quarta-feira, julho 20, 2011

Vida de agricultor é difícil... (Carta Aberta à Assunção Cristas)

Gosto muito de rabanetes. Gosto mais de rabanetes do que gostaria de ler um livro sobre Física Quântica escrito pelo Anderson Polga. Mas, como de resto havia desabafado aqui, não é fácil encontrar rabanetes hoje em dia. E, quando se encontram, são pagos a preço de ouro, tipo meia dúzia de bolinhas = 3 €uros.

Consequentemente, resolvi apostar na produção caseira. Embora nunca tenha trabalhado na terra, supus que a genética, nestas merdas, ajudasse: o meu pai, em tempos, foi um horticultor de primeira água, portanto eu, sendo filho do meu pai, também deveria ter talento para estas coisas. Se pensam que eu estou a tirar conclusões precipitadas, e a depositar demasiada fé na genética, pensem nisto: o pai do Djaló não sabe jogar à bola, e o Djaló também não. Logo, ponto para a genética!

Portanto, comprei umas sementes de rabanete, um sacalhão de terra, um vaso, e fui plantar. Durante dias, reguei e tratei o terreno, regozijei com os primeiros rebentos, disse às gatas para passarem a 50 metros de distância da produção, falei com as folhas, afugentei os insectos, coloquei o vaso ao sol mas protegi-o do calor excessivo, tive mil e um cuidados ao ponto de, e cito a gaja, "tu tratas melhor as plantas do que me tratas a mim", e ontem, passados 33 dias desde que os semeei, chegou a altura da colheita.

E não vi nem um rabanete! Nem um, caraças. A rama estava linda, mas debaixo da terra só havia raízes finas, não o bolbo avermelhado e ligeiramente picante que tanto me delicia! Deste modo, só me resta apelar para o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (espero não me ter esquecido de nada. E, já agora, já repararam que esta designação dá, como acrónimo, uma coisa tão linda como MAMAOT?!?), e escrever uma carta à Assunção Cristas, porque não se admite que um produtor possa ficar sem a sua produção.

CARTA À MINISTRA DA AGRICULTURA, MAR, AMBIENTE E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO, OU SEJA, À GAJA DO MAMAOT

Prezada Sra. Dra. Ministra Assunção Cristas:

Recentemente, mostrando espírito de iniciativa e empreendedorismo, e respondendo também aos apelos de Sua Excelência, o Presidente da República, ou, como o trato cá em casa, "aquele palhaço", que quer ver o país virar-se mais para a Agricultura, decidi apostar no cultivo do rabanete (raphanus sativus). Onerando-me a mim e aos meus, investi forte no início, supondo que, passado algum tempo, poderia colher os frutos do meu trabalho.

Sucede, no entanto, que a única coisa que colhi foram pedaços de terra agarrados às raízes, nada mais. Todo o meu investimento foi, portanto, por água abaixo, ou pelo rabanete acima, como preferir. Daí escrever-lhe estas palavras, pois creio merecer ser ressarcido. Abaixo apresento as minhas contas:

1 saqueta de sementes = 0,90 €
1 saco de terra = 1 €
1 vaso = 7 €
1 pá = não foi preciso, reciclei uma que já tinha, mas se eu não tivesse era mais 1 €
Água para a rega = 10 € (cálculo feito por estimativa)
Dores nas costas = bués de €uros
Danos psicológicos por não ter colhido nem um rabanetezinho = bués de €uros

Total = 500.000 € (cálculo feito por estimativa)

Espero que a Sra. Ministra e o seu MAMAOT compreendam a minha situação e tratem de me reembolsar o mais celeremente possível. Muito obrigado.

Cordialmente, Atenciosamente, Com os Melhores Cumprimentos e essas patacoadas todas que se escrevem no final de uma missiva,
Peter of Pan

P.S.: Devo avisar a Sra. Ministra que, em todo o tempo dedicado às minhas funções hortículas, nunca usei fato nem gravata, respeitando portanto, avant la lettre, a mais recente medida do seu ministério. Que isto sirva de incentivo a colocarem-me o dinheiro na conta bancária. Fico a aguardar.

P.S. 2: Vá lá, confesse, Sra. Ministra: resolveu ficar com a tutela do Ordenamento do Território porque se quis esquivar ao acrónimo MAMA, não foi?!? No fundo, seria giro, um gajo qualquer que quisesse um subsídio, era só dizer "ah, vou ali pedir mama ao MAMA", ah ah ah. Vá lá, ria-se, rir não aumenta a conta da luz...

1 comentário:

Ilda disse...

És um nabo!!! Tá visto!