sábado, julho 30, 2005

Função e Estatuto Filosóficos da Asneira

Caros amigos, está na altura de retirarmos à asneira essa conotação pejorativa que detém no âmbito da discussão intelectual. Muito honestamente, sou da opinião que a asneira, vulgo "c*ralhada", possui características únicas, tornando-se indispensável numa conversa filosófica que se deseja produtiva. Diria mesmo mais: a asneira é, por mérito próprio, uma classe que contém, na sua essência, a filosofia. Justifico esta minha asserção com três argumentos:

1) Os termos que caem sob a designação de "asneira" são o menos crípticos possível. Isto significa que podem ser inteligidos por qualquer pessoa, não obstante o seu grau de instrução, classe/posição social, idade, localização geográfica, etc. O único requisito é que os interlocutores partilhem a mesma linguagem.

2) Uma asneira possui um referente facilmente reconhecível, pois está conotada a um objecto real. Tal equivale a afirmar uma quase absoluta identificação entre o mundo linguístico e o mundo das coisas concretas - aspecto nem sempre conseguido no domínio da filosofia. Recordar-se-ão certamente da célebre máxima medieval: "a verdade é a adequação entre o intelecto e a coisa"... pois bem, isto é o que sucede no caso da asneira.

3) Nenhuma outra palavra ou expressão tem a força catártica e purificadora que se encontra presente numa asneira. O próprio Hegel sabia-o, pois chegou por diversas vezes a mandar Schelling vsitar a casa do c*ralho. E sentia-se sempre bem após isso! Entre nós, Alberto João Jardim tem cultivado até à exaustão tal atitude, e tem sido tão purificado que se crê já ter atingido o nirvana. Ou seja, todos aqueles princípios ascéticos, preconizados por vários filósofos em ordem a alcançar a iluminação, não possuem de modo algum as qualidades de uma simples e eficaz asneira. Experimentem vocês próprios um regime de "f*da-se", "vai levar no c*", "p*ta que pariu". "estúpido do c*ralho" ou a muito heideggeriana "vai apanhar na abertura do ser, minha p*ta", entre outras, e verão como conseguem uma feliz união com o Todo.

Através destas três razões, espero ter conseguido tirar a asneira do ostracismo e incompreensão a que tem sido votada. Simultaneamente, procurei conferir-lhe o estatuto filosófico que tanto merece.
Mas, para aqueles que continuam com dúvidas (seus púdicos!!!), deixo aqui uma sugestão de leituras. São, todas elas, obras que cultivam uma impressionante filosofia da asneira:

Alberto João Jardim, Discursos
Carlos Reis; Maria Lúcia Lepecki, Asneiras São do C*ralho: o Caso da Língua Portuguesa
Catherine Clément, Le Concept de "Nique ta Mére" dans la Philosophie d'Expression Française
Fernando Rosas, História dos Comícios do Bloco de Esquerda para as Eleições Legislativas de 2005
Harold Bloom, A Study of the Word "Fuck" in the English Literature (XIXth-XXth Centuries)
João Vieira Pinto, Obras Completas
João Vieira Pinto; Ricardo Sá Pinto, Obras em Colaboração

Eterno Entorno

1 comentário:

Anónimo disse...

Falta:
-Valentim Loureiro em colaboração com M. Felgueiras, "Como f*der o povo, a lei, o partido e ainda sair a ganhar - Manual de F*dilhamento", PSD Edições