verbatim daqueles tempos, certo?! ERRADO!!!! A feira medieval de Óbidos não reproduz os tempos medievais coisa nenhuma! Entre as várias falhas, destaco as seguintes:
Bruxas queimadas na Feira Medieval de Óbidos = ZERO!
Pá, então um tipo vai a uma feira medieval e não vê uma bruxa a ser esturricada?! Na Idade Média, de cinco em cinco minutos estava-se a fazer uma fogueira tipo as do Santo António mas com bruxas. E não foi por falta de matéria prima que a organização da feira de Óbidos não procedeu a uma queimada! Garanto que vi lá muita rapariga e muita senhora com todo o ar de bruxa. Custava muito terem agarrado numa - umazinha que fosse, vá! -, amarrá-la a um poste de madeira, colocar lenha à volta e atear fogo?! Isto era o espectáculo medieval por excelência, mas para a Feira Medieval de Óbidos, 'tá quieto...
Mouros esquartejados na Feira Medieval de Óbidos = ZERO!
Mais uma lacuna grave e inadmissível. Esquartejar mouros era o passatempo predilecto do cidadão medieval a partir da altura da reconquista cristã. Lembro-me perfeitamente da minha antiga encarnação enquanto cavaleiro cruzado... ah, aquilo é que eram tempos! No meu caminho para Jerusalém, fartei-me de esquartejar mouros. E quando eu e os meus companheiros invadimos a cidade, fartei-me de esquartejar mouros. E judeus. E cristãos. E estendais de roupa. Enfim, foi um fartote... Lembro-me também que, à vinda, parámos numa estalagem ali para os lados de Sevilha, e a conversa foi mais ou menos assim:
Eu: Boas noites, nobre estalajadeiro! Eu e os meus companheiros, com a vossa mercê, desejaríamos refrescarmo-nos e alimentarmo-nos.
Companheiros: ARGH! UARGH!
Estalajadeiro: Certamente, vossas senhorias.
Eu: Trazei então o leitão, vinho, cerveja e hidromel, para eu e os meus companheiros nos banquetearmos.
Companheiros: ARGH! HEYYYY! UARG!!! E os mouros, carago?!? Queremos mouros para esquartejar! ARGH! UARG! BLUUURGH!
Eu: Sim, suas best... ahm, sim, meus irmãos cruzados! Tendes razão. Nobre estalajadeiro? Nobre estalajadeiro?!
Estalajadeiro: Sim, vossas senhorias, que quererdes?
Eu: Tendes, por acaso, algum mouro que possamos esquartejar enquanto aguardamos pelo nosso mui merecido repasto?!
Estalajadeiro: Oh, sim, certamente, por quem sois! Tenho ali um encarcerado na despensa há duas semanas, só a pão e água. É de óptima qualidade, pronto para servir os mesteres de tão egrégios cavaleiros como vossas senhorias.
Eu: Muito bem, nobre irmão! Muito me agradam suas gentis palavras! Trazei, trazei então o sarraceno! E metei aí a televisão no Sporting, 'tá quase a começar o duelo com os infiéis lampiões.
Companheiros: ARGH! BUHHH! Lampiões, BUHHH! ARGH! BLUUUURGH!!!
Mas não, mais uma vez a Feira Medieval de Óbidos decidiu dar um pontapé na realidade e nem um mouro para esquartejar trouxe. Ao menos que pensassem num passatempo substituto: já que não se podia esquartejar mouros, ao menos pusessem lá um marroquino para levar pauladas. Nem isso...
Cheiro a bosta e a cadáveres em decomposição = ZERO!
Todos os que viveram na Idade Média ou, em alternativa, passaram por Sacavém, sabem perfeitamente que o cheiro era muito desagradável. Enfim, não havia higiene, casas de banho muito menos ("isso é uma merda inventada pelos romanos", diziam os mais fanáticos. "Cá nós cagamos nas calças"), as doenças proliferavam e os cadáveres amontoavam-se pelas ruas até que alguém os viesse recolher. Porém, julgam que era este o cenário em Óbidos?! O tanas! Tudo muito limpinho, tudo muito asseadinho, e quando procurei, através de um traque daqueles bem mandados, e com o cheirinho medieval que se exigia, conferir um pouco de autenticidade ao ambiente, o resultado foi infrutífero, tratou-se apenas de uma gota de água e ainda fui vilipendiado por um velho. É o que ganho por querer tornar as coisas mais realistas...
Padres a violar criancinhas = ... não, esperem, isto não é exclusivo da Idade Média.
Ok, foi só aquilo, então. No entanto, já dá para assacar da enorme decepção que constituiu a Feira Medieval de Óbidos...
1 comentário:
Eu gostei... quer dizer achei falta de uma execuçãozita ou outra mas gostei!
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