sexta-feira, outubro 07, 2005

Conversa pai-filho, autárquicas e dilemas!

Ontem, o meu pai surpreendeu-me deveras. À hora do jantar, saiu-se com esta: - "Filho, tenho algo para te contar. Já sei que não vais gostar, mas mesmo assim tenho de dizê-lo!".
Como calculam, tal proémio deixou-me chocado, expectante e com a pulsação a rondar os 200 por minuto. Automaticamente, pus-me a pensar (sim, de quando em vez também penso...): - "Mau, daqui não vem coisa boa! Se o velhote acha à partida que vou ficar desapontado, é porque o caso é grave. O que será? Vai ele revelar que é gay? Pior, que sempre foi do Benfica? Pior ainda, que vê no Peseiro um treinador superior ao Mourinho?".
Ou seja, a situação era angustiante, dir-se-ia mesmo que me conduzia ao desespero. Após uma pausa breve (cerca de 30 segundos), o cota lá rematou: - "Hoje, uns rapazitos do PSD vieram ter comigo para me oferecer uma t-shirt [leia-se "tí-chér-te", que é como o meu velho diz], uma bandeira e uma caneta. E eu aceitei!".
Pronto! Já estão a vislumbrar o resultado que estas palavras tiveram num apolítico/apartidário como eu. De facto, não estava minimamente preparado para um choque de tais proporções e natureza. Chego mesmo a duvidar que o susto dos nova-orleanenses?/orleaninos?/orleanianos?/orlenses? - daqueles tipos - quando viram a?/o? Katrina a chegar tenha sido tão grande quanto o meu. Porém, duas horas após esta triste notícia, e já despertado do estado catatónico a que ficara votado, comecei a cogitar:

1) Será de todo incorrecto aceitar algo de quem desprezamos, se esse algo nos agradar ou pelo menos nos fizer um jeitaço?
2) Se assim procedermos, até que ponto estaremos a vender-nos a nós próprios, aos nossos ideais e carácter?
3) E se nos vendermos, importar-nos-emos com isso?

Ou seja, estava perante um dilema. Ou, para ser mais preciso, um trilema (são três as alíneas, caso não tenham reparado...). Mas não me fiquei por aqui e fui ainda mais longe! Comecei a imaginar situações nas quais eu próprio (ó blasfémia) fosse posto em cheque. Situações onde coisas que abomino me possibilitariam coisas que desejo. Assim:

a) Se um norte-americano me oferecesse uma fotografia autografada pelo Bin Laden, aceitá-la-ia?
b) Se o Francisco Louçã me mostrasse o porfólio da Joana Amaral Dias, passaria a respeitá-lo enquanto político?
c) Se um portista apedrejasse o Dias da Cunha, fazendo ricochete na cabeça do José Peseiro, apertar-lhe-ia a mão?
d) Se o Carrilho produzisse um ensaio sobre a erscheinung dos seios da Bárbara Guimarães, começaria a votar PS?

O que pensam vocês disto? Comentem e partilhem situações-limite semelhantes!

Eterno Entorno

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